31 dezembro 2006

É Hora.


É a ultima sexta feira do ano.
É o último sábado do ano , meu Deus!
É a última manhã... é o último pôr do sol!
Esse período de 365 dias ou mais que delimitamos como um "bloco" de nossa vida.
Por que um novo ano é um novo ciclo?
Por que o ciclo não pode começar em agosto ou outubro?
Por que não dizemos em julho: "acho que agora vai!"?

Parece que entramos por uma porta: 2006.
Pronto, estamos dentro desse lugar que é 2006. Nosso hotel.
Aí viveremos algum tempo e no dia 31 de dezembro, deixaremos esse quarto de hotel para entrar em outro: 2007.
E na entrega da chave do nosso quarto, fazemos o balanço.
Foi boa a hospedagem?
_ Foi ótima! Arranjei emprego novo, comprei meu carro, namorei muito.. viajei.
ou:
_ Foi péssima... fiquei doente, desempregado, acabei meu namoro.. enfim.. espero que o próximo seja melhor.

E assim é.. queiramos ou não.. um ano novo é sempre um recomeço.
É a legitimação de "Pronto, vamos tentar mais uma vez."

A bandeira é verde e dá a largada: Se preparem pra percorrer um novo caminho.
Verde porque a esperança é a nossa bagagem.
Quem determinou que: "ano novo, vida nova"; tem suas razões.
É um renovar de esperanças, é um novo fôlego.
E se preparar pra tudo, afinal sabemos o que é essa vida.
Mas o bom é que sabemos que como passam-se os anos, passam-se certas dores.
Adeus dores velhas, que se curem as feridas.
Vamos caminhar.

E sorrir, chorar, brilhar os olhos, correr para um abraço, ver fotografias antigas, beijar no rosto, na boca, tomar banho de mar, de chuva, perder os óculos, o guarda chuva, pegar uma criança nos braços, guardar uma flor em um livro, sentir o coração de alguém batendo, ouvir a música, sonhar o sonho.
Viver, enfim.
Façamos ao entrar no quarto 2007.

E que seja uma hospedagem pra lá de feliz.

18 dezembro 2006

A Glória De Cair

Em dezembro de 1977, morria Clarice Lispector.
Parece-me que alguns blogers fizeram uma homenagem a ela, e eu também farei a minha:

"Nem todos chegam a fracassar porque é tão trabalhoso, é preciso antes subir penosamente até enfim atingir a altura de poder cair." (CL-A paixão segundo G.H.)

"E não tenho medo do fracasso. Que o fracasso me aniquile, quero a glória de cair."(CL -Água Viva)

Escolher algo de Clarice pra se falar é tarefa árdua. Escolhi essas duas citações que falam de "fracasso". Mas qual seria o verdadeiro fracasso?
Segundo o dicionário : "fracasso: 1.Ruína;desgraça 2. insucesso, mau êxito."

Penso que há o fracasso de não ter tentado, e o fracassar propriamente dito: tentar e não dar certo.
O fracasso de não tentar é a covardia, é o medo, é a mentira que disfarça em auto-proteção de quem diz: "não vou tentar porque sei que não vai dar certo; sou esperto."
Esperto? De espertos assim se fracassou o mundo.
Não amaram por medo, não falaram por medo, não viveram por medo.
Não tentaram por medo.

Porque quem somos nós pra sabermos o que é possível e o que não é?
Viver por acaso parece ser possível?
E no entanto, bem ou mal, se vive.

Como disse Clarice.
Fracassar não é pra todo mundo não.
Só para os corajosos.
Que sobem numa altura arriscada de se cair. Nessa subida e descida ele aprendeu muito.
Mais do que o covarde que não sobe um centímetro porque "não é possível, nem vou tentar".

Ao chegar lá em cima pode-se dar de cara com uma surpresa: o sucesso!
Mas há de se estar preparado para tudo. Também (principalmente) para o "insucesso, mau êxito".
Mas a subida para tudo prepara.
E a queda também.
Caso você despenque de algum lugar e alguém venha lhe dizer "Não falei?!"
Responda: "Caí porque subi, covarde."

Sofrer se vai de qualquer maneira.
Os que tentam e fracassam são devastados: "fracasso: ruína, desgraça".
Aniquilados.
Os que não tentam são ruínas por dentro, sofrem o fracasso de não ter coragem.

E assim muita coisa muda de figura.
Me vejo recompensado, meus fracassos não mais me tiram o sono.
Só me sentirei um fracassado quando eu disser a alguém: "Não vou te amar porque não tenho coragem".
Ou "Isso não é possível."

Viver não é possível, não sem amor nem prazer.
E não estou aqui, escrevendo em homenagem à Clarice Lispector!?

07 dezembro 2006

Fui Assaltado, Me Passa O Catchup?

Um amigo foi assaltado esses dias.
Levaram seu celular.
Quando eu disse "puxa vida, que coisa!", fui cortado por ele:
"Porque o espanto?? roubo é coisa simples, pra mim foi lucrativo..o celular era velho, o cara não me machucou nem me matou, e eu recuperei o chip...que mais posso querer?"
Eu podia responder "Não ser assaltado", mas não disse.

Essa postura me mostrou um "novo" tipo de ser humano: o que não tem a capacidade de se indignar com mais nada, o que não se sente mal por ter sido roubado, acha até "lucrativo." (!!!)
Ou será que meu amigo teve uma ponta de "Síndrome de Estocolmo"?
Do tipo: "o sequestrador era legal... ele me raptou, me ameaçava de morte, me deixou num lugar sujo cheio de ratos, mas não me batia, me dava comida , água e não me matou!! :)"

Será que hoje, somos gratos aos assaltantes se eles não nos machucarem?? SÓ roubarem?
Ou o brasileiro tem mesmo essa mentalidade de achar que os outros têm o direito de sacanearem ele? e ele tem a obrigação de ser sacaneado e não reclamar?

Quando expus meu ponto de vista, fui chamado por ele de hipócrita.
Sempre parece hipocrisia quando alguém tenta mostrar uma coisa simples que foi perdida.

Achar que ser roubado é uma coisa absurda, hoje é hipocrisia, afinal, todo dia milhões de pessoas são assaltadas a toda hora, portanto, se torna algo legal, legítimo, aceitável, normal e até esperado do dia-a-dia.
Quem vem roubar está cumprindo seu papel social de roubar e quem é roubado cumpre seu papel social de ser roubado.
Pronto.
É assim que tem que ser.
Se alguém diz "puxa vida!" está indo contra a lei natural (?) das coisas.

Bom, supõe-se que pessoas que saem sorrindo de um assalto então sejam pessoas COMPLETAMENTE desapegadas aos bens materiais...
Sei.
Quem é o hipócrita?
Talvez se eu tivesse muito dinheiro eu também não me importasse que roubassem meu celular velho.
Como eu não tenho, se me roubarem, entrego meu celular na hora, mas não vou sair dizendo "ai que bom, roubaram meu celular velho, vou comprar outro novo agora... "
E quanto ao desgaste emocional de se ser assaltado?
Perguntei ao meu amigo como ele podia dizer que o assalto foi "lucrativo" se houve o desgaste emocional de se ser abordado dessa maneira.
Ele disse que não houve esse desgaste, e mais uma vez me repreendeu que isso acontecia sempre, e que eu estava sendo hipócrita com história de desgaste emocional...

Talvez seja esse mesmo meu problema... não me conformo quando roubam meu celular, meu lanche na escola e meu amor, quando tiram meu direito, quando me maltratam.
Talvez eu deva perdoar quem faz isso e agradecer porque não faz pior.
Talvez o ideal seja se juntar a essa massa apática, alienada e conformista que se diminui enquanto ser humano e não tem a menor coerência no agir e só formam suas idéias baseadas nos seus próprios interesses.
Se eu já faço parte dela, eu deveria estar mais confortável.

Gostaria que os assaltantes por favor só roubassem pessoas como o meu amigo, que não se importam e não se desgastam com uma arma apontada pra eles.
Eu hein.

02 dezembro 2006

"É O Começo Do Fim"

"Ou é o fim".
Começou a acabar o ano.
Daqui a menos de um mês terei outra idade.
Dizem que "ano novo, vida nova"
Mesmo já tão perto de 2007, ainda não quero falar disso.
E sim do hoje.
Porque é hoje que eu ando pra lá e pra cá com um incômodo.
O que há pra se fazer hoje? o que sentir?
Uma sensação de perda... de vazio.
Mas não aquele torturante que provoca lágrimas e gritos.
Mas uma anestesia, um entorpecimento.
Sim, é isso.. estou entorpecido.
Porém lúcido, mas é uma coisa de corpo e alma, não de mente.
Sabe quando nada importa realmente?
Quando tudo que você sente vontade é franzir a bochecha num gesto de menosprezo?
Tipo: "ah sei lá, que seja assim.."
Sabe, porque viver cansa demais.
E sempre as mesmas caras lhe dizendo que não, e a mesma cidade estéril lhe dizendo que nunca, as mesmas incompetências e incapacidades...
As mesmas almas carentes de nobreza.
E a gente tem que estudar, trabalhar, comer bem, emagrecer, engordar, pagar dívidas, não fazer novas dívidas. Não importa como está nosso coração, nossa alma e se dormimos bem à noite.
Os compromissos gritam inclementes por nós.
E eu grito inclemente por alguém que não me dá ouvidos.
Se eu fosse uma dívida, eu seria atendido.
Mas pelo que andei vendo, não viemos ao mundo para sermos atendidos nos nossos gritos inclementes.
Por isso nem grito mais, só digo "ah sei lá... que seja assim..."
Porque me sentei um pouco pra descansar, são 20 e tantos anos em pé, na luta.
Me sinto uma empresa falida.
Sem Lucros.
Mas pra calar a boca dos que me acusam de não ter resistência, ainda estou funcionando, só fechado um pouco porque é final de semana, a empresa não abre (tampouco fatura).
Meu grito de guerra ultimamente é um bocejo enfadado.
Oaaahhhhhh, na cara de quem merece.
Me dou o direito de fechar a porta na cara de algumas pessoas que não merecem ser levadas a sério, nem ouvidas nem consideradas. Fecho a porta, sorrio e bocejo de novo.
Já já me levanto, vem um novo ano aí... é pra ser um bom motivo né?
O dever me chama, e eu tenho que atendê-lo.
Se eu fosse o dever, eu seria atendido.
Mas não sou dívida, nem empregos, nem estudos nem o dever.
Fecham a porta na minha cara, não me consideram e bocejam pra mim.
Foi aí que aprendi.
Tem gente que merece as dívidas que tem.