08 março 2007

Suportando Gente Insuportável

Existem inúmeros livros e artigos sobre como lidar com pessoas que você não gosta.
Nunca li nenhum, até porque acho irritante alguém querer ensinar coisas passo a passo, com "dicas"e provérbios com aquele tom determinista e politicamente correto.

Mas um dia desses alguém desabafava comigo que não suportava mais alguns colegas de faculdade, que eram pessoas fúteis, artificiais e hostis, que nunca deixavam ele falar nem o consideravam digno de atenção.
Eu então aconselhei "xingue-os em pensamento, crie apelidos pejorativos e guarde-os para si, depois você ainda vai rir da cara deles por mal saberem como você os despreza."
Meu amigo riu, disse que era uma boa idéia e não sei se ele usou e/ou funcionou.

O fato é que ao lidar com pessoas que você não gosta, você admite duas realidades:
1- você constata que existem pessoas que você não gosta!
2- você constata que não tem escolha a não ser conviver com elas.

Eu, que sempre me vangloriei por ser tolerante e gostar das pessoas em geral, fui vendo com o tempo que não é bem assim. À medida que você envelhece, tem frustrações, é traído, é enganado ou passado pra trás, você começa a perceber que não gosta de algumas pessoas.
E não tem a menor vontade de gostar delas.
Nem obrigação.
Não há mais a tia da escola dizendo "não pooode ficar de mal, todos têm que ser amiguiiiiiinhos", e obrigando você a apertar a mão e abraçar alguém que você há poucos instantes, na sua crueldade inocente de criança, queria que tivesse explodido no ar.

Se não vivêssemos em civilização, nem seguissémos códigos de conduta, poderíamos simplesmente nunca mais pisarmos de volta num lugar onde houvesse alguém que não gostamos, mas as regras sociais não nos permite.

E a lei de Murphy pode colaborar pra que, no seu trabalho por exemplo, a única pessoa que você acha chata ou maldosa seja exatamente a designada a dividir a sala ou a mesa com você.
Ou na faculdade, sobra essa malograda pessoa para você fazer aquele trabalho em dupla.

Na minha opinião, cada pessoa deve agir da maneira que quiser nessas situações. Eu observo que existem inúmeras reações a conviver com quem não se gosta.

Existem os que dizem "não tenho o direito de não gostar de alguém, são todos filhos de Deus como eu, blá blá blá, então vou me trabalhar pra aceitar e gostar dessa pessoa, afinal, ela deve ter coisas maravilhosas pra trocar comigo, que eu possa aprender, tenho certeza que por trás dessa casca repugnante existe uma pessoa afável e cheia de amizade pra dar."

Esse discurso é extremamente comum nos livros de auto-ajuda e religiosos e praticado por seguidores dessa ou daquela tendência.
Conheci alguns que professaram esse discurso, mas geralmente um dia eles explodem e querem agarrar a pessoa pela gola da camisa e dar uns tabefes bem fortes até sair sangue do ser que no fundo seria uma pessoa "afável".

Existem também os que dizem "eu não vou ganhar nada não gostando da pessoa, sei lá se mais adiante vou precisar dela , a vida dá voltas, se um dia eu precisar dela, vou me dar mal se expôr minha antipatia."
Parece um discurso extremamente materialista e egoísta, se está "aturando" alguém visando mais tarde uma recompensa. Quem age assim geralmente desenvolve alguma doença gastro-intestinal ou mesmo nervosa, pois muitas vezes a pessoa nunca precisa da outra e suportou tanta chatice à toa.
O mundo gira tanto que a vida afasta essa pessoa depois e você não teve oportunidade de demonstrar o quanto ela lhe desagradava.

Eu não sei que tipo eu me encaixo na hora de conviver com quem não gosto, mas acho que uma maneira muito honesta é : se houver razão pra você não gostar da pessoa (se ela tiver aprontado alguma e você perdeu a confiança que de repente você já nem tinha nela), não se anule.
Se não consegue perdoar, deixe claro que você não gosta dela, não com grosseria nem ironia nem nada que vá agredir a pessoa, mas um olhar frio, um tom de voz gelado e uma atitude de "que fique bem claro que não gosto de você" pode ser mais saudável pois você não será falso nem permitirá que a pessoa lhe chateie tentando se aproximar demais.
Você a estará respeitando e se respeitando mantendo distância pelo menos psicológica dela, se física não for realmente possível.

Se ela não lhe fez nada, acho que vale a pena dar um crédito, antipatia gratuita pode impedir que você amplie seus horizontes e conheça uma pessoa que lhe surpreenda. Mas claro, essa antipatia também pode servir de alerta, principalmente quando você tem um sexto sentido que meio que lhe mostra quem vai sacanear você no futuro, portanto, ter cuidado também não custa nada.
Você não precisa emprestar seu carro nem é obrigado a fazer um jantar e contar seus segredos a uma pessoa que você não simpatiza.

Ou... você pode agir da maneira que seu coração mandar, afinal quantas vezes a gente está tãããão preocupado em não machucar alguém, mas aí esse alguém vem e passa como um trator em cima de você sem o menor pudor.

Enfim, esse assunto rende muitas outras discussões, possibilidades e pontos de vista.
Mas o mais importante é ser honesto consigo mesmo: se você consegue virar o jogo e gostar de alguém que á primeira vista lhe dá náuseas, ótimo, parabéns, continue assim.
Mas se não, nada de hipocrisia e falsa benevolência, respeite seus limites e humanidades.
Ou pratique boxe e desenhe a cara do seu desafeto no saco antes de dar socos.