30 junho 2006

Nem Todos Serão Felizes

Ficção:

João e Maria se amavam, mas o pai dele, a mãe dela, o irmão dele, a prima dela, o avô dele e a arrumadeira dela eram contra o romance e tentaram impedir que ficassem juntos.
Aliás, ninguém os queria juntos, nem os amigos.

Chamaram Matilde, muito mais bonita que Maria, e a apresentaram a João.
Ele viu que de fato ela era mais bonita que Maria, mas Maria tinha a alma mais pura, era inteligente e ele a amava afinal de contas, então ele não quis Matilde.

Trouxeram Joaquim , mais bonito que João, e ainda por cima, era rico, e o apresentaram à Maria.
Maria percebeu que ele tinha muito dinheiro, e também era desejado por todas as suas amigas...mas João era mais divertido, a fazia rir, entendia o que ela falava e tinha personalidade forte, e ela também o amava.
Mandou Joaquim ir passear.

João e Maria deram as mãos e foram enfrentar a família , os amigos e agregados que os queriam separados. Os vilões inventaram mentiras, calúnias, forjaram situações para um ter raiva do outro.
Nada adiantou, eles descobriram as mentiras, desconfiaram dos planos e tudo foi desmascarados.
Os inimigos do amor dos dois desistiram e foram embora, viram que Paulo e Carolina estavam rindo muito um pro outro e resolveram que iam ser contra os dois, tinha mais futuro.

João e Maria então, se beijaram e foram muito, mas muito felizes juntos.

Realidade:

João e Maria se amavam, mas o pai dele, a mãe dela, o irmão dele, a prima dela, o avô dele e a arrumadeira dela eram contra o romance e tentaram impedir que ficassem juntos.
Aliás, ninguém os queria juntos, nem os amigos.


Chamaram Matilde, muito mais bonita que Maria, e a apresentaram a João.
Ele viu que de fato ela era mais bonita que Maria, mas Maria tinha a alma mais pura, era inteligente e ele a amava afinal de contas...
Mas percebeu também que na verdade o que ele queria era uma mulher bonita e não uma alma pura e inteligente.
Viu também que na verdade nem amava Maria, pelo contrário, ele já tinha era repulsa por ela.
Deu um chute em Maria e casou com Matilde.


Onde está Maria??
Casando-se com Joaquim, afinal ela entendeu que procurava por alguém rico e que matasse de inveja suas amigas. João era divertido, mas quando ela quisesse rir, iria ao circo.

E onde está o amor dos dois???
Está nos livros de histórias infantis, nas comédias românticas de Holywood e no coração de pessoas como eu e você.

Que perigo nós corremos não é?
Amar nessa selva é pedir pra morrer de dor.

27 junho 2006

Um Carinho Em Quem Merece


Hoje estive com dois amigos que se revelaram duas excelentes surpresas no meu dia de segunda-feira e claro, na minha vida.
Pessoas certas não apenas na hora certa, pois pra elas não há hora errada.

Então penso em todos os meus amigos.
Tenho alguns que estão por perto desde quando éramos crianças, e outros que apareceram por agora, mas que vieram pra ficar.

O que é se ter amigos? alguém sabe explicar?
É uma extensão de si mesmo?
Meus amigos serão versões diferentes de mim? Em vários modelos, tamanhos, cores e idéias?

Não, eles são bons demais pra serem minhas versões.
São todos muito eles, originais, mas tão familiares...

Pessoas belas, lindas.
Exercito com elas o amor, amor esse que em outras áreas foi sufocado.

Mas às vezes amo em silêncio, como quem não quer acordar a criança que dorme linda, ou não quer espantar o passarinho que pousou, raro e delicado, na nossa janela.

Então pronto, a amizade é rara e delicada.
É estranho falar de raridade quando vêm tantos nomes ao meu pensamento, de amigos.
Mas falo porque com meus amigos aprendi a me permitir falar e fazer.

Por isso tenho certeza, se me faltam muitas coisas , me sobram amigos.
Esses dois de hoje e aqueles da infãncia igualmente me fazem uma pessoa melhor.
Não falarei de defeitos aqui hoje.
A imperfeição deles me fascina.

É simples, o prazer de se perceber que se tem amigos mais do que a maioria das pessoas têm, me faz sentir uma espécie de privilegiado.
Não se enganem, não falo de colegas, nem de conhecidos, são pessoas que não são superficiais nas suas relações, antes, são profundas.

Queridas e queridos, vocês são responsáveis por lágrimas de felicidade terem rolado, e por outras de tristeza terem secado em meus olhos antes de molharem meu rosto, quando eu simplesmente lembrei que vocês existem.

25 junho 2006

São Pessoas Lá Fora.

Viver numa cidade grande é viver diferente.
Nem sei se é viver ou sobreviver.
O fato é que às vezes se perde a noção de humanidade.

Um dia desses, no ônibus, um daqueles garotos que vendem bala de gengibre subiu.
Era a milésima vez em uma semana.
Ele começou a falar: "peço um minuto da sua atenção, eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas não, estou aqui vendendo balas de gengibre com canela.."
Eu já me preparava pra virar o rosto pra janela, como já era hábito e como também estavam fazendo os outros 40 passageiros do ônibus.

Mas..
O menino estava falando comigo!
É como se ele dissesse : "Carlos, peço um minuto da sua atenção, eu podia estar matando.."

Eu não tinha dinheiro, e nem gosto de bala de gengibre, mas tive que olhar para ele e ouvir tudo que ele tinha a dizer.
Quando ele terminou foi passando pelos bancos e eu neguei a balinha com a cabeça.

Outro dia, passando com um amigo na rua, um mendigo, naquela situação bem típica de mendigos (sujo, bêbado, maltrapilho), nos chama : "ei, jovens."
Meu amigo continuou andando, como sempre eu também fazia.
Mas eu parei.
Eu sabia que ele ia me pedir dinheiro, e eu sabia que eu também não tinha (sim, eu nunca tenho).
Mas tive que ficar parado em frente ao mendigo escutando o que ele tinha pra me dizer.
Meu amigo ia na frente e quando notou que eu parei olhou pra mim espantado, com expressão de "por que você está ouvindo o mendigo???"
Lógico, quando ele temrinou de pedir os 0,50 centavos, eu disse "perdão,não tenho."
Acenei com a cabeça bem rápido e continuei. Meu amigo ria de mim.

E eu agora sou assim...
Uma amiga comentou "ei, percebi que os garis que recolhem o lixo na minha porta todo dia têm um rosto!"
E assim vamos percebendo que são pessoas, e nós aprendemos que quando alguém fala com a gente, o mínimo que devemos fazer é escutar.
E eu me pergunto: "pra quê?"

Isso não deve ter o menor efeito.
A minha mesma amiga me explicou: "pode não ter pra eles, mas nós nos sentimos melhor".

Que tal? detrás da minha "nobreza" de olhar pro vendedor de balinha, há o egoísmo de eu não me sentir desumano ou mal-educado.
O que nós fazemos que não seja por egoísmo?

Realmente, efeito não deve ter... mas é uma percepção inegável: "alguém me chamou e quer me falar algo!"
Algo que eu já sei, que eu não vou poder ajudar.
Mas ignorar?
Não sei nem se consigo mais.

Mas continuo me perguntando:
É hipocrisia minha?
Ou é puro egoísmo?

Mas nada muda na minha cabeça o fato de que , quando alguém, que nasceu de uma mulher, que respira, pensa e tem uma personalidade, chega e diz "por favor, um minuto da sua atenção" eu não deva virar o rosto e fingir que não ouvi.
Pelo menos dizer "não, não dou" eu sinto vontade de dizer!
Mas às vezes isso me soa incoerente.
Chegamos ao ponto de discutir se é coerente prestar atenção a pessoas que viraram "semi-humanos" na nossa percepção só porque pertencem a uma "classe social inferior".

É confuso e triste,não acham?

Mas já posso até ouvir os comentários:
"_Ah,tenho um amigo que toda vida pára e ouve o que os mendigos vão pedir, mesmo que ele não tenha nada pra dar!"
"_Kkkkkkkkk, quero ver no dia que ele for assaltado!"

Puxa, como é desconfortável sair de casa às vezes.

23 junho 2006

A Fera E O Belo


Adoro gostar do que é feio.

Mas, ultimamente , tenho me irritado com defeitos.
Os meus defeitos, das pessoas e das coisas.
Me martirizo porque rejeito a afeição ao belo somente.
Ao útil, ao perfeito e ao harmônico.

É uma pena, porque...
Quero gostar de dissonantes, de cores que não combinam.
Quero não sentir calafrios quando alguém é mesquinho.
Gostaria muito também de não me castigar por acreditar nos outros.

Peço desculpas ao mundo, mas só suporto meus próprios defeitos, pois eu que me conheço, os justifico.

Queria não ter prazer de me livrar de algo que me incomodou.
Mas ultimamente sou mais prático que piedoso.
Mas ainda assim, sou tão capaz de amar!
Como na mesma medida desprezo quem mereça.

Certas pessoas, em silêncio pedem para ser queridas
Nem percebem que num gesto livre, numa palavra não calculada, estão sendo lindas e adoráveis.
Despidas da beleza dissimulada e vestidas completamente do encanto espontâneo.
Eu as amo irracionalmente (e se ama racionalmente?).
E muitas delas nem sabem, e talvez nunca saberão.

Outras pessoas, em silêncio pedem para serem desprezadas.
Mas essas calculam seus venenos, se orgulham da sua perversidade.
Se dissimulam, mentem, se limitam e aos outros.
Tão fácil se ter aversão por elas, pois elas gritam por isso.
E eu as desprezo sem remorsos nem pudores.

Porque também posso ser amado por uns (como sou)
Como posso ser desprezado por outros (como fui)

Mas é a plenitude quando alguém, desprevinido, é lindo.
Tanto quanto me revira o estômago quando alguém tenta simular uma virtude que não tem.

O que eu tento pedir é verdade!
Sejamos lindos ou feios, mas sejamos verdadeiros.
A verdade é o cosmético mais poderoso que existe.
O elixir da beleza eterna.

Mas apesar de tudo, não temo a contradição, ela faz parte de mim:
Eu amo o que em mim é feio
Porque confio mais nele do que naquilo que eu tento tornar belo.

21 junho 2006

Olhai Além


Vendo essa foto percebo que sempre olhei além.
Mesmo quando a vida era só escola-brincadeira-escola.

Mas meus olhos sempre foram tristes.
Veio a miopia, astigmatismo, mas a tristeza nunca saiu de lá.

E anos se passaram. Pra onde eu olho hoje?

O que eu vejo se olho desprevinido ao redor é essa solidão, essa frustração geral e essa estagnação generalizada.
O que eu vejo no passado é uma sucessão de "quase" "se" "por pouco" "não" "nunca" "depois".
E o que eu vejo no futuro é...
Que é melhor olhar além.

Olhai além
Porque além existe a esperança
Existe a crença que amanhã será diferente.
Além existe um descanso, um oásis.

Além do que?
Além de tudo.

Desde que meus cabelos eram loiros eu olho além.
Já tenho os olhos cansados.
Meus cabelos e minha alma já escureceram
Os desgostos da vida me tingiram de tons escuros.
Mas ainda olho além.
E cada vez mais, porque afinal
Há algo melhor pra se ver?
Além..

Sempre.

17 junho 2006

Só Louco.

Fui imprudente.
Quando? Desde que nasci até hoje.
Agora vou falar a alguém : ei, você!

Por que me deixou chegar a esse grau de loucura?
Tirei de mim mesmo a responsabilidade e capacidade de me fazer feliz.
Eram meus acessórios, retirei-os, fiz um pacote e distribuí.
Você recebeu a maior parte.
E o que você fez?

Tão sem juízo quanto eu, você foi brincar de ping-pong com eles.
Fez malabarismos, guardou numa gaveta velha e empoeirada.
Meu Deus! Você até os usou pra calçar a porta da geladeira quebrada!

E eu enquanto isso estava correndo pra lá e pra cá...
Como quem foi assaltado, eu estava procurando a polícia.
O "pega-ladrão!!" prestes a sair da minha garganta.
Mas iam dizer: "não foi roubo, você entregou porque quis, garoto maluco!"
E tudo que eu não precisava era de reprimendas.

Porque exatamente isso não dei a ninguém.
Eu me recriminava o tempo todo.
Mas que adiantava?
Então joguei isso no lixo mais próximo.

Fiquei sem nada!
Lembrei que entreguei a outras pessoas também, fui atrás delas.
Umas tinham perdido meus presentes.
Outras devolveram, mas tudo quebrado e estragado.
Outras compraram coisas novas, tentando substituir, mas nem reconheci, eu queria os meus!
Ninguém me amou o suficiente pra cuidar deles.

Mas você conseguiu ser pior que todos, você brincou de ping-pong!
Brincar eu não perdôo.
Aliás, com quem deixei minha capacidade de perdoar?

Finalmente, sentei numa pedra qualquer na estrada e fui calcular os estragos.
Mas depois de um milhão perdi as contas.
E decidi.

Fui até você
Como devolveram só um pedaço da minha auto-estima, ainda tentei que você me fizesse feliz.
Mas foi em vão, é porque você não queria mesmo!
Peguei com ódio no olhar minhas capacidades de volta.
Ódio insano, lágrimas de "não me deixe fazer isso".
Mas você não só deixou como sorriu contente e saiu cantarolando, muito feliz.

Nem olhou pra trás...
Porque teria me visto tentando recolocar tudo no lugar.
E quando eu estava procurando uma pedra pra jogar em você, eu achei minha maturidade no fundo da sacola.

....

Viram que irresponsável eu fui!?
Quem consegue pensar, faça isso mil vezes antes de entregar aos outros a responsabilidade de lhe fazer feliz.
A pessoa pode simplesmente jogar ping-pong com seus sentimentos.
E depois você fica como eu, patético, tentando reaprender a se amar.

15 junho 2006

Vou Ver Lá Fora....


Saio de mim e vou até a porta do meu ser para olhar pra fora.
Da janela da minha consciência vejo o mundo.
Essa janela tem jarros de sonhos, flores de desejos e cortinas de ilusão.

Lá fora tudo é brincadeira de criança.
A árvore que era pra ser verde, é verde realmente.
O sol é amarelo, como eu pensava.
O ceú é azul!

Eu me debruço pra ver o mundo, meus cotovelos estão confortáveis.
O mundo é aquilo mesmo.
É por essa grama que as pessoas devem caminhar.
Construir um balanço naquela árvore, pois falta o som das crianças brincando...

Humm...
Não falta só isso não...
Parando um pouco pra pensar falta muita coisa..

Falta eu pertencer a esse mundo
Onde a árvore é verde e o sol amarelo.
Falta eu entender esse mundo
Eu, acostumado já que estou ao não-sentido das coisas.

Falta eu perceber que esse sol me queima
Falta eu perceber que o cupim da árvore vai derrubar meu teto e minha casa.
Falta eu perceber que meus cotovelos sangram.
E não só eles, mas minhas mãos também, pois as flores de desejos têm espinhos e são afiados.

Mas já percebi algo.
Sair de mim e ir até a janela da minha consciência é perigo de morte.

14 junho 2006

...Não.


"Nascer me estragou a saúde"
"A vida é um soco no estômago"
"Se soubesse não nascia"
"Viver me deixa trêmula".
(Clarice Lispector)

Concordo, Clarice.

Bem que poderia ser diferente.
Como eu gostaria de uma foto colorida e um texto sobre coisas lindas e belas como o amor, a alegria, etc.
Quem sabe um dia...

Hoje sou essa escuridão.
Porque cheguei bem perto do sorriso, mas um tapa me fez engolir a seco qualquer proposta de alegria.
Hoje sou essa não-esperança.
Porque quem nunca cansa de fazer sempre a mesma coisa é a máquina, e não o ser humano.

Ser humano cansa de ouvir tantos "nãos".
E nenhum "sim".

Hoje dei adeus a alguém...e na minha despedida deixei uma canção que falava sobre "castelos no ar".
Falava também sobre um certo rosto que não seria visto novamente.
E finalmente dizia "salve-me de toda aflição e de toda dor".

O triste é que não será meu último castelo no ar, nem estarei livre daquele rosto pra sempre, e ninguém me salvará nem da menor nem da maior dor.
O triste é que meu tema é sempre o mesmo.

Dar adeus a alguém é também dar adeus a algo em nós mesmos.
É dizer "desisti de algo que importa".
Sinto que logo vou voltar a ver quem hoje eu deixei.
Mas nada será igual... o que era pra ser hoje, perdeu-se pra sempre.

Viver também me deixa trêmulo, Clarice.
Pelo menos nessas horas de terremoto.
Posso me considerar um sobrevivente a ele?
Não sei.
É que um dia, desviaram meus rios...

12 junho 2006

"Solidão" (Pode Chamar De Despeito)

Escolheram o dia 12 de junho pra chamar de "dia dos namorados". Nesse dia, os casais supostamente confirmariam o seu amor um ao outro trocando presentes, saindo pra jantar,passear... enfim, um dia perfeito, de amor e carinho.
Mas dá vontade de rir, porque o ano tem 365 dias (isso se não for bissexto).

Nem preciso falar do grau de opressão que sofrem os solteiros nesse dia.
Os solitários muito mais.

Hoje, "dia dos namorados", vou falar sobre solidão.
Simplesmente porque acho mais interessante, mais real.
A solidão não é uma alegoria folclórica, não é uma moda inventada pelo capitalismo e pelas indústrias de consumo, a solidão (embora também seja um mercado) não é necessariamente um modo de vida bem aceito na sociedade.

Temos que ter muitos amigos, um bom namoro (ou pelo menos uma vida sentimental "agitada"), ir pra lugares legais, vestindo roupas legais e sem demonstrar o menor sinal de algo negativo no rosto.
E o que se faz com a cicatriz da ferida da solidão? Há maquilagem suficiente para escondê-la?
Tem que ser a prova d'água, porque se chora muito.

É maldita a dor da solidão, é banida da sociedade. Todos na escuridão das suas cavernas choram por serem sós.
Mas e do lado de fora, à luz do dia ou da noite? Aí não! Todos são felizes, populares e "poderosos".

O que não se sabe é que os casaizinhos de namorados que passeiam por aí de mãos dadas hoje, são solitários. Por que? Como?

Pergunte a eles, eu não falarei mais deles aqui porque a televisão, outdoors e todos os meios de comunicação e vendas já fazem isso o suficiente. Meu discurso parece meio despeitado, mas que se dane...

Falo é de solidão,mas sem me aprofundar, porque a solidão é rasa, é agonia, é peso.
Não a solidão que começa a ser vendida também por aí: "às vezes é bom ficar só."

Mas a solidão de SABER que se está só, que só você se conhece, que ninguém gosta mais de você do que você mesmo.
Mesmo pra quem a conhece de perto, pra quem ela está sempre junto, é sofrido se falar dela.
É como uma cirurgia sem anestesia.
Porque a solidão é deserto, é ausência, é falta de perspectiva.
A solidão é um buraco no estômago, é uma respiração difícil, é uma dor de dente.

Remédio contra ela? Eu não sei qual é...
Existe?

10 junho 2006

Você Mudou Hoje?


Eu sinto que preciso falar sobre mudança.

Aliás, sinto que preciso falar sobre uma porção de coisas, sobre meus sonhos de uma semana atrás, sobre a decepção de alguns dias e sobre a ira de algumas horas.
Mas tudo já mudou.
Porque se não mudasse eu estaria preso, louco , ou as duas coisas.
"Cambia, todo cambia" já diz Mercedes Sosa na sua cantiga (adoro citar músicas, por que afinal, pra que elas nos servem senão pra ensinar coisas?).
Sim, muda... tudo muda.

Muda meu discurso, muda meu sorriso e muda a minha maneira de dizer "oi".
Muda minha risada e muda o jeito que eu balanço a cabeça de desaprovação aqui na frente do monitor.
Muda o som da minha voz e o final das minhas frases.
Mudanças imperceptíveis ou drásticas.
Mas muda.
Tudo mudou e caminha pra mais mudanças.

Sempre pensamos em mudanças como a metamorfose da lagarta em borboleta, uma morena que vira loira, um sapo que vira príncipe, um trigo que vira pão.

Mas e a mudança na minha maneira de dizer "oi", alguém notará?

Você notou as suas mudanças?

Porque surpresa! Você mudou!

Oi, estranho.

09 junho 2006

Esperando Quem Não Ficou De Vir...


Eu estava dentro do ônibus quando uma cena que eu já tinha visto inúmeras vezes(e aconteceu comigo também) dessa vez me chamou a atenção.
Um homem deu sinal e o ônibus não parou.
E ele ficou lá... um misto de indignação, vergonha e frustração.
Mas pelo menos foi o ônibus que não parou.
Porque há o movimento da felicidade...

A felicidade (seja ela o que representa pra cada um), vive passeando por aí (como um ônibus).

Esperamos às vezes pacientemente na parada...e a felicidade vem numa velocidade de quem não espera por ninguém... estendemos o braço pra ela parar e ela pára sim,um pouco a frente. Corremos e subimos nela num susto só.
E prosseguimos a viagem, satisfeitos, estamos felizes e foi por pouco.

Ou esperamos pouquíssimo tempo e lá já vem a felicidade: lenta, vagarosa, quase parando... Abre as portas na nossa frente, respondendo ao nosso débil sinal. Com tanta facilidade, nós pensamos duas vezes antes de subir (será que é o ônibus certo?).
E subimos, olhando ao redor, desconfiados... tudo muito fácil provoca suspeitas. Mas depois de um tempo, relaxamos e vimos que estamos no caminho certo. Era o que esperávamos.

Acontece também de nos atrasarmos por algum motivo banal, e quando chegamos ao ponto, a felicidade acabou de passar, podemos vê-la se afastando de nós, e ainda, pra provocação ser completa, ela levanta uma nuvem de poeira atrás de si, sujando nosso rosto já decepcionado.

Mas o mais comum de acontecer é o seguinte:
Nós, diligentemente, e no começo até animados, vamos ao ponto, na hora certa, crédulos. A felicidade está chegando.
Mas o tempo passa, chega a tarde, a noite, dias, meses, anos. E nada.
Nos indignamos, reclamamos do sistema, às vezes damos uma olhada ao redor do quarteirão, choramos, nos recompomos, acreditamos que houve um grande atraso,mas que ela está chegando...

Mas não.
Ela não vem.
Teve a rota alterada, errou o caminho, ou escolheu outro itinerário mesmo.
E quando a gente percebe... já é tarde demais.
Chegou a hora de fechar os olhos pra sempre.

07 junho 2006

Estúpida Esperança


Me disseram "não"... eu ouvi "talvez"

Me disseram "nunca" .... eu ouvi "algum dia"

Me disseram "é impossível"..... eu ouvi "quem sabe.."

Me disseram "suma daqui!"... eu ouvi "volte depois"

Meu ouvido da alma é surdo e me causa terríveis dores.

06 junho 2006

Pra Se Falar De Amor


É preciso amar?

Pra se falar de dor, é preciso amar?
Pra se falar de solidão, é preciso amar?
Pra se falar de saudade, é preciso amar?

Pra se escrever uma poesia, é preciso amar?
Pra se cantar afinado, é preciso amar?
Pra se tocar um violão, é preciso amar?

Pra se gostar de cachorros, é preciso amar?
Pra ter paciência com crianças, é preciso amar?
Pra se achar bonito o pôr-do-sol, é preciso amar?

Pra dormir tranquilo, é preciso amar?
Pra passar a noite em claro, é preciso amar?
Pra acordar sorrindo, é preciso amar?
Pra acordar chorando, é preciso amar?

Pra nascer, é preciso amar?
Pra morrer, é preciso amar?
Pra viver, é preciso amar?

Pra viver, é preciso amar???

A pergunta que não se cala.

04 junho 2006

Para Todos

É um risco viver.

É fatal viver porque existem os erros e os acertos, e foi escrito que a tendência maior é ao erro.
Estamos fadados ao erro.

Estamos?

Ahhhh, dizem que errando se aprende: bom....sei que errando se aprende a errar diferente da próxima vez.
Mas de maneira alguma errar diferente é acertar. A gente só acerta quando sorri, e aí sim, é o verdadeiro aprendizado.


Aprender a sorrir nos acertos e chorar nos erros... alguém já falou pra sorrirmos quando nossos castelos desmoronarem. Me recuso. Se sorrir, será de íntima ironia, massacre cruel de mim mesmo.
Mas jamais sorrir por esperança ou “ooh, eu aprendi com o erro”.

Uma vez sorri assim e me olhei no espelho: não havia face mais patética e degradante, como se eu estivesse me arrastando atrás de algo.
Reação ao erro: praguejar, irar-se, ou chorar de ódio a si mesmo por ter errado, ou pela situação que lhe levou aquilo.

É saudável. Sorrir não.

De tantas terapias e “métodos” que ouvimos das gerações que se julgam mais esclarecidas, estamos invertendo nossas reações de instinto e virando seres estranhos: sorrimos quando fracassamos, choramos de melancolia quando acertamos... e os animais?
Se alguém lhes rouba a comida, eles não sorriem, eles rosnam e atacam. São irracionais, alguém dirá.

Nós também, às vezes somos. Talvez eles sejam mais felizes que nós.
Mas enfim, animais também são tolos.

O cachorro fica alegrinho olhando pro dono que as vezes não quer sua companhia.
O cachorro não entendeu o fracasso dele e “sorri”.
Se você entender que fracassou, não sorria!


Mas também não fique aí chorando e praguejando a vida toda, vá em busca do próximo erro ou acerto, porque a vida se resume apenas nisso.

Reação ao acerto: pela lógica, é a nossa obrigação acertar, mas na prática sabemos que tem o valor de um milagre, então porte-se como diante de um milagre: “eu acertei” e saia com um sorriso nos lábios e nos olhos, e se você souber como, no corpo também.
É lícito sorrir na vitória; você jamais terá tanta beleza.
Saia também cantando: tenha bom gosto e escolha uma música que você ame, que tenha cordas e elementos que lhe levem à uma fantasia, lembra que foi um milagre?!
Se quiser chorar, sim, até que sim, mas mantenha o sorriso, porque ele é uma raridade, tem valor maior que o ouro e o diamante, o sorriso da vitória.


Ou você pode fazer o contrário do que indico, pois você pode acertar e eu estar aqui errando....
Nada tem a ver com otimismo, pessimismo ou realismo, qualquer pessoa que seja mais isto ou aquilo, é da mesma índole humana e portanto, chorará ou sorrirá. Por mais otimista que seja, sofrerá. Por mais pessimista, sorrirá de alegria. Por mais realista, em um momento não saberá o que é fantasia ou realidade.


Vamos levando a vida assim, acertando e errando, tentando ou desistindo.
Não pare pra pensar demais, nem ande sem freios, oportunidades de erro e acerto nos cercam todos os dias.
E porque estamos fadados ao erro, não há porque desespero perene nele.
Vamos levando a vida assim, a chorar e rosnar com os erros e sorrir vitoriosos com o milagre do acerto.
Vamos levando assim, sendo levados pelas escolhas, ora delícias ora cruéis que somos obrigados a fazer.
Acertar, errar, sorrir, chorar, amar, odiar, assustar-se, tentar e desistir; a vida se resume nisso.
Mas continua sendo um risco.


Fatal.

03 junho 2006

Isso Te Incomoda?

Hoje tive uma "aula de campo" de História do Ceará, e entre visitas a vários lugares historicamente significantes da nossa cidade, terminamos sugestivamente a visita no cemitério São João Batista.

O centenário cemitério exibe túmulos igualmente antigos, no modelo dos cemitérios europeus... grandes túmulos de granito, mármore, cruzes, anjos, tudo muito monumental...nada parecido com os cemitérios americanos das graminhas verdes e plaquinhas no chão.
Mas tampouco quero falar da arquitetura do local, e sim, da reação que ela provoca e de visões interessantes que podemos distinguir se observarmos melhor.

Por que alguns de nós têm uma resistência tão grande a entrar em um cemitério, enquanto outros brilham os olhos de curiosidade e fascínio?!
Uma colega entrou quase que arrastada de medo, enquanto outros, tranquilos, observavam calmamente as lápides e inscrições e outros pareciam estar diante de uma descoberta arqueológica, com aqueles olhos brilhantes que mencionei, agora faiscando mesmo.
A morte como sendo algo abstrato, dessa vez se concretiza na figura do túmulo.
É como se pudessemos dizer: "isso é a morte".
Não se consegue desapegar facilmente à idéia de que não são apenas ossos ali, matéria que nem de longe lembra o que cada ser foi.
Pois havia em muitos o cuidado de não pisar nos túmulos( com o respeito de estar pisando em alguém,vigilante e muito digno,que se ofenderia com passos despreocupados sobre sua morada eterna).
Ao mesmo tempo, nota-se que a existência meio que se prolonga através das diferentes tumbas. A total igualdade que deveria ser advinda da morte, é maquilada em diferença.
Um túmulo é pintado de azul, outro (de uma criança morta há pouco tempo) tem uma plaquinha rosa indicando a localização e uma cruz rosa-choque(sim,isso mesmo) na própria capela onde está o corpo.
Sem falar, na área reservada aos túmulos judeus (sem cruzes, com obeliscos e/ ou a estrela de Davi) e túmulos protestantes (anglicanos), também sem cruzes, mais simples, com lápides verticais,mais no modelo americano mesmo.
A religião, sendo o cemitério católico, é mais do que nunca fator segregador. Evidencia-se depois de inexistente o corpo, a sua fé.

Isso faz com que qualquer pessoa, andando por ali, entenda pelo menos quem foi (e continua sendo) a pessoa que lá está..
Ah,mas a desigualdade não pára por aí,muito pelo contrário.
Tal na cidade dos vivos, onde uma mansão se ergue ao lado de um casebre, lá no "campo santo" também um túmulo gigantesco, negro, de granito, mármore,ornamentado de anjos, querubins, e santos, aparece ao lado de uma covinha rasa, com uma cruz meio torta e o nome do falecido escrito a giz branco.

É uma reprodução da nossa cidade aqui fora, mas como se congelada,onde seus moradores porém, "descansam em paz", muito diferente de nós, os vivos.
E "nós os vivos" é um termo interessante. A sensação de "não-pertencimento" ao lugar é praticamente absoluta.
Estar num cemitério, incomoda, gera nas pessoas comportamentos inusuais, seja de medo, de reflexão, de morbidez, de curiosidade entre outros, mas o fato é que fascinados ou não, fugimos dele.

Por que aqui fora é menos opressor, se sentimos dores, vivemos correndo da violência, sofremos perdas de todos os tipos, somos enganados e maltratados pelos outros( e sempre ressalto) por nós mesmos?
Talvez porque aqui fora também se sente prazer, às vezes paz, ganhamos , aprendemos e amamos...
É a compensação,mas também a sensação de existência. E tantos,incontáveis outros motivos,claro, que não me atreveria a enumerá-los.

Esse texto parece que me foge...talvez ninguém se identifique com ele..mas é exatamente essa a questão da morte...

Que questão?
A morte é pra cada um, o que a vida é pra cada um.

01 junho 2006

Nunca Fui Disso...

Eu e meu amigo aqui chamado de "Juvenal" estávamos numa quinta feira à noite teclando na internet. Eu que sempre ando por aí reclamando do tédio e da solidão, dessa vez tentei experimentar o outro lado, o dos "animadores" papel que quase todos meus amigos (anjos!) geralmente desempenham comigo, mas confesso que sou mais maleável que Juvenal.

Juvenal diz:
ai que tédio...

Juvenal diz:
queria dormir mas não tenho sono..queria sair mas não tenho coragem...

Eu digo:
puxa, que chato...
Juvenal diz:
...........
Eu Digo:
já sei , vamos tomar sorvete!!!
Juvenal diz:
sorvete às 22:30?
Eu Digo:
tédio às 22:30???
Juvenal diz:
é... tem hora melhor?
Eu Digo:
é...desculpe, não sei animar ninguém, nunca fui disso.