31 dezembro 2011

No Patamar


Estou transparente de cores neutras
Esperando, esperando...

Minha cabeça repousa sobre travesseiros, olho horizontes inventados
E tranquilissimos, onde me vejo distante, sumindo em dunas.

Para esse novo agora, quebro copos cristalinos, puros
Quebrando purezas sou mais eu.

Mergulhando, mergulhando

Subo á tona, as luzes me guiam
Luz de um sol artificial

Encontro você, água salgada em torno
Braços que nunca vi, sorriso que imagino todo dia
A cor dos teus cabelos, invento
A voz também, escuto de tanto que acredito.

Novo dia, ano novo
Eu ganho um sinal no rosto daqui a pouco
Sinais, sinais, e eu sonhando

Você vem?
Já te esperei tanto, tanto...
Mas... minha função é te esperar mais.

14 outubro 2011

Justificativas

Só tenho a dizer que:
Todo dia em que corro
Não é para teus braços
Nem para os braços de ninguém.

Sempre que sonho
Não é com você
Nem com ninguém.

Sempre que canto
Não fala de você a música
Nem ninguem a letra contempla

Toda manhã que sorrio
Não é para nenhum espectador
Nem existe platéia

Toda noite quando amo
Não amo você
Nem ninguém mais

Só vivo pela surpresa
De encontrar contentamento no que não me entrego.

Pois nas raras vezes que desacredito e me visto de cinza
É por você
Esse ninguém que eu conheço tão bem.

03 outubro 2011

O Mais Forte

Sonhei que eu caminhava por entre ruas brancas, onde tudo era desta cor.
Uma coisa branca, uma luz, um vazio branco enorme
Tomando conta de tudo.
Nada parecido com a paz sonhada buscada e semeada.

Eu andava e nada via na paisagem a não ser o vazio branco.
Nada de vultos familiares, nada de casas, árvores, nada que significasse aconchego e proteção.

Não sentia cansaço, nem fome, nem sede, nem vontade de falar, cantar nem gritar.
Não sentia vontade de correr nem de descansar.
Não sentia amor nem ódio.
Nem alegria nem tristeza.

O inferno é que tudo era branco e vazio.

O que eu sentia era uma sensação nunca experimentada antes, que eu chamei de "Não-Paz"
Tudo maiúsculo porque era uma nova não-paz, diferente das outras que a gente se desespera, etc.

Eu caminhava distâncias imensas e ao mesmo tempo tudo era igual.
Não sentia vontade de continuar caminhando.
mas porque então, eu caminhava?

Eu não sentia saber de nada. nem gosto, nem desgosto.
Era como se o branco fosse preto, escuridão, treva.. mas não era isso.
Isso é familiar, confortável até.

O branco era impiedoso, eu não enxergava porque não havia o que ver.
"Morri" eu pensei no sonho.

Meus amigos, venham se despedir de mim. Mesmo que eu acorde, terei morrido depois de todo esse branco.

Mas não: aquilo não era o céu nem o inferno, e tampouco era o Nada.

Aquilo era, ao contrário, Tudo. Tudo que existe, aquilo era o mundo, as pessoas, os amigos, os familiares, aquilo era a árvore, o carro e a poluição, aquilo era a criança mais doce e era o adulto mais cruel, aquilo era eu e todo o amor, ódio, mágoa, tristeza, esperança e tudo que eu sentia.

A Não-Paz era porque eu não sonhava, eu vivia mesmo aquilo.
Diante de uma tela branca, o vazio branco.
E eu, sem paz, sem vida, em frente.

Jogando nos dedos os últimos resquícios de força e vigor.
Os dedos se salvaram.
A boca verte um líquido preto e amargo.
Os olhos são vidros.
O sangue secou, fugiu como vapor.
O coração encolheu e sumiu.
A alma fez as malas e viajou como uma covarde.
O corpo é um resto facilmente dobrável.
O espírito chora rios e mares salgados e sem peixes.

05 setembro 2011

Bruxos


Temos boas intenções, somos solidários, muitos de nós choramos quando vemos a delicadeza, o milagre ou mesmo a dor nossa refletida em alguém.
Porque sempre nos comove a dor alheia mais que a nossa,
Deve ser por causa do nosso orgulho.
Sei lá.

Hoje estou só pra suspeitar das coisas.

Porém
Eu e você somos chamados de amargos, mal humorados, intolerantes, ácidos, sarcásticos, chatos.
Nossa energia é pesada? Escura? Negativa?
Deve ser. Pode Ser.

Uma frágil defesa: somos infelizes.
Sonhamos mil castelos e todos desabaram, os de areia e os de pedra.
Nosso choro ao deitar e olhar o teto acumula uma cor cinza em nossos olhos que continua de manhã quando acordamos.
Não nos culpe, não nos hostilize.

Um dia, alguém apagou a luz na nossa cara e nossa voz se tornou rouca pra sempre.
Olha nossa solidão: palpável.

Na primavera, geralmente sorrimos, amamos a natureza, estamos ligados ao cosmos de maneira tão selvagem e desarvoradamente feliz.
Prove nossa energia então, ela será leve, clara, positiva.

Não nos culpe, não nos tenha piedade tampouco.
Somos vítimas apenas de nós mesmos.
Dos nossos sonhos de gente sem juízo, da nossa criança que não cresceu e hoje nos faz meter o dedo em tomadas, tomar banhos de chuva e ganhar resfriados incuráveis.

A maldade da criança.
É a nossa.
Nada justifica, talvez sequer explique.

Mas o direito de ser ainda temos.
E por ele ainda teimamos em nossos castelos.
Quem sabe um deles, do mais frágil material, o amor, sobreviva e nós também sobrevivamos dentro dele.

15 agosto 2011

Chuva Ácida



As ruas que ficam úmidas depois da chuva
Aquela chuva fina, que cai com jeito, respeitando o concreto

Sou assim
Resisto a chuvas torrenciais mas não sei lidar com a garoa

Tenho meu modo de fechar os olhos e não ver algumas luzes que ofuscam
E sei a hora de abrir , quando for escuro
Alguns bichos enxergam nas trevas - eu sou um cego em paz.

Alguns dias na vida a gente se levanta robótico da cama e vai cumprir a ordem da vida maquinal
Pois também a gente se deita sem sono, o corpo não se acomoda, apenas as engrenagens estão desgastadas, precisam parar.

E as chuvas só pioram a situação.

Eu (essa palavra minúscula que comanda os nossos amores e ódios, decepções e esperanças) vou dormir mesmo sem sono, sem escuro, sem esperança e sem barulho de chuva.

05 agosto 2011

Vivendo Amando




Viver amando é uma escada para baixo
A gente desce, um degrau de cada vez, e olha pra cima pensando se volta ou continua.

De nada porém, adianta nossa vontade
É um movimento irresistível: uma folha seca no chão não tem a opção de não voar quando sopra um vento forte.

Viver amando é hoje termos mãos hábeis que costuram um difícil retalho.
Sair juntando tudo que combina e o que não combina e abrir mão do gosto e tecer um pano que não será como queríamos.

Viver amando é amanhã o pano ficar incompleto, rasgar, os retalhos acabarem bem na hora que a gente está gostando do desenho.

Viver amando é empurrar nosso amor num balanço de parque
Vai e vem, vai e vem.


O vai é num empurrão nosso, o vem é uma cuidadosa acolhida.
Viver amando é não machucar o nosso amor quando ele volta.

Viver amando é ver nosso amor ir ali
E otimistas, esperarmos sua volta, embora ninguém a tenha garantido.

É numa noite antes de dormir, sorrir com lágrimas brilhando lá por dentro dos olhos, sendo formadas ainda nos canais.
E noutra elas destilarem como rios, molhando rosto, queixo, fazendo os lábios tremerem e a respiração acabar.
Uma lágrima que chega ao queixo é como o final da humanidade.

Viver amando é não viver constante: é a vida subdividida em segundos, um metrônomo impiedoso.
Viver amando é um sacerdócio não-religioso: é carne contra carne, os espíritos adormecidos, ingênuos do terror do suor e do sangue.

Viver é por si só uma tarefa árdua.
Amar é uma distração que toma todo o nosso tempo.

Olhando os pés, as mãos, os olhos do nosso amor
Não vemos quando nós mesmos esmaecemos, o corpo sublimando, ficamos inaudíveis, sem forma, translúcidos
Finalmente nosso vapor se misturando às nuvens


E seguimos, nosso espírito dormente.

09 julho 2011

Ruído Branco




Quando a gente não tem um amor na garagem
Um carro esperando a gente na cama
Uma casa pra pular no nosso colo
Nem filhos bem localizados

A gente não se sente desse mundo.

Vivo querendo encontrar uma posição melhor pra dormir
Descobrir os dentes mais fortes, pra mastigarem os pedaços mais duros

Vaidade de vaidades, diz na Bíblia, tudo é vaidade.

E na austera simplicidade de existir, sem nada, sem chão, sem céu
A gente está fincado nesse mundo, como uma cerca clandestina


Acordei de um sono de cem anos, e descobri que o mundo tem apenas uma hora de existência
As pessoas não sabem me informar as horas, e eu nunca vou saber como fazer pra encontrar o que é vaidade.

As noites, mortas, não há ninguém na rua
O dia trará uma luz branca que não responderá nenhuma das minhas dúvidas.

Queria tirar pelo menos uma:
"Até quando?"

24 abril 2011

Aos Meus Pequenos



Mãos pequenas
Maos de chocolate, mãos de neve
São comoventes os dedos curtos,como sinais
De eternas crianças

Cada passo é um aperto no peito
Ruas escuras, o mundo sabe deles agora
"Deus proteja", "Deus guarde"
Mil recomendações.

Olhinhos tristes, todos tem.
Coincidencia.

Na sua calma e melancolia
Na sua sinceridade e vaidade
No seu atrevimento e doçura
Estão escritos os futuros

Teus, meu.

Não quero ler, porque Deus dá o frio conforme o cobertor não é?
Não quero ler, nem saber, nem supor, muito menos prever.

Quero silenciosamente, longe de suas vistas, inventar preces e preces
A toda natureza da vida, a Deus, e aos homens
Pra todo segundo de vida ser feliz.

Tanta felicidade que nem seja justa.
Infeliz amor até a alma
Cisma o cosmos de ser justo nessa hora
Mais preces, mais preces.

Amo tanto que reverbera no infinito.

22 abril 2011

Estufa

Verbos, conjunções astrais
o céu anda vermelho, amorzinho, é sinal de chuva
Ou não?

Se for me avisa, que corro a tirar minhas roupas do varal
Se for chuva me diz!
Você sabe o pavor que tenho dos trovões e relâmpagos
Som de um, luz de outro

Quero o silêncio escuro, pra lembrar quando eu estava no útero.

Se você for se derramar sobre mim, me avisa antes
Tenho muitos guarda-chuvas em casa, de todas as cores
Eu usarei o azul, porque é a cor que me persegue

Se você, amorzinho, não chover e virar seca, com cactos cenográficos
Me avisa também, porque eu viro retirante, fugindo em busca de água

Me avisa de tudo, porque você sabe que não sou satisfeito com nada
Pra tudo tenho que me preparar.

Substâncias, substantivos
Eu sempre durmo com copo d'água do lado.
Haja o que houver, amorzinho, você sabe
Eu não morro de sede.

13 abril 2011

Andante


Passos apressados
Depois esses pés desabam numa grande e larga cama
lençóis e travesseiros se sacodem com seu corpo

(ele não sabe as horas ainda)

No rádio, "she's leaving home" baixinho
Ele olha pela janela, chove

Ele irá sonhar com carrosséis, sempre sonha
Contar carneirinhos, que pulam e sorriem pra ele

Depois tudo é rotina, o dia, a noite
E a tarde, aquelas horas que ele se descobre vivo, muito vivo
E sozinho.

Violinos anunciam que ele também irá sair de casa, bye-bye.
Ele flutua, não mais passos apressados
Não tem asas, sua maior frustração

Seus dedos riscam o ar, desenhando uma conta matemática
Sua mente longe dali, não calcula mais nada
Nem distâncias, nem medo, não mede nem é medido

Só sorri com toda lucidez que reúne em seu dia cheio de sol e chuva
Não é suficiente, mas ele só precisa de uma pequena e boa lembrança

Ouve os violinos de novo, mas tão longe
salta de sua nuvem e a cidade o engole.

04 abril 2011

Interruptor.


Funciono num circuito:
Sinto, aí escuto uma música, bebo água, paro, me encolho um pouco, e escrevo.

É químico, mecânico, elétrico, esse ato de escrever-dormir-viver amanhã.

Hoje você foi só alguém no meio do jardim
A multidão engolindo teu rosto pálido e brilhante

O que quero mesmo é a liberdade de antes
Pássaro que vive sem dono, sem deus.

Não chorar no ombro de ninguém, mas por isso mesmo, não chorar.
Dormir a vida inteira e acordar pra morrer, feliz.

Se é pra ser azul, que seja um tom tão escuro quanto o começo da noite.
Conforto.
Saber da noite, saber da morte.
Ignorar quem seja o amor, ou seus predicados.
E sem saber da vida, viver.

Te peço, amigo, que apagues a luz dos meus olhos, os ladrões pensarão que a casa está vazia e virão.

23 março 2011

Suspense

Às vezes fico aqui, paradinho, brincando de estátua
No escuro, com a respiração presa.

Porque espero passar.
A dor, o ônibus, os homens.

Chamo de pausas. Aquele silêncio que vem depois de uma má notícia.
Tenho muito disso.

Prefiro levitar alguns segundos, me ausentar da vida, como um botão de off.

Medo de ser julgado, medo de assustar alguém com barulho, medo de ser visto pelo cão raivoso.

Mas principalmente porque quero preservar uma florzinha toda frágil feita de poeira.
Ela é um amor que tenho não sei de onde, nem porque, nem por quem, nem como sobrevive aos furacões que faço no chão quando ando.

19 março 2011

Apenas Você



Gota a gota
Chuva de espinhos
Cristais que quebram em minha testa

Água, sangue, lágrimas
Tudo chove em mim

A lembrança de tua voz, cheiro e cabelos, me tangem como um violino triste, agudo de morte.
Dores, calafrios subindo.

Você tem a mania de olhar para o pôr do sol e sorrir pensativamente
Eu nas sombras, observo e choro, distante e suspenso

Flechas e flechas de amor e dor me atingindo nos órgaos vitais
De índios, não de cupidos.

Quando você se volta, me vê inteiro e banhado de azul da recém noite
E você ainda conserva a luz amarela do sol, ele lhe deu esse presente.
Nós dois, azul e amarelo, sombra e luz.

Quando eu te conheci, eu andava num ritmo cadente, levando livros na mão
De noite, abria minha janela e olhava a única estrela não encoberta de fumaça e luz artificial e inventava minha própria história de amor.

Na manhã seguinte, você me fazia rir com gosto, fechando meus olhos, que são grandes, criando covinhas e eu sendo gracioso por uns instantes.
Eu gargalhava o dia todo, abotoando com carinho algum botão da minha ou da sua roupa.

Mas eu sabia porque nasci sentindo as coisas fatais
Que me fazendo rir uma ultima vez, você ligaria o motor e partiria rapidamente, cabelos ao vento
E eu equilibraria no olho a lágrima.

E voltaria à realidade onde nem palhaços me fazem sorrir e às minhas histórias cada vez mais repetitivas e doentes sobre amor, janelas, única estrela e solidão.

Até que finalmente eu me renderia à mais mortal das certezas:
A dúvida se amanhã você viria me fazer rir ou chorar, não importava.
Contanto que viesse.

Você ou outra pessoa que me fizesse perder o gosto por histórias
E ser alguém feliz e sem imaginação.
Esse é meu sonho.

09 março 2011

Dúvida.


Trago comigo todos os fantasmas que me assombram no decorrer do ano
Transformo em palavras o barulho das correntes que arrastam

Tenho vontade de sair simplificando o mundo, desbaratando os ecossistemas
Como alguém que tenta arrumar sua bagunça e destrói uma obra-prima
Isso tudo é porque: sou ser em conflito
Quero levantar questões e depois silenciar os protestos, pedindo paz.

Na verdade,
Acho tristes os homens muito belos
E as mulheres, o modo como falam com seus amores.

Sou desconfiado com os poetas ditos atormentados
Porque minha normalidade é tão serena que quero explodir vez em quando

Em anos ímpares, quando o amor não rege minha ordem natural das coisas, fico assim.
Desapercebido, bobo, alerta no momento errado.

Me calo quando alguém diz "a idade chegando"
Ou
"O tempo voa".
Me calo magoadíssimo com esse diluir de anos, essa roda viva.
Baixo os olhos, cínico e inconformado.
Mas incapaz de gritar, ou de rejuvenescer.

Transbordo de perguntas, a principal delas diz respeito ao amanhã:

O que vou fazer caso meu conflito acabe, antes mesmo de eu terminar de inventa-lo?

12 fevereiro 2011

O Gato

Olha só o que me trouxeram os novos dias do calendário.
Tem um bicho aqui em casa agora, e eu sempre tive medo de animais.

Essa vida de hoje é mais realidade, um conceito de "ganha-pão" exigindo que eu crie teorias.

Agora que resolvi musicalizar mais ainda minha vida, meu interior anda silencioso, pausas e mais pausas.
A palavra pausa me lembra paz.

Amorzinho é coisa do passado, paixãozinha, chorinho, agora é ler outro script.

Dia desses, gritei porque um gato (branco mesmo) ficou parado no meu caminho, e eu, como disse, tenho medo.
Gritei "sai! sai!" e ele lá parado, me olhando.
Não saiu, e sei que foi de propósito e eu não venci o medo, fui por outro caminho.

Agora faço assim: quando eu quero vou por aqui, quando não, vou por ali, se nada der certo, espero um pouco. Se tiver coragem, grito mais alto e parto pra cima.

Antes eu só chorava.
Olha só o que me trouxeram os velhos dias!

01 janeiro 2011

Aniversário.

Luzes, muitas luzes

Não vi fogos dessa vez.
Sem pirotecnia.

Só uma prece, humilde e dorida, à meia noite.

Abraços, beijos, brindes.

Tudo e um dia curto de silêncio e paisagem.

Deitando mais cedo hoje, para concordar com o mundo.

Amanhã o novo começa de novo.