19 julho 2012

Esperança de Vingança


Um leão doente
Tiraram a carne de perto e não tenho forças para reagir
Eu poderia derrubar o mundo com meu grito
Mas souberam como atingir minha voz.

Tiraram a vasilha com comida

Que passava entre as grades todo dia
E eu com mãos cegas recolhia até meu catre
Onde sacro e reverente eu devorava tudo


Tiraram minha ducha diária
Ao sol, no rio, meus pés nas pedras
Agora nada de água
Tudo muito seco, para eu quebrar mais rápido


Tirei de mim mesmo portanto
As dolorosas lembranças
Sem substituições, apenas amnésia
Como a pessoa sem passado que acorda de um coma


Ai, agonia maldita
Bato o pé no chão de revolta
Mais uma parte que se quebra
O Grande Dia quando será?


Poderei cuspir pra cima
E nas mãos que me retiram as coisas.


18 julho 2012

Volvendo.

Imagina só o tamanho do absurdo.
Fui muito longe colher frutos.
Ficou escuro na volta e me perdi.

Esse caminho que eu conheço tão bem
Pois já me perdi nele tantas vezes
É tão o mesmo , mas eu sou outro.

Minha nova memória falha
Minhas mágoas novinhas em folha
Não tem nenhum registro 
Nada, só o papel branco.

Fui pego de surpresa e apenas ri.
Como Sara, da Bíblia:
Imagino o anjo dizendo "vais ter um filho!"
Ela, com noventa e tantos anos
Riu.

Milagres passam direto
Flechas invisíveis
Portanto, nenhum amor do meu ventre renascerá
Anjos e demônios, me esqueçam.

Quando sinto dor, tomo analgésico
O médico passou, mas eu tomaria mesmo que ele proibisse.
Pois quando me perco no meio da plantação e a luz acende e estou diante de você:
Cheirando a passado, com os olhos de quem conquista sem saber, e com voz de (minha) morte
Eu rio, tomo remédio que só eu sei, fabricação própria, e procuro o interruptor que deve haver em alguma parede.

No escuro eu enxergo tudo.