31 dezembro 2006

É Hora.


É a ultima sexta feira do ano.
É o último sábado do ano , meu Deus!
É a última manhã... é o último pôr do sol!
Esse período de 365 dias ou mais que delimitamos como um "bloco" de nossa vida.
Por que um novo ano é um novo ciclo?
Por que o ciclo não pode começar em agosto ou outubro?
Por que não dizemos em julho: "acho que agora vai!"?

Parece que entramos por uma porta: 2006.
Pronto, estamos dentro desse lugar que é 2006. Nosso hotel.
Aí viveremos algum tempo e no dia 31 de dezembro, deixaremos esse quarto de hotel para entrar em outro: 2007.
E na entrega da chave do nosso quarto, fazemos o balanço.
Foi boa a hospedagem?
_ Foi ótima! Arranjei emprego novo, comprei meu carro, namorei muito.. viajei.
ou:
_ Foi péssima... fiquei doente, desempregado, acabei meu namoro.. enfim.. espero que o próximo seja melhor.

E assim é.. queiramos ou não.. um ano novo é sempre um recomeço.
É a legitimação de "Pronto, vamos tentar mais uma vez."

A bandeira é verde e dá a largada: Se preparem pra percorrer um novo caminho.
Verde porque a esperança é a nossa bagagem.
Quem determinou que: "ano novo, vida nova"; tem suas razões.
É um renovar de esperanças, é um novo fôlego.
E se preparar pra tudo, afinal sabemos o que é essa vida.
Mas o bom é que sabemos que como passam-se os anos, passam-se certas dores.
Adeus dores velhas, que se curem as feridas.
Vamos caminhar.

E sorrir, chorar, brilhar os olhos, correr para um abraço, ver fotografias antigas, beijar no rosto, na boca, tomar banho de mar, de chuva, perder os óculos, o guarda chuva, pegar uma criança nos braços, guardar uma flor em um livro, sentir o coração de alguém batendo, ouvir a música, sonhar o sonho.
Viver, enfim.
Façamos ao entrar no quarto 2007.

E que seja uma hospedagem pra lá de feliz.

18 dezembro 2006

A Glória De Cair

Em dezembro de 1977, morria Clarice Lispector.
Parece-me que alguns blogers fizeram uma homenagem a ela, e eu também farei a minha:

"Nem todos chegam a fracassar porque é tão trabalhoso, é preciso antes subir penosamente até enfim atingir a altura de poder cair." (CL-A paixão segundo G.H.)

"E não tenho medo do fracasso. Que o fracasso me aniquile, quero a glória de cair."(CL -Água Viva)

Escolher algo de Clarice pra se falar é tarefa árdua. Escolhi essas duas citações que falam de "fracasso". Mas qual seria o verdadeiro fracasso?
Segundo o dicionário : "fracasso: 1.Ruína;desgraça 2. insucesso, mau êxito."

Penso que há o fracasso de não ter tentado, e o fracassar propriamente dito: tentar e não dar certo.
O fracasso de não tentar é a covardia, é o medo, é a mentira que disfarça em auto-proteção de quem diz: "não vou tentar porque sei que não vai dar certo; sou esperto."
Esperto? De espertos assim se fracassou o mundo.
Não amaram por medo, não falaram por medo, não viveram por medo.
Não tentaram por medo.

Porque quem somos nós pra sabermos o que é possível e o que não é?
Viver por acaso parece ser possível?
E no entanto, bem ou mal, se vive.

Como disse Clarice.
Fracassar não é pra todo mundo não.
Só para os corajosos.
Que sobem numa altura arriscada de se cair. Nessa subida e descida ele aprendeu muito.
Mais do que o covarde que não sobe um centímetro porque "não é possível, nem vou tentar".

Ao chegar lá em cima pode-se dar de cara com uma surpresa: o sucesso!
Mas há de se estar preparado para tudo. Também (principalmente) para o "insucesso, mau êxito".
Mas a subida para tudo prepara.
E a queda também.
Caso você despenque de algum lugar e alguém venha lhe dizer "Não falei?!"
Responda: "Caí porque subi, covarde."

Sofrer se vai de qualquer maneira.
Os que tentam e fracassam são devastados: "fracasso: ruína, desgraça".
Aniquilados.
Os que não tentam são ruínas por dentro, sofrem o fracasso de não ter coragem.

E assim muita coisa muda de figura.
Me vejo recompensado, meus fracassos não mais me tiram o sono.
Só me sentirei um fracassado quando eu disser a alguém: "Não vou te amar porque não tenho coragem".
Ou "Isso não é possível."

Viver não é possível, não sem amor nem prazer.
E não estou aqui, escrevendo em homenagem à Clarice Lispector!?

07 dezembro 2006

Fui Assaltado, Me Passa O Catchup?

Um amigo foi assaltado esses dias.
Levaram seu celular.
Quando eu disse "puxa vida, que coisa!", fui cortado por ele:
"Porque o espanto?? roubo é coisa simples, pra mim foi lucrativo..o celular era velho, o cara não me machucou nem me matou, e eu recuperei o chip...que mais posso querer?"
Eu podia responder "Não ser assaltado", mas não disse.

Essa postura me mostrou um "novo" tipo de ser humano: o que não tem a capacidade de se indignar com mais nada, o que não se sente mal por ter sido roubado, acha até "lucrativo." (!!!)
Ou será que meu amigo teve uma ponta de "Síndrome de Estocolmo"?
Do tipo: "o sequestrador era legal... ele me raptou, me ameaçava de morte, me deixou num lugar sujo cheio de ratos, mas não me batia, me dava comida , água e não me matou!! :)"

Será que hoje, somos gratos aos assaltantes se eles não nos machucarem?? SÓ roubarem?
Ou o brasileiro tem mesmo essa mentalidade de achar que os outros têm o direito de sacanearem ele? e ele tem a obrigação de ser sacaneado e não reclamar?

Quando expus meu ponto de vista, fui chamado por ele de hipócrita.
Sempre parece hipocrisia quando alguém tenta mostrar uma coisa simples que foi perdida.

Achar que ser roubado é uma coisa absurda, hoje é hipocrisia, afinal, todo dia milhões de pessoas são assaltadas a toda hora, portanto, se torna algo legal, legítimo, aceitável, normal e até esperado do dia-a-dia.
Quem vem roubar está cumprindo seu papel social de roubar e quem é roubado cumpre seu papel social de ser roubado.
Pronto.
É assim que tem que ser.
Se alguém diz "puxa vida!" está indo contra a lei natural (?) das coisas.

Bom, supõe-se que pessoas que saem sorrindo de um assalto então sejam pessoas COMPLETAMENTE desapegadas aos bens materiais...
Sei.
Quem é o hipócrita?
Talvez se eu tivesse muito dinheiro eu também não me importasse que roubassem meu celular velho.
Como eu não tenho, se me roubarem, entrego meu celular na hora, mas não vou sair dizendo "ai que bom, roubaram meu celular velho, vou comprar outro novo agora... "
E quanto ao desgaste emocional de se ser assaltado?
Perguntei ao meu amigo como ele podia dizer que o assalto foi "lucrativo" se houve o desgaste emocional de se ser abordado dessa maneira.
Ele disse que não houve esse desgaste, e mais uma vez me repreendeu que isso acontecia sempre, e que eu estava sendo hipócrita com história de desgaste emocional...

Talvez seja esse mesmo meu problema... não me conformo quando roubam meu celular, meu lanche na escola e meu amor, quando tiram meu direito, quando me maltratam.
Talvez eu deva perdoar quem faz isso e agradecer porque não faz pior.
Talvez o ideal seja se juntar a essa massa apática, alienada e conformista que se diminui enquanto ser humano e não tem a menor coerência no agir e só formam suas idéias baseadas nos seus próprios interesses.
Se eu já faço parte dela, eu deveria estar mais confortável.

Gostaria que os assaltantes por favor só roubassem pessoas como o meu amigo, que não se importam e não se desgastam com uma arma apontada pra eles.
Eu hein.

02 dezembro 2006

"É O Começo Do Fim"

"Ou é o fim".
Começou a acabar o ano.
Daqui a menos de um mês terei outra idade.
Dizem que "ano novo, vida nova"
Mesmo já tão perto de 2007, ainda não quero falar disso.
E sim do hoje.
Porque é hoje que eu ando pra lá e pra cá com um incômodo.
O que há pra se fazer hoje? o que sentir?
Uma sensação de perda... de vazio.
Mas não aquele torturante que provoca lágrimas e gritos.
Mas uma anestesia, um entorpecimento.
Sim, é isso.. estou entorpecido.
Porém lúcido, mas é uma coisa de corpo e alma, não de mente.
Sabe quando nada importa realmente?
Quando tudo que você sente vontade é franzir a bochecha num gesto de menosprezo?
Tipo: "ah sei lá, que seja assim.."
Sabe, porque viver cansa demais.
E sempre as mesmas caras lhe dizendo que não, e a mesma cidade estéril lhe dizendo que nunca, as mesmas incompetências e incapacidades...
As mesmas almas carentes de nobreza.
E a gente tem que estudar, trabalhar, comer bem, emagrecer, engordar, pagar dívidas, não fazer novas dívidas. Não importa como está nosso coração, nossa alma e se dormimos bem à noite.
Os compromissos gritam inclementes por nós.
E eu grito inclemente por alguém que não me dá ouvidos.
Se eu fosse uma dívida, eu seria atendido.
Mas pelo que andei vendo, não viemos ao mundo para sermos atendidos nos nossos gritos inclementes.
Por isso nem grito mais, só digo "ah sei lá... que seja assim..."
Porque me sentei um pouco pra descansar, são 20 e tantos anos em pé, na luta.
Me sinto uma empresa falida.
Sem Lucros.
Mas pra calar a boca dos que me acusam de não ter resistência, ainda estou funcionando, só fechado um pouco porque é final de semana, a empresa não abre (tampouco fatura).
Meu grito de guerra ultimamente é um bocejo enfadado.
Oaaahhhhhh, na cara de quem merece.
Me dou o direito de fechar a porta na cara de algumas pessoas que não merecem ser levadas a sério, nem ouvidas nem consideradas. Fecho a porta, sorrio e bocejo de novo.
Já já me levanto, vem um novo ano aí... é pra ser um bom motivo né?
O dever me chama, e eu tenho que atendê-lo.
Se eu fosse o dever, eu seria atendido.
Mas não sou dívida, nem empregos, nem estudos nem o dever.
Fecham a porta na minha cara, não me consideram e bocejam pra mim.
Foi aí que aprendi.
Tem gente que merece as dívidas que tem.

27 novembro 2006

Blá Blá Blá

_Vai escrever sobre o que hoje?
_Não sei ainda... acho que... não, não sei.
_Escreve sobre como você está se sentindo hoje!
_Não quero ser repetitivo.
_Escreve sobre esse sentimento geral de solidão!
_Geral?!
_Já escrevi demais sobre a solidão.
_Escreve sobre o amor então.
_Já escrevi demais sobre o amor...
_Sabe, eu acho que falar de amor nunca é demais..
_Não escreve então!
_Já não escrevi demais.
_Fala sobre o Natal, tá chegando...
_Ainda é cedo.
_Mas vai falar depois?
_Se houver o que falar...
_E se não houver?
_Não sei.
_Não sabe?
_Não sei.. adoro não saber.
_Humm...
_Fala sobre..
_Fala ou escreve??
_É só modo de dizer...
_Mas está errado!
_Não está!
_Escreve sobre o que é certo ou errado.
_Escrevo um blog, não uma bíblia
_Ah.
_Eu acho errado falar de boca cheia.
_Se for algo necessário, eu acho certo.
_Espirra comida nos outros.
_E daí? É só limpar!
_É chato, nada pode ser tão urgente que não dê tempo mastigar e engolir.
_Pode.
_Escreve sobre falar de boca cheia!
_Já escrevi demais sobre bobagens.
_Isso não é bobagem!
_Pra mim é.
_Você escreve pra si ou pros outros?
_Escrevo pra quem quiser ler, eu sempre quero. Sou leitor garantido.
_E se ninguém valorizar o que você escreve?
_Não valorizam coisas mais preciosas em mim, e nem por isso desisti.
_Vai escrever sobre o que hoje afinal?
_Sobre meus devaneios, questões internas e perguntas bobas.
_Como começa?
_Já terminou.
_Ué! Já?? Aonde termina??
_Aqui, nesse ponto final.

15 novembro 2006

Passageiros

A mulher sentada à direita no ônibus leva um sorriso sereno no rosto, seu rosto brilha oleosamente. Ela traz no colo, protegido pelas mãos em concha um presente pro seu amor.
Ela sorri porque sabe que ele irá aceitá-lo, e aceitando seu presente, a aceita também.

O menino sentado olhando a janela tem os olhos muito abertos, admirando a paisagem.
Quer esquecer a bronca da mãe por ter quebrado sua boneca de louça, quer esquecer que está indo ao dentista.
No momento ele mal pisca e só vê a paisagem à frente, como se fosse a primeira vez.

O velho calado sorri quando algum passageiro se levanta e passa por ele. O sorriso é simpático e cúmplice. Ele sente dores nas costas, mas nesse momento ela é aliviada por uma sensação de família. O velho acha que seus colegas de viagem são seus, o amam e respeitam.

À esquerda está um jovem de cabelos lisos e castanhos, de braços cruzados e pernas bem abertas, está de olhos fechados porque acha a viagem um saco, quer chegar logo ao seu destino e encontrar a bela namorada que o espera de vestido novo. Sua bagagem é uma mochila com roupas e cds, e um violão numa capa preta, em cujo bolso está a letra de uma canção que ele fez para sua amada.

Nas últimas poltronas uma jovem pálida e loira morde os lábios. Está indo sozinha tentar um emprego em outra cidade. Não sabe fazer muita coisa mas tem muita vontade de aprender a fazer tudo. Acha que sendo humilde conseguirá que as portas se abram para ela. Bebe goles de água de uma garrafinha que carrega o tempo todo, seu maior tesouro.

Outra jovem com pesada maquilagem está na outra extremidade. Já retocou inúmeras vezes o rímel negro dos olhos, pois ela chora muito. Tem unhas compridas e bem cuidadas e cabelos negros muito brilhantes, as longas mãos apertam uma pequena bolsa de onde saem lenços.
Ela não leva mais nada além de uma carta dentro da bolsa. Ela espera que seus familiares a entendam e não sofram tanto.

Um homem de meia-idade está satisfeito consigo mesmo, pois considera-se um excelente pai de família, excelente funcionário e muito esperto. Às vezes se sente culpado pela aventura extra-conjugal que tem, mas ao mesmo tempo consola-se por saber que seus amigos o apóiam, a sociedade o apóia e seus filhos ficariam orgulhosos dele. Ele realmente se acha muito esperto.
Às vezes sorri sozinho e se vira para observar algumas passageiras.

Há outra passageira, uma jovem de ar competente e profissional. Tem nas mãos uma agenda em branco. Não escreve porque desistiu. Não quer olhar a paisagem porque cansou.
Não quer conversar porque não suporta seus companheiros de viagem. Não quer dormir porque não tem sono, nem fome, nem nada. Não faz uma ligação pra alguém porque não há ninguém que esteja esperando uma ligação dela. Ela apenas está ali. E se sente muito infeliz.

São passageiros os amores, os presentes, as paisagens, os sorrisos, as lágrimas, as dores, a água, os lenços...

31 outubro 2006

Haja Luz!


Acende a luz da minha alma, está escuro!

Um blecaute, foi o que aconteceu.
É quando a pessoa que se ama é cruel com você.
Se apaga uma porção de coisas, mas a luz do amor é a mais resistente.

Antes ela queimasse para sempre.
Um dia me disseram: "se me maltrata, perco o amor, sou mais eu, não preciso disso, encontro alguém melhor, blá blá blá."
Nunca me convenceu... sempre li "auto-afirmação inútil" na testa e nos olhos dessas pessoas.
Tão cheias de si ao defenderem esse discurso, saíam se arrastando de tão infelizes depois.

Sou sincero e realista: amo e pronto.
E repito: é incondicional, não se ama só quem retribui.
Se ama porque se ama e só.
Quem tem sorte é amado de volta
Quem não tem sofre e torce pra o amor se acabar.

Outros me disseram : "sei como é difícil, não é só apertar um botão e dizer :pronto!! não amo mais!"
Nunca me conformei.
Porque é assim que devia ser.

Acende a luz dos meus olhos, está tudo apagado.
Mas a cidade não oferece sua eletricidade.
Malditos os que podem mas não devolvem à luz ao cego.

Adoça minha língua porque está tudo amargo.
Meu desejo, meu amor... é que um dia sofras como eu.
Finalmente saberias.
O que é a escuridão que promoveste.
Tu, que tens tua casa sempre tão iluminada, protegida pelos geradores do egoísmo.

Farei uma fogueira ou acenderei uma frágil vela pra dissipar minha escuridão.
Não serei iluminado suficientemente.
Mas poderei enxergar vultos e esperanças movendo-se ao meu redor.

15 outubro 2006

Ao Voar...


Tentei saber o mínimo possível a respeito da queda do avião da Gol, mesmo sendo classificada como a maior da história da aviação brasileira.
Procurei não ouvir as notícias nem ver o rosto de nenhuma vítima; quis me poupar de qualquer angústia a mais.

Mas um detalhe me caiu de pára-quedas e eu li e depois que eu li já não havia volta.
Eu, que me poupei de saber de várias coisas da tragédia soube exatamente de um fato:
Algumas vítimas foram encontradas fazendo "figa" com os dedos.

Esse detalhe arrasador me encostou na parede com tal violência que fiquei estarrecido.
Mudo meu pensamento sempre que começo a imaginar o momento final.
A "figa" não se desfez.

Será que já morremos e não sabemos que nossas figas não funcionaram?
Será que estamos fazendo figa enquanto nosso avião está caindo?
Se não cremos mais nos nossos desejos de melhoras, em que vamos crer?

Saber que mesmo se fazendo figa pra viver, se morre, é aterrador.
Quanta dor há no mundo, pra quem vai e pra quem fica.
Que figa nenhuma dá jeito.

Sem ver o rosto de nenhuma das vítimas do vôo, eu me aproximei de todas elas, entendi quem eram e como viviam.
Faziam figa.

Nós, no nosso ocupado dia a dia de pessoas dos anos 2000, nem fazemos figa pra continuarmos vivos.
Talvez porque não temos ao nosso alcance a idéia concreta da morte, ou porque as figas estão dimensionadas de outras formas.

Quem ama a vida agradeça por ela.
E faça figa se achar que funciona, pra que a vida da vida nunca nos deixe.
E não sejamos mortos que apenas fazem figa por reflexo ou por lembrança do desejo de um dia passado.

04 outubro 2006

O "Clique" Mágico.

Em todos os sites que vou, vejo o pequeno link escondido em algum canto : "Ajuda".
E geralmente com um ponto de interrogação por perto, como se automaticamente, ao surgir a duvida, a "Ajuda" fosse providencialmente esclarecê-la.
Ultimamente tive uns problemas num site e fui clicar na tal "Ajuda", que me mandou digitar uma palavra-chave.
Digitei várias e a "Ajuda" não pôde me ajudar.
"Não existem registros contendo a palavra digitada."

Mas ela já me esclareceu também várias vezes.
Adoro quando ela é passo-a-passo.
Odeio quando ela diz coisas óbvias como "você verificou se a tomada está ligada?".

Acho que devíamos ter esses links de "ajuda" sempre ao nosso redor, pra toda espéice de problemas.
Nem que sejam pra nos proporcionar o prazer de dizer "Pois eu procurei taaaaanto na ajuda e não encontrei!"
Justificativas, elas nos fazem bem.

Quase sempre depois da "ajuda" eu clico em "sair."
Essa sim resolve todos os problemas, mas a gente também acaba junto com eles.
Menos mal.
Queria que meus problemas viessem com a opção "sair" e quando eu clicasse nela, eles desaparecessem como os sites que eu fecho com um clique do mouse.
Vão me dizer que eles têm essa opção sim, assim como a "ajuda".
Mas eles parecem mais como quando meu computador trava e não responde aos meus comandos.
Clico insistentemente o mouse sobre o X de "fechar" e nada.
Continua lá, desenrolado à minha frente, me desafiando...

Mas sempre temos um às na manga.
Pequeno botão de "reiniciar".

Aguarde enquanto sua vida é reiniciada.

03 outubro 2006

Pra Não Se Deixar Morrer

Ouvi uma voz cheia de emoções.
Era Maria Callas, soprano americana filha de gregos que nasceu em 1923 e tornou-se diva dos palcos mundiais.
Deixou de ser gordinha e agradou com a silhueta de sílfide, casou com um homem muito mais velho.
Mas não o amava nem sentia prazer com ele.
Somente aos 36 anos foi que ela descobriu o amor e a plenitude do sexo, ao se apaixonar pelo magnata grego Aristóteles Onassis.
Deram-se os escândalos de separações e divórcios, e o tempo passou rápido.
Pelo mesmo homem com o qual aprendeu a amar, aprendeu também o que é a humilhação e o sofrimento.
Quando sua voz estava comprometida, ouviu o amado se referir à sua voz como um "reles apito na garganta".
E ela que declarou uma vez aos jornais "só quero ter um marido, filhos e cachorros."
Ela era temperamental, uma vez abandonou uma ópera na metade porque o público não a tinha aplaudido satisfatoriamente no fim do primeiro ato(nesse público estava o presidente da Itália na época).
Um belo dia, seu amado magnata resolveu que ia casar com a viúva do presidente dos EUA, Jacqueline Kennedy.
A "diva" era descartada.
Saiu com a irônica frase: "Creio que a senhora Kennedy fez muito bem em arrumar um avô para seus filhos".
A partir daí, nada mais fez sentido pra ela.
A voz nunca foi recuperada , a carreira foi-se tornando algo muito distante e sem importância.
Foi pra França e lá morreu, sozinha, aos 53 anos, de um ataque cardíaco..
Aliás, dizem que ela "se deixou morrer"
Definhou.

O resumo da história de Callas termina aí.
Minha colocação começa dizendo que ao amarmos, temos que saber que estamos nos arriscando.
A termos momentos de felicidade ou de tormento profundo.
Pode-se atingir as mais altas notas, lotar estádios.
O amor pode ser nosso maior ornamento, nossa maior beleza.
Como também pode roubar nossa voz, nosso gosto pela vida e provocar nossa morte.
Por isso muitos abandonam o palco na metade da ópera.

Ser desprezado por quem se ama loucamente...
O amor é fatal quando é incondicional.
Se ama porque se ama, e não porque se espera receber algo em troca.
É uma dor lancinante, um parto que nunca termina.
Mas infelizmente tem que se viver "apesar de." .

Existem momentos de alívio... uma bela música, uma conversa com amigos, uma água de côco na praia, ou o seu prato preferido.
Por a vida nos compensar com essas coisas que nem todos têm, a gente entende que se deve continuar.
E por nós mesmos, é olhar no espelho e dizer :"Vivo porque mereço."

O público também não me aplaude como eu gostaria, mas eu me aplaudo bem.
Eu já não espero que me amem mais do que eu mesmo me amo.
E digo isso pra quem eu amo:
NÃO ESPEREM QUE ALGUÉM AME VOCÊS MAIS DO QUE VOCÊS MESMOS!
Digo porque conheço pessoas maravilhosas que não são aplaudidas satisfatoriamente.
Lembro a vocês que ás vezes o público é medíocre e não sabe o que é bom.
Aliás, quase sempre.

Afinal, sobre o que é todo esse texto?
Sobre a soprano que se deixou morrer.
Sobre amor e desamor.
Sobre eu e você.
Que vivemos e amamos.

Mas que se Deus quiser, não morreremos por isso.

28 setembro 2006

Quase Rotina


Olho pro lado.
Empurro o prato, não tenho fome.
Bebo três copos de água seguidos.
Escuto uma buzina e me irrito.
Lembro que amo.
Quase choro.

Folheio um livro.
Pego uma caneta, ela não tem mais tinta.
Me olho no espelho, sorrio.
Lembro que amo.
Quase grito.

Canto com voz grave.
Depois tento uma nota aguda.
Minha voz treme e falha.
Lembro que amo.
Quase paro.

Alguém me pergunta as horas.
Digo sorrindo que não sei.
O vento derruba um papel da mesa.
Lembro que amo.
Quase durmo.

Empurro as horas.
Olho o papel no chão.
Escuto uma voz aguda.
O vento derruba o copo vazio.
Não tenho espelho.
Não tenho tinta.
Meu sorriso treme e falha.

Lembro que amo.
Quase esqueço.

25 setembro 2006

Você Mente Por Que?

Ultimamente tenho dado de cara com algo que está mais ao nosso redor do que a gente imagina: a mentira.
Pra se falar de "mentira" teria que se falar de "verdade"....
Porém não há nada mais contraditório e ilimitado que o conceito de "verdade".
Mas algo não se pode negar: a mentira existe, seja a verdade o que ela for.
Sempre defendi a idéia de que ninguém mente "por mentir".

Hoje não defendo mais essa idéia, porque não entendo mais como funciona o mundo.
Pessoas mentem e não se sabe porque.
Hoje mesmo alguém disse "tem gente que mente porque gosta".

Além das mentiras que tenho ouvido, hoje assisti um espetáculo de dança contemporânea cujo tema eram as "mentiras sinceras".
"Mentiras sinceras não me interessam" .. esse verso gravou na minha mente.
O que me interessa? a verdade terrível?
Durante a peça um dos bailarinos que interagia com a platéia, me perguntou "você já mentiu com a intenção de fazer alguém sofrer?"
Fiquei sinceramente chocado com a pergunta... balancei a cabeça negativamente quase me sentindo ofendido!
Mas enguli metade do "não" porque há muito deixei de entender também como eu funciono.

Alguém na platéia chorou.
Um homem jovem.
Ver um homem jovem chorando ao se falar de mentiras gravou na minha mente.
Outro bailarino me perguntou: "você já mentiu hoje?" e pra minha amiga do lado : "você mentiria pra proteger alguém?"
Que perguntas perturbadoras!
Pensei se já menti pra proteger alguém , se já menti pra magoar alguém, se já menti sem saber porque e se já menti porque gosto de mentir.
E também se alguém já mentiu pra me proteger..
Pra me magoar já sei bem a resposta.

Saí do teatro olhando pras pessoas e pensando: eu minto, ele mente, nós mentimos, eles mentem.
O mundo mente o tempo todo.
Daqui a um tempo, a mentira será uma virtude?
Ou ela já é?

Será possível viver sem mentir?
Tantas vezes elas podem amenizar certas dores.
Porque a realidade é arame farpado.
Porém nunca esqueço que se mente pra magoar alguém.
Isso pra mim é monstruoso, já não chega a verdade que dói, mas agora a mentira também??

Sempre tive dificuldades em perdoar essas mentiras.
Já desejei que os mentirosos de carteirinha morressem a pior morte.
Hoje nem mágoas, nem pragas... relaxei.
Querer justiça nesse mundo e nessa vida é querer enxugar gelo.

Eu minto, tu mentes
Ele mente, nós mentimos
Eles mentem...

Pra magoar???

Se a mentira tem pernas curtas, tem porém os braços longos, pra acolher seus filhos, inúmeros.

18 setembro 2006

Sempre É Tempo De Amar


Tem o que caminhava comigo todo dia.
Tem a que fazemos transmissão de pensamentos .
Tem o que mora longe mas que está sempre perto.
Tem a ovolactovegetariana.
E o que já foi modelo.
Tem a que é um "pouco" distraída e odeia abacaxi.
Tem o que vive me dando conselhos ousados.
Tem a que diz que "a vida é uma coisa viva"
Tem um que é "O Cara".
Tem uma que adora fazer remédios.
Tem outro que me chama de "Cauzito".
Tem uma que tem a voz mais sexy que há.
Tem outro que em certas fotos parece muito comigo.
Tem uma que de tão imprevisível, é a "bela dos ventos!".
E tem o que me manda "s6pt" no messenger.
Tem a amazonense que canta agudos com uma mão nas costas.
Tem também o que é muito chato.
Tem a que eu vi crescer e hoje é quase maior que eu!
Tem o que às vezes some, mas, vivo, sempre aparece.
Tem aquela que tem as amídalas de gelatina.
Tem o que faz body-sistem por mim.
Tem a melhor e mais doce soprano do país.
Tem o que me manda músicas que eu já tenho.
Tem a que eu chamo de "pequena"
E tem a "mama" que me deve uma macarronada.
Tem o que vivia me pedindo 1 real.
Tem a que brincávamos no Jardim II.
Tem o que dança flamenco com maestria.
Tem o casal mais show e suas histórias divertidas.
Tem a que era "pedra" comigo num passado recente.
E o casal mais brasileiro dos EUA.
Tem a que tinha medo de cachorros e hoje tem um e é louca por ele
Tem uma que é das pessoas mais sinceras que conheço.
E tem a mais alta representante da Herbalife.
Tem a que foi comigo pra uma reserva indígena.
Tem o que me mata de inveja por morar no frio.
Tem a que só escuto a voz na festa de amigo-secreto.
Tem o que diz que não me entende.
Tem a que faz caixinhas lindas como ela mesma é.

Tem outros, que fazem e são muitas outras coisas.
Mas todos são iguais numa coisa que me fazem:
Me encantam.

Mar É Mar, Vida É Vida.

Vivo pensando em como deve ser fazer certas coisas que nos causam medo.
Nadar no mar à noite.
Ou nem nadar, mas mesmo tomar banho no mar à noite.
Poucas coisas me causam tanto terror só em pensar.

Sempre gostei de olhar pro mar.
Se me deixarem, sou capaz de ficar horas olhando, olhando..

Não sei em que momento deixo de ver o mar e vejo a vida.
Mas o mar nunca perde o encanto pra mim.

Porém, mesmo admirando o mar, eu o temo profundamente.
Não sei nadar.
E à noite...

Tenho certeza que ali na beirinha mesmo tem um tubarão
Ou seres estranhos que vão me puxar pra o fundo
Nem consigo imaginar... pensar nisso é mergulhar no pânico.

Mas hoje me imaginei nadando no mar de noite
Dizem que à noite a água é quentinha...
Isso aumenta meu pavor, porque é no conforto que o mal ataca.

Fico pensando se no dia que eu souber nadar e fizer isso à noite eu me tornarei outra pessoa.
Se verei a vida de outra forma
Mas talvez eu jamais seja capaz
Conheço alguém que morre de medo de altura.
Vivo desafiando essa pessoa a andar numa roda gigante ou montanha russa
Ela tem certeza que morreria.
Bom..talvez não chegasse a tanto, mas qual o proposito?
Acho que de repente certas coisas não devem ser feitas.

Vou tentar ser feliz sem precisar nadar à noite.
Não é necessário, além do mais, fazemos coisas piores e sobrevivemos.
Como viver sem ter o amor de quem se ama, por exemplo.

Uma vez numa brincadeira me disseram: "o mar é a vida, o muro é a morte"
Não sei se essa comparação é ideal.
Tenho medo de viver na escuridão?
Ninguém ensina um peixe a nadar, ninguém ensina um homem a viver.
Mas aquele nada e esse vive.

Vivo pensando em como deve ser fazer coisas que nunca farei.
Umas porque não quero... como nadar à noite...
E outras porque não são possíveis... como ser feliz.

29 agosto 2006

Ainda Falando, Amando E Vivendo.



Escrevo contra minha vontade.
Aliás, amo contra minha vontade
Vivo contra minha vontade.

Quem me obriga a fazer essas coisas é a minha velha amiga estúpida, a Esperança.

Acredito nela contra minha vontade.
Por mim, me calava, odiava e morria.

Minha amiga esperança tem uma inimiga mortal, a Vida.
Talvez ela seja mais minha inimiga, pois todo dia pontualmente tem uma rasteira pra me dar.
Mas dizem que ela é bonita, é bonita e é bonita.
Bom, minha amiga Esperança também diz isso.
Mas ela é burra, burra, e cega também.
E como eu já disse antes, tem problemas de audição.
Mas é super competente a minha amiga.
Me leva a fazer tanta coisa!
Ela me ensina a fazer minha parte.
E eu faço, obediente.

Ela me diz que devo viver porque um dia serei amado!
E eu contra minha vontade acredito.

Mas devo parabenizar também a Vida.
Ela também é super competente.
Todo dia ela vem me mostrar o contrário do que a Esperança diz.
Apanho dela... levo bofetadas em cheio, ela cospe na minha cara e ri.
Depois sai pra beijar seus protegidos.
Não sei porque ela jamais gostou de mim.

Já a coitada da Esperança, me adora.
Jamais me larga.
Eu gosto dela também...

A Esperança tem soldados que me auxiliam a acreditar.
Eu os chamo de amigos.
A Vida também tem os soldados dela.
Não posso evitá-los porque eles estão ao meu redor do mesmo jeito.
Mas treinados pra me destruir.
Alguns nem sabem, coitados.
Ou até sabem... enfim, eu só acredito na Esperança.

Ela me acordou hoje, a Esperança.
Ela disse "acorda!!!!é mais um dia!"
E eu contra minha vontade, acordei.

Ela diz que um dia a Vida vai ser minha amiga também.
E eu contra minha vontade acredito.

Continuo fazendo minha parte.
É difícil e dolorosa, mas faço tudinho.
Não quero que me acusem de não correr atrás da Felicidade.
Essa não é minha amiga nem inimiga, eu simplesmente não a conheço.

"Um dia de cada vez", me diz a Esperança.
Às vezes duvido dela... a acho tão inacreditável!
Mas ela faz parte de mim.
Se ela não me faz feliz, pelo menos tenta.
E tudo que eu ainda tento, é por ela.

27 agosto 2006

Ô Juventude Bonita!

Nem experimenta, já rejeita.
É assim com as crianças, se a comida não tem aparência atraente, não importa o gosto.
Se vira a cara.
Uma vez ouvi: "criança gosta de cores, desenhos, música tem que ser animada e fácil de se cantar... que dê pra ela pular e se divertir."

O que é ser adulto?
Pra muitas pessoas, é apenas medir um pouco mais do que antes.
Porque continuam crianças.


Não no sentido positivo: perdoar fácil, ter a confiança original, a energia e a humildade de aprender.
Mas no negativo é mais freqüente: Depois que "crescem" continuam escolhendo o prato pela aparência e brincando de viver.

O que são os adultos de hoje em dia?
Os jovens que se orgulham de não serem mais crianças?

Eles pensam?
Eles decidem?

Ou eles escolhem os parceiros pela boa roupa, pelo cabelo da moda, pelos belos olhos de lentes de contato coloridas?
Eles escolhem seus companheiros (amigos, amantes) pelo caráter, pelas ações, pelos valores, ou pelo bolso, pelo corpo esculpido ou pela popularidade?

Me lembram os doces coloridíssimos que crianças adoram e que provocam cárie e dor de barriga depois.
Mas quando adultos, não mudam. Ainda os querem.


Se você está com a roupa certa, e é agradável de se ver, então você pode falar a bobagem que quiser, pode ser fútil.
Pode mentir, pode ser desonesto, pode trair e aprontar todas.
Será perdoado, e até admirado.
Porque se quem lhe vê não pensa, também não enxerga, não sente.
Não faz nada, só se mostra.

Que músicas eles ouvem?
Aquelas que fazem pensar, refletir, as que falam algo afinal, ou as que fazem dançar apenas?
Música pra dançar é pra dançar, música pra pensar é pra pensar.

Mas nossa linda juventude ouve música pra pensar?
Ela lê algo?
Ela FAZ ALGO?
Pensar pra muitos é atividade inútil... "o negócio é CARPE DIEM"!!!!

Bom, quem sabe no final , são até mais felizes, não é mesmo?
Anestesia faz passar a dor.

Nós, a juventude...
Como somos belos, não?
Sim, somos bonitos.

E o que mais?

Morro Porque Amo


Amo porque vivo
Vivo porque sei
Sei porque vi
Vi porque cri
Cri porque chorei
Chorei porque sofri
Sofro porque sei
Sei porque vejo
Vejo porque vivo

Vivo porque amo.

05 agosto 2006

"Uma Pausa De Mil Compassos."


Nunca fui tão infeliz.

As palavras já cessaram.
O riso já se calou.

Me restou na face um olhar de espanto.
Como quem achou que haveria um caminho.
E encontrou um muro sem fim.
Nem um passo mais é possível.

O segredo é a grande questão.
Não saber realmente porque os ombros se curvaram, cansados.

Ou saber tanto, que parece não ser possível.

"Nada sei desse mar, nado sem saber."
Ou me afogo sem saber.
"Se soubesse não nascia."

Me calarei agora.
Os dedos também cansaram de escrever sobre a dor.
E eles doem também.

Nem uma lágrima derramo.
Enquanto há lágrima há esperança.
Mas os olhos com o tempo, viram desertos.

Vida, me calarei!
Até que você mesma retire a mordaça da minha boca.
Sim, pois foi você que a colocou, não me culpe pelo desastre.

Vou me calando num processo de sepultamento.
Só o pensamento voa.
O peito suspira pesado.
As mãos tremem e caem ao longo do corpo.

Me silencio.

04 agosto 2006

Uma Terra Fria.


.....

_Mãe, qual a diferença entre amor e paixão?
_Humm.. dizem que amor é um sentimento calmo, profundo e certo. A paixão é voluptuosa e fervilhante, faz as pessoas tremerem e sentirem calafrios.
_Então a paixão é mais legal??
_Não sei..
_Mãe, quando amamos alguém, devemos dizer a essa pessoa que a gente a ama?
_Dizem que sim.
_E a senhora o que diz?
_Não digo nada, não amo ninguém.
_E papai??
_Não amo seu pai.
_E.. eu???
_Tampouco.
_A senhora se ama?
_Não.
_Nunca amou?
_Não sei.
_ A senhora é feliz?
_Não.
_Se amasse seria?
_Se eu amasse, seria mais infeliz.
_Devo amar ou devo ser igual à senhora?
_Faça o que você quiser, nada importa.
_Se eu disser que lhe amo, a senhora vai me amar também?
_Não, não funciona assim.
_O que eu tenho que fazer pra que a senhora me ame?
_Calar a boca.
.....

Esse diálogo fictício é perfeitamente possível.

Se fala tanto em amor, e nem percebemos que ele está prestes a virar lenda.
Diz a Bíblia: "Nos últimos dias, o amor de muitos esfriará."

E o mundo se tornou esse lugar terrível de se viver.

02 agosto 2006

Um Filme, Uma Obra de Ficção.

Sempre gostei de cinema.
E sempre assisti comédias românticas também.
Mas um dia, quando vivi, percebi a grande diferença.

Ainda assisto comédias românticas, mas com o mesmo espírito de quem assiste um filme de ficção científica.
Simplesmente porque na minha opinião a comédia romântica aliena. Tanto ou mais que um filme de romance mais sério, pois ela se aproxima mais do cotidiano, faz com que nos identifiquemos mais, e usa uma linguagem mais próxima do real.
Pra contar uma história muito distante dessa mesma realidade.

Há algumas semanas assisti um filme desses.
Uma mulher já na casa dos 30, era a única na família que ainda não tinha casado.
Os irmãos e familiares tentavam "arranjar alguém" pra ela.
Até que ela usou mão dos serviços da internet para encontrar um "candidato".
Apareceram vários.( Claro, porque é um filme, uma obra de ficção)

Ela foi a vários encontros e esteve diante de vários tipos de homens.
Um falava alto, outro chorava fácil, outro fazia qualquer coisa lá que não combinava com a imagem do "príncipe encantado que ia transformar a noite dela num sonho".
Ela, lógico, descartava todos esses num piscar de olhos, eram mostrados como patéticos, ridículos (talvez de fato fossem), e portanto, a "mocinha, grande estrela e mulher charmosa e especial que ela era", não merecia tal coisa.
Até que, (Claro, como é um filme, uma obra de ficção) ela encontra aquele que fala as coisas certas nas horas certas e até seus pequenos defeitos são "encantadores" e divertidos.

O príncipe encantado!!!!!!!!!

Ok, como você, pessoa comum e filha de Deus, sairia do cinema?
Mesmo no subconsciente, da próxima vez que você fosse conhecer alguém, iria aplicar uns padrões "elimina sapo/encontra príncipe".
E sinto muito, mas grandes chances seriam de você se dar muito,mas muito mal.

Porque simplesmente não estamos num filme, e o roteiro da nossa vida não foi escrito pelas mãos de um roteirista que quer arrastar pessoas ao cinema e deixá-las encantadas.

Na vida real é tão diferente...
Muitas vezes é a pessoa que fala alto, que tem um problema de dicção ou qualquer mania estranha, que vai nos proporcionar momentos de felicidade.
Mas nós nem paramos pra dar uma chance a elas... porque nosso pensamentos está em quem vai falar as coisas certas na hora certa, e cujos defeitos serão encantadores e divertidos.

Essa pessoa existe?
Pode até existir...mas pode ser que ela não goste de você... pode ser que ela more no pólo sul ou já tenha morrido no século XVII.
E aí?
E aí que o resultado será a solidão e uma vida sem amores.
Espere o príncipe encantado ou a princesa de cachinhos dourados e o que você encontrará pode ser as teias de aranha no seu quarto e seu reflexo envelhecido no espelho....passou a vida esperando.
Não estou pregando a desilusão, nem a amargura.
Estou contando que a vida precisa ser entendida como algo real onde tudo pode acontecer, de bom, e de ruim também.
E quando assistir comédias românticas, lembre-se:
É um filme, uma obra de ficção.

31 julho 2006

E A Vida Levou...


Caminhando no calçadão da av.Beira Mar, tudo tranquilo, quando de repente uma movimentação ao meu redor e vejo fiscais chegando e apreendendo as mercadorias que os vendedores expunham na calçada... cearenses e os famosos coreanos.
Tudo muito rápido, coisas sendo recolhidas, sacolas e gritos.
Ah, e choro, que esse nunca falta em lugar nenhum.

Mas lembro de uma senhora , daqui mesmo, agarrada com uma pequena bolsa, chorando e falando coisas que eu (ainda bem) não ouvi.
Só sei que a imagem dela era de uma pessoa devastada.

O que fazer se de repente suas mercadorias são apreendidas?
Nem quero saber.
Porque geralmente não temos ação.

A nossa vida é uma constante "batida policial".
No meio dos nossos planos vem um furacão e devasta tudo.
Vem uma tempestade surgida não sei de onde e nos "baratina".
Um pé chuta em cheio nosso castelo de areia.

O pior que não estávamos fazendo nada de mais.
Só vivendo.

Mas amanhã estarão lá de novo os vendedores.
E nós também sempre nos reconstruímos.
Mas não com paz e tranquilidade.
Isso é a primeira coisa que a vida se encarrega de apreender.

17 julho 2006

"O Bom Passado"

Uma das coisas mais interessantes que eu ouvi nos últimos tempos foi sobre a nossa teimosia em ter um "bom passado".
Eu ouvi sobre isso em relação à capacidade de perdoar.

Mas não sei falar disso porque perdôo fácil quando amo.
Aliás, não me conheço quanto ao perdão.
Funciono aleatoriamente: perdôo um e outro não.
Nunca parei pra pensar em como funciona meu sistema "doador de perdão".

Portanto, saber do "bom passado" na verdade pra mim abriu outros horizontes.

Nós temos uma intenção inconsciente ou mesmo consciente de querer que nosso passado seja bom, bonito e agradável.
Como um cartão-postal.

Sim, nós queremos que nosso passado seja um lindo cartão-postal.
Afinal, porque eu ocultei dos meus álbuns as fotos que estou com a boca aberta e torta ou com cara de bobo?

Porque no que representa nosso passado, deve constar o belo, sorrisos, cores vivas, pessoas que amamos.
Mas..
E quando alguém mancha nosso passado, nos magoando, mentindo, nos fazendo sofrer?!
Se hoje alguém nos fere, está marcando nosso passado, pois amanhã mesmo o dia terá ido.

Mas não perdoamos quem estraga nossa paisagem que era tão bonita!
Puxa vida, agora tenho cicatrizes, agora nosso álbum terá fotos tristes.
Ou sejam, mancharam nosso cartão-postal.

Mas quem disse que o passado deve ser um cartão-postal?
Quem disse que precisamos contar uma história cheia de coisas perfeitas?
Porque até nos contos de fadas, existem bruxas, madrastas e dragões que atormentam os príncipes e as donzelas.
Nós mesmos podemos ter estragado o cartão-postal de alguém, e por isso não merecemos perdão?

Até hoje meus maiores problemas vêm da minha dificuldade de desvencilhar do passado.
Em me conformar e aceitar as manchas.
Todo dia me esforço em limpá-las, em deletá-las, mas do meu PASSADO!

Porque perdemos tempo se há o presente para nos preocuparmos?
Uma vez um amigo defendia alguém de erros que tal pessoa cometera no passado.
Eu duro e impiedoso, disse apenas : "Não se deve esquecer o que ele fez no passado, pois não foi outra pessoa, e sim a mesma de hoje. Se foi uma cobra peçonhenta antes, hoje o seu veneno não virou suco de laranja."

Infelizmente eu tinha razão quanto à essa pessoa.
Mas fiquei triste por eu ter sido tão implacável. Hoje, sou mais flexível.

Se vamos perdoar ou não, é escolha nossa, mas entendamos se não é apenas uma vaidade tola que nos faz ter rancor por pessoas que apenas sujaram nosso passado.
Mas ninguém jamais disse que a vida de qualquer pessoa seria só flores.

E se falta motivos pra perdoar, sejamos então egoístas: guardar ódio, mágoa ou rancor causa câncer, gastrite e úlceras. Pelo menos é o que dizem, e deve ser verdade.
No mínimo essas emoções ruins endurecem a face, criam rugas e vincos no canto da boca e olhos.

Ficaremos feios de qualquer maneira na foto.

14 julho 2006

Ainda...


"E meu coração embora finja fazer mil viagens, fica batendo parado naquela estação..."

A letra da música quase me mata de susto. Porque é verdade.


Como demoramos pra superar as coisas!
Na verdade somos um projeto do que gostaríamos de ser.

"Esquecer o ruim e lembrar o bom."

Não funciona assim... pelo menos não sempre.
Pelo menos não comigo.

Ainda posso ver meu pé firmado no lugar onde fui deixado.
"Quando você se perder da sua mãe, fique parado no mesmo lugar que ela voltará e você será achado."
Talvez eu tenha ouvido isso e aplicado em tudo.
Porque não deixo o lugar onde morri!
Ao meu lado, podem haver campos verdejantes e cheios de novas possibilidades.
Eu então vou a esse campo.
Passeio por ele, deslumbrado.. vivendo tudo de novo.

Não. Mentira.
É tudo fingimento, eu na verdade ainda estou lá onde foi meu sacrifício.
Pisei em cola.
Talvez eu seja fascinado pelo meu sangue no chão.

Eu me vejo voando por outras paisagens, cheirando novos perfumes, provando outros sabores.
Porém é tudo minha imaginação.
Porque a realidade é: estou fincado no mesmo lugar.
Mas não pra sempre, creio eu, pois já me movi um bocado.

Mas entendi que por mais que eu dê voltas em novos caminhos, sempre termino na estação de antes.
Esperando, esperando...

É preciso um esforço sobre-humano pra sair de onde você me deixou... eu confundo você com a minha mãe e acho que um dia você voltará para me buscar.

Um dia pisarei de verdade nos campos verdejantes vizinhos, mas confesso que sentirei saudade do meu banquinho de onde eu via os trens passando e você ausente de todos.

10 julho 2006

A Caixa


Segundo a mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher, que , ao receber de Zeus uma caixa que não deveria ser aberta, fez o contrário: abriu-a e dessa caixa saíram todos os males do mundo.
No fundo da caixa estava uma virtude: a esperança.
Mas Pandora fechou a caixa antes que essa pudesse sair.
Portanto, segundo a lenda, a esperança está trancada, inútil dentro de uma caixa.

Nós, pra sobrevivermos, temos que pendurar a esperança no pescoço.
Porque em um determinado momento de nossas vidas, nós abrimos uma caixa.
A nossa "caixa de pandora."
Os males pulam à nossa frente, às vezes de um por um, outras vezes vêm todos de uma vez.
O que nos aflige já saiu de dentro de nós e agora torna-se real, está voando ao nosso redor.
Entrou na nossa órbita.
Nós tentamos resolver nossos problemas. Mas alguns são indissolúveis.

Em que momento abrimos essa caixa?
Quando nos conhecemos.

Quando deixamos de sermos estranhos a nós mesmos e passamos a achar familiar aquele nosso rosto no espelho.
Quando sabemos o que dói, o que fere e machuca.
Quando sabemos o que nos faz felizes.

A dica é não fechar a esperança na caixa.

Sem ela não damos um passo.
Sem ela nunca mais acreditaríamos num sorriso ou em qualquer palavra.
Se ela é burra, é um julgamento à parte.
Estúpida, irracional.. mas necessária.
Esperança é crer no que não depende de nós.

O que nos sustenta é o que nós esperamos.
Percebem?


03 julho 2006

Me Falta Açúcar


Há algo entre o doce e o amargo em mim.
Está indeciso, porque ambos têm fôrça.

É doce a canção quando eu a escuto depois de chorar.
É doce o meu olhar pra coisas belas e tristes que me pertencem.
Ainda é doce meu sorriso quando algo de bom me acontece.

É amargo o gosto em minha boca, após ouvir o "não" nosso de todo dia.
É amarga a minha voz ao desligar o telefone e dizer pra mim mesmo: "mas a vida segue..."
É meio-amargo meu chocolate predileto.

Mas esse é o equilíbrio.
É difícil gostar de um café sem açúcar (eu às vezes gosto)
Como também é complicado suportar derramar muito açúcar numa pequena xícara desse mesmo café.

O amargo demais nos causa repulsa, o doce demais nos causa repúdio.

Mas nem sempre temos a opção de largar a xícara na mesa.
A vida nos faz engolir o café sentindo todo o gosto, nada pode faltar.
Claro, isso quando ele está muito doce ou sem açúcar algum.

Quando o café está delicioso, perfeito, quente e cheiroso, a xícara quebra-se na nossa frente e o líquido corre pelo chão até o ralo mais próximo.

Hoje meu lado amargo escreve esse texto. Ele aliás, é o mais inspirado dos dois, pois a vida o alimenta mais.
Mas há a doçura em mim de escolher essa foto bonita.

Preciso de mais doce.
Mas o que eu tenho ainda está me salvando.

30 junho 2006

Nem Todos Serão Felizes

Ficção:

João e Maria se amavam, mas o pai dele, a mãe dela, o irmão dele, a prima dela, o avô dele e a arrumadeira dela eram contra o romance e tentaram impedir que ficassem juntos.
Aliás, ninguém os queria juntos, nem os amigos.

Chamaram Matilde, muito mais bonita que Maria, e a apresentaram a João.
Ele viu que de fato ela era mais bonita que Maria, mas Maria tinha a alma mais pura, era inteligente e ele a amava afinal de contas, então ele não quis Matilde.

Trouxeram Joaquim , mais bonito que João, e ainda por cima, era rico, e o apresentaram à Maria.
Maria percebeu que ele tinha muito dinheiro, e também era desejado por todas as suas amigas...mas João era mais divertido, a fazia rir, entendia o que ela falava e tinha personalidade forte, e ela também o amava.
Mandou Joaquim ir passear.

João e Maria deram as mãos e foram enfrentar a família , os amigos e agregados que os queriam separados. Os vilões inventaram mentiras, calúnias, forjaram situações para um ter raiva do outro.
Nada adiantou, eles descobriram as mentiras, desconfiaram dos planos e tudo foi desmascarados.
Os inimigos do amor dos dois desistiram e foram embora, viram que Paulo e Carolina estavam rindo muito um pro outro e resolveram que iam ser contra os dois, tinha mais futuro.

João e Maria então, se beijaram e foram muito, mas muito felizes juntos.

Realidade:

João e Maria se amavam, mas o pai dele, a mãe dela, o irmão dele, a prima dela, o avô dele e a arrumadeira dela eram contra o romance e tentaram impedir que ficassem juntos.
Aliás, ninguém os queria juntos, nem os amigos.


Chamaram Matilde, muito mais bonita que Maria, e a apresentaram a João.
Ele viu que de fato ela era mais bonita que Maria, mas Maria tinha a alma mais pura, era inteligente e ele a amava afinal de contas...
Mas percebeu também que na verdade o que ele queria era uma mulher bonita e não uma alma pura e inteligente.
Viu também que na verdade nem amava Maria, pelo contrário, ele já tinha era repulsa por ela.
Deu um chute em Maria e casou com Matilde.


Onde está Maria??
Casando-se com Joaquim, afinal ela entendeu que procurava por alguém rico e que matasse de inveja suas amigas. João era divertido, mas quando ela quisesse rir, iria ao circo.

E onde está o amor dos dois???
Está nos livros de histórias infantis, nas comédias românticas de Holywood e no coração de pessoas como eu e você.

Que perigo nós corremos não é?
Amar nessa selva é pedir pra morrer de dor.

27 junho 2006

Um Carinho Em Quem Merece


Hoje estive com dois amigos que se revelaram duas excelentes surpresas no meu dia de segunda-feira e claro, na minha vida.
Pessoas certas não apenas na hora certa, pois pra elas não há hora errada.

Então penso em todos os meus amigos.
Tenho alguns que estão por perto desde quando éramos crianças, e outros que apareceram por agora, mas que vieram pra ficar.

O que é se ter amigos? alguém sabe explicar?
É uma extensão de si mesmo?
Meus amigos serão versões diferentes de mim? Em vários modelos, tamanhos, cores e idéias?

Não, eles são bons demais pra serem minhas versões.
São todos muito eles, originais, mas tão familiares...

Pessoas belas, lindas.
Exercito com elas o amor, amor esse que em outras áreas foi sufocado.

Mas às vezes amo em silêncio, como quem não quer acordar a criança que dorme linda, ou não quer espantar o passarinho que pousou, raro e delicado, na nossa janela.

Então pronto, a amizade é rara e delicada.
É estranho falar de raridade quando vêm tantos nomes ao meu pensamento, de amigos.
Mas falo porque com meus amigos aprendi a me permitir falar e fazer.

Por isso tenho certeza, se me faltam muitas coisas , me sobram amigos.
Esses dois de hoje e aqueles da infãncia igualmente me fazem uma pessoa melhor.
Não falarei de defeitos aqui hoje.
A imperfeição deles me fascina.

É simples, o prazer de se perceber que se tem amigos mais do que a maioria das pessoas têm, me faz sentir uma espécie de privilegiado.
Não se enganem, não falo de colegas, nem de conhecidos, são pessoas que não são superficiais nas suas relações, antes, são profundas.

Queridas e queridos, vocês são responsáveis por lágrimas de felicidade terem rolado, e por outras de tristeza terem secado em meus olhos antes de molharem meu rosto, quando eu simplesmente lembrei que vocês existem.

25 junho 2006

São Pessoas Lá Fora.

Viver numa cidade grande é viver diferente.
Nem sei se é viver ou sobreviver.
O fato é que às vezes se perde a noção de humanidade.

Um dia desses, no ônibus, um daqueles garotos que vendem bala de gengibre subiu.
Era a milésima vez em uma semana.
Ele começou a falar: "peço um minuto da sua atenção, eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas não, estou aqui vendendo balas de gengibre com canela.."
Eu já me preparava pra virar o rosto pra janela, como já era hábito e como também estavam fazendo os outros 40 passageiros do ônibus.

Mas..
O menino estava falando comigo!
É como se ele dissesse : "Carlos, peço um minuto da sua atenção, eu podia estar matando.."

Eu não tinha dinheiro, e nem gosto de bala de gengibre, mas tive que olhar para ele e ouvir tudo que ele tinha a dizer.
Quando ele terminou foi passando pelos bancos e eu neguei a balinha com a cabeça.

Outro dia, passando com um amigo na rua, um mendigo, naquela situação bem típica de mendigos (sujo, bêbado, maltrapilho), nos chama : "ei, jovens."
Meu amigo continuou andando, como sempre eu também fazia.
Mas eu parei.
Eu sabia que ele ia me pedir dinheiro, e eu sabia que eu também não tinha (sim, eu nunca tenho).
Mas tive que ficar parado em frente ao mendigo escutando o que ele tinha pra me dizer.
Meu amigo ia na frente e quando notou que eu parei olhou pra mim espantado, com expressão de "por que você está ouvindo o mendigo???"
Lógico, quando ele temrinou de pedir os 0,50 centavos, eu disse "perdão,não tenho."
Acenei com a cabeça bem rápido e continuei. Meu amigo ria de mim.

E eu agora sou assim...
Uma amiga comentou "ei, percebi que os garis que recolhem o lixo na minha porta todo dia têm um rosto!"
E assim vamos percebendo que são pessoas, e nós aprendemos que quando alguém fala com a gente, o mínimo que devemos fazer é escutar.
E eu me pergunto: "pra quê?"

Isso não deve ter o menor efeito.
A minha mesma amiga me explicou: "pode não ter pra eles, mas nós nos sentimos melhor".

Que tal? detrás da minha "nobreza" de olhar pro vendedor de balinha, há o egoísmo de eu não me sentir desumano ou mal-educado.
O que nós fazemos que não seja por egoísmo?

Realmente, efeito não deve ter... mas é uma percepção inegável: "alguém me chamou e quer me falar algo!"
Algo que eu já sei, que eu não vou poder ajudar.
Mas ignorar?
Não sei nem se consigo mais.

Mas continuo me perguntando:
É hipocrisia minha?
Ou é puro egoísmo?

Mas nada muda na minha cabeça o fato de que , quando alguém, que nasceu de uma mulher, que respira, pensa e tem uma personalidade, chega e diz "por favor, um minuto da sua atenção" eu não deva virar o rosto e fingir que não ouvi.
Pelo menos dizer "não, não dou" eu sinto vontade de dizer!
Mas às vezes isso me soa incoerente.
Chegamos ao ponto de discutir se é coerente prestar atenção a pessoas que viraram "semi-humanos" na nossa percepção só porque pertencem a uma "classe social inferior".

É confuso e triste,não acham?

Mas já posso até ouvir os comentários:
"_Ah,tenho um amigo que toda vida pára e ouve o que os mendigos vão pedir, mesmo que ele não tenha nada pra dar!"
"_Kkkkkkkkk, quero ver no dia que ele for assaltado!"

Puxa, como é desconfortável sair de casa às vezes.

23 junho 2006

A Fera E O Belo


Adoro gostar do que é feio.

Mas, ultimamente , tenho me irritado com defeitos.
Os meus defeitos, das pessoas e das coisas.
Me martirizo porque rejeito a afeição ao belo somente.
Ao útil, ao perfeito e ao harmônico.

É uma pena, porque...
Quero gostar de dissonantes, de cores que não combinam.
Quero não sentir calafrios quando alguém é mesquinho.
Gostaria muito também de não me castigar por acreditar nos outros.

Peço desculpas ao mundo, mas só suporto meus próprios defeitos, pois eu que me conheço, os justifico.

Queria não ter prazer de me livrar de algo que me incomodou.
Mas ultimamente sou mais prático que piedoso.
Mas ainda assim, sou tão capaz de amar!
Como na mesma medida desprezo quem mereça.

Certas pessoas, em silêncio pedem para ser queridas
Nem percebem que num gesto livre, numa palavra não calculada, estão sendo lindas e adoráveis.
Despidas da beleza dissimulada e vestidas completamente do encanto espontâneo.
Eu as amo irracionalmente (e se ama racionalmente?).
E muitas delas nem sabem, e talvez nunca saberão.

Outras pessoas, em silêncio pedem para serem desprezadas.
Mas essas calculam seus venenos, se orgulham da sua perversidade.
Se dissimulam, mentem, se limitam e aos outros.
Tão fácil se ter aversão por elas, pois elas gritam por isso.
E eu as desprezo sem remorsos nem pudores.

Porque também posso ser amado por uns (como sou)
Como posso ser desprezado por outros (como fui)

Mas é a plenitude quando alguém, desprevinido, é lindo.
Tanto quanto me revira o estômago quando alguém tenta simular uma virtude que não tem.

O que eu tento pedir é verdade!
Sejamos lindos ou feios, mas sejamos verdadeiros.
A verdade é o cosmético mais poderoso que existe.
O elixir da beleza eterna.

Mas apesar de tudo, não temo a contradição, ela faz parte de mim:
Eu amo o que em mim é feio
Porque confio mais nele do que naquilo que eu tento tornar belo.

21 junho 2006

Olhai Além


Vendo essa foto percebo que sempre olhei além.
Mesmo quando a vida era só escola-brincadeira-escola.

Mas meus olhos sempre foram tristes.
Veio a miopia, astigmatismo, mas a tristeza nunca saiu de lá.

E anos se passaram. Pra onde eu olho hoje?

O que eu vejo se olho desprevinido ao redor é essa solidão, essa frustração geral e essa estagnação generalizada.
O que eu vejo no passado é uma sucessão de "quase" "se" "por pouco" "não" "nunca" "depois".
E o que eu vejo no futuro é...
Que é melhor olhar além.

Olhai além
Porque além existe a esperança
Existe a crença que amanhã será diferente.
Além existe um descanso, um oásis.

Além do que?
Além de tudo.

Desde que meus cabelos eram loiros eu olho além.
Já tenho os olhos cansados.
Meus cabelos e minha alma já escureceram
Os desgostos da vida me tingiram de tons escuros.
Mas ainda olho além.
E cada vez mais, porque afinal
Há algo melhor pra se ver?
Além..

Sempre.

17 junho 2006

Só Louco.

Fui imprudente.
Quando? Desde que nasci até hoje.
Agora vou falar a alguém : ei, você!

Por que me deixou chegar a esse grau de loucura?
Tirei de mim mesmo a responsabilidade e capacidade de me fazer feliz.
Eram meus acessórios, retirei-os, fiz um pacote e distribuí.
Você recebeu a maior parte.
E o que você fez?

Tão sem juízo quanto eu, você foi brincar de ping-pong com eles.
Fez malabarismos, guardou numa gaveta velha e empoeirada.
Meu Deus! Você até os usou pra calçar a porta da geladeira quebrada!

E eu enquanto isso estava correndo pra lá e pra cá...
Como quem foi assaltado, eu estava procurando a polícia.
O "pega-ladrão!!" prestes a sair da minha garganta.
Mas iam dizer: "não foi roubo, você entregou porque quis, garoto maluco!"
E tudo que eu não precisava era de reprimendas.

Porque exatamente isso não dei a ninguém.
Eu me recriminava o tempo todo.
Mas que adiantava?
Então joguei isso no lixo mais próximo.

Fiquei sem nada!
Lembrei que entreguei a outras pessoas também, fui atrás delas.
Umas tinham perdido meus presentes.
Outras devolveram, mas tudo quebrado e estragado.
Outras compraram coisas novas, tentando substituir, mas nem reconheci, eu queria os meus!
Ninguém me amou o suficiente pra cuidar deles.

Mas você conseguiu ser pior que todos, você brincou de ping-pong!
Brincar eu não perdôo.
Aliás, com quem deixei minha capacidade de perdoar?

Finalmente, sentei numa pedra qualquer na estrada e fui calcular os estragos.
Mas depois de um milhão perdi as contas.
E decidi.

Fui até você
Como devolveram só um pedaço da minha auto-estima, ainda tentei que você me fizesse feliz.
Mas foi em vão, é porque você não queria mesmo!
Peguei com ódio no olhar minhas capacidades de volta.
Ódio insano, lágrimas de "não me deixe fazer isso".
Mas você não só deixou como sorriu contente e saiu cantarolando, muito feliz.

Nem olhou pra trás...
Porque teria me visto tentando recolocar tudo no lugar.
E quando eu estava procurando uma pedra pra jogar em você, eu achei minha maturidade no fundo da sacola.

....

Viram que irresponsável eu fui!?
Quem consegue pensar, faça isso mil vezes antes de entregar aos outros a responsabilidade de lhe fazer feliz.
A pessoa pode simplesmente jogar ping-pong com seus sentimentos.
E depois você fica como eu, patético, tentando reaprender a se amar.

15 junho 2006

Vou Ver Lá Fora....


Saio de mim e vou até a porta do meu ser para olhar pra fora.
Da janela da minha consciência vejo o mundo.
Essa janela tem jarros de sonhos, flores de desejos e cortinas de ilusão.

Lá fora tudo é brincadeira de criança.
A árvore que era pra ser verde, é verde realmente.
O sol é amarelo, como eu pensava.
O ceú é azul!

Eu me debruço pra ver o mundo, meus cotovelos estão confortáveis.
O mundo é aquilo mesmo.
É por essa grama que as pessoas devem caminhar.
Construir um balanço naquela árvore, pois falta o som das crianças brincando...

Humm...
Não falta só isso não...
Parando um pouco pra pensar falta muita coisa..

Falta eu pertencer a esse mundo
Onde a árvore é verde e o sol amarelo.
Falta eu entender esse mundo
Eu, acostumado já que estou ao não-sentido das coisas.

Falta eu perceber que esse sol me queima
Falta eu perceber que o cupim da árvore vai derrubar meu teto e minha casa.
Falta eu perceber que meus cotovelos sangram.
E não só eles, mas minhas mãos também, pois as flores de desejos têm espinhos e são afiados.

Mas já percebi algo.
Sair de mim e ir até a janela da minha consciência é perigo de morte.

14 junho 2006

...Não.


"Nascer me estragou a saúde"
"A vida é um soco no estômago"
"Se soubesse não nascia"
"Viver me deixa trêmula".
(Clarice Lispector)

Concordo, Clarice.

Bem que poderia ser diferente.
Como eu gostaria de uma foto colorida e um texto sobre coisas lindas e belas como o amor, a alegria, etc.
Quem sabe um dia...

Hoje sou essa escuridão.
Porque cheguei bem perto do sorriso, mas um tapa me fez engolir a seco qualquer proposta de alegria.
Hoje sou essa não-esperança.
Porque quem nunca cansa de fazer sempre a mesma coisa é a máquina, e não o ser humano.

Ser humano cansa de ouvir tantos "nãos".
E nenhum "sim".

Hoje dei adeus a alguém...e na minha despedida deixei uma canção que falava sobre "castelos no ar".
Falava também sobre um certo rosto que não seria visto novamente.
E finalmente dizia "salve-me de toda aflição e de toda dor".

O triste é que não será meu último castelo no ar, nem estarei livre daquele rosto pra sempre, e ninguém me salvará nem da menor nem da maior dor.
O triste é que meu tema é sempre o mesmo.

Dar adeus a alguém é também dar adeus a algo em nós mesmos.
É dizer "desisti de algo que importa".
Sinto que logo vou voltar a ver quem hoje eu deixei.
Mas nada será igual... o que era pra ser hoje, perdeu-se pra sempre.

Viver também me deixa trêmulo, Clarice.
Pelo menos nessas horas de terremoto.
Posso me considerar um sobrevivente a ele?
Não sei.
É que um dia, desviaram meus rios...

12 junho 2006

"Solidão" (Pode Chamar De Despeito)

Escolheram o dia 12 de junho pra chamar de "dia dos namorados". Nesse dia, os casais supostamente confirmariam o seu amor um ao outro trocando presentes, saindo pra jantar,passear... enfim, um dia perfeito, de amor e carinho.
Mas dá vontade de rir, porque o ano tem 365 dias (isso se não for bissexto).

Nem preciso falar do grau de opressão que sofrem os solteiros nesse dia.
Os solitários muito mais.

Hoje, "dia dos namorados", vou falar sobre solidão.
Simplesmente porque acho mais interessante, mais real.
A solidão não é uma alegoria folclórica, não é uma moda inventada pelo capitalismo e pelas indústrias de consumo, a solidão (embora também seja um mercado) não é necessariamente um modo de vida bem aceito na sociedade.

Temos que ter muitos amigos, um bom namoro (ou pelo menos uma vida sentimental "agitada"), ir pra lugares legais, vestindo roupas legais e sem demonstrar o menor sinal de algo negativo no rosto.
E o que se faz com a cicatriz da ferida da solidão? Há maquilagem suficiente para escondê-la?
Tem que ser a prova d'água, porque se chora muito.

É maldita a dor da solidão, é banida da sociedade. Todos na escuridão das suas cavernas choram por serem sós.
Mas e do lado de fora, à luz do dia ou da noite? Aí não! Todos são felizes, populares e "poderosos".

O que não se sabe é que os casaizinhos de namorados que passeiam por aí de mãos dadas hoje, são solitários. Por que? Como?

Pergunte a eles, eu não falarei mais deles aqui porque a televisão, outdoors e todos os meios de comunicação e vendas já fazem isso o suficiente. Meu discurso parece meio despeitado, mas que se dane...

Falo é de solidão,mas sem me aprofundar, porque a solidão é rasa, é agonia, é peso.
Não a solidão que começa a ser vendida também por aí: "às vezes é bom ficar só."

Mas a solidão de SABER que se está só, que só você se conhece, que ninguém gosta mais de você do que você mesmo.
Mesmo pra quem a conhece de perto, pra quem ela está sempre junto, é sofrido se falar dela.
É como uma cirurgia sem anestesia.
Porque a solidão é deserto, é ausência, é falta de perspectiva.
A solidão é um buraco no estômago, é uma respiração difícil, é uma dor de dente.

Remédio contra ela? Eu não sei qual é...
Existe?

10 junho 2006

Você Mudou Hoje?


Eu sinto que preciso falar sobre mudança.

Aliás, sinto que preciso falar sobre uma porção de coisas, sobre meus sonhos de uma semana atrás, sobre a decepção de alguns dias e sobre a ira de algumas horas.
Mas tudo já mudou.
Porque se não mudasse eu estaria preso, louco , ou as duas coisas.
"Cambia, todo cambia" já diz Mercedes Sosa na sua cantiga (adoro citar músicas, por que afinal, pra que elas nos servem senão pra ensinar coisas?).
Sim, muda... tudo muda.

Muda meu discurso, muda meu sorriso e muda a minha maneira de dizer "oi".
Muda minha risada e muda o jeito que eu balanço a cabeça de desaprovação aqui na frente do monitor.
Muda o som da minha voz e o final das minhas frases.
Mudanças imperceptíveis ou drásticas.
Mas muda.
Tudo mudou e caminha pra mais mudanças.

Sempre pensamos em mudanças como a metamorfose da lagarta em borboleta, uma morena que vira loira, um sapo que vira príncipe, um trigo que vira pão.

Mas e a mudança na minha maneira de dizer "oi", alguém notará?

Você notou as suas mudanças?

Porque surpresa! Você mudou!

Oi, estranho.

09 junho 2006

Esperando Quem Não Ficou De Vir...


Eu estava dentro do ônibus quando uma cena que eu já tinha visto inúmeras vezes(e aconteceu comigo também) dessa vez me chamou a atenção.
Um homem deu sinal e o ônibus não parou.
E ele ficou lá... um misto de indignação, vergonha e frustração.
Mas pelo menos foi o ônibus que não parou.
Porque há o movimento da felicidade...

A felicidade (seja ela o que representa pra cada um), vive passeando por aí (como um ônibus).

Esperamos às vezes pacientemente na parada...e a felicidade vem numa velocidade de quem não espera por ninguém... estendemos o braço pra ela parar e ela pára sim,um pouco a frente. Corremos e subimos nela num susto só.
E prosseguimos a viagem, satisfeitos, estamos felizes e foi por pouco.

Ou esperamos pouquíssimo tempo e lá já vem a felicidade: lenta, vagarosa, quase parando... Abre as portas na nossa frente, respondendo ao nosso débil sinal. Com tanta facilidade, nós pensamos duas vezes antes de subir (será que é o ônibus certo?).
E subimos, olhando ao redor, desconfiados... tudo muito fácil provoca suspeitas. Mas depois de um tempo, relaxamos e vimos que estamos no caminho certo. Era o que esperávamos.

Acontece também de nos atrasarmos por algum motivo banal, e quando chegamos ao ponto, a felicidade acabou de passar, podemos vê-la se afastando de nós, e ainda, pra provocação ser completa, ela levanta uma nuvem de poeira atrás de si, sujando nosso rosto já decepcionado.

Mas o mais comum de acontecer é o seguinte:
Nós, diligentemente, e no começo até animados, vamos ao ponto, na hora certa, crédulos. A felicidade está chegando.
Mas o tempo passa, chega a tarde, a noite, dias, meses, anos. E nada.
Nos indignamos, reclamamos do sistema, às vezes damos uma olhada ao redor do quarteirão, choramos, nos recompomos, acreditamos que houve um grande atraso,mas que ela está chegando...

Mas não.
Ela não vem.
Teve a rota alterada, errou o caminho, ou escolheu outro itinerário mesmo.
E quando a gente percebe... já é tarde demais.
Chegou a hora de fechar os olhos pra sempre.

07 junho 2006

Estúpida Esperança


Me disseram "não"... eu ouvi "talvez"

Me disseram "nunca" .... eu ouvi "algum dia"

Me disseram "é impossível"..... eu ouvi "quem sabe.."

Me disseram "suma daqui!"... eu ouvi "volte depois"

Meu ouvido da alma é surdo e me causa terríveis dores.

06 junho 2006

Pra Se Falar De Amor


É preciso amar?

Pra se falar de dor, é preciso amar?
Pra se falar de solidão, é preciso amar?
Pra se falar de saudade, é preciso amar?

Pra se escrever uma poesia, é preciso amar?
Pra se cantar afinado, é preciso amar?
Pra se tocar um violão, é preciso amar?

Pra se gostar de cachorros, é preciso amar?
Pra ter paciência com crianças, é preciso amar?
Pra se achar bonito o pôr-do-sol, é preciso amar?

Pra dormir tranquilo, é preciso amar?
Pra passar a noite em claro, é preciso amar?
Pra acordar sorrindo, é preciso amar?
Pra acordar chorando, é preciso amar?

Pra nascer, é preciso amar?
Pra morrer, é preciso amar?
Pra viver, é preciso amar?

Pra viver, é preciso amar???

A pergunta que não se cala.

04 junho 2006

Para Todos

É um risco viver.

É fatal viver porque existem os erros e os acertos, e foi escrito que a tendência maior é ao erro.
Estamos fadados ao erro.

Estamos?

Ahhhh, dizem que errando se aprende: bom....sei que errando se aprende a errar diferente da próxima vez.
Mas de maneira alguma errar diferente é acertar. A gente só acerta quando sorri, e aí sim, é o verdadeiro aprendizado.


Aprender a sorrir nos acertos e chorar nos erros... alguém já falou pra sorrirmos quando nossos castelos desmoronarem. Me recuso. Se sorrir, será de íntima ironia, massacre cruel de mim mesmo.
Mas jamais sorrir por esperança ou “ooh, eu aprendi com o erro”.

Uma vez sorri assim e me olhei no espelho: não havia face mais patética e degradante, como se eu estivesse me arrastando atrás de algo.
Reação ao erro: praguejar, irar-se, ou chorar de ódio a si mesmo por ter errado, ou pela situação que lhe levou aquilo.

É saudável. Sorrir não.

De tantas terapias e “métodos” que ouvimos das gerações que se julgam mais esclarecidas, estamos invertendo nossas reações de instinto e virando seres estranhos: sorrimos quando fracassamos, choramos de melancolia quando acertamos... e os animais?
Se alguém lhes rouba a comida, eles não sorriem, eles rosnam e atacam. São irracionais, alguém dirá.

Nós também, às vezes somos. Talvez eles sejam mais felizes que nós.
Mas enfim, animais também são tolos.

O cachorro fica alegrinho olhando pro dono que as vezes não quer sua companhia.
O cachorro não entendeu o fracasso dele e “sorri”.
Se você entender que fracassou, não sorria!


Mas também não fique aí chorando e praguejando a vida toda, vá em busca do próximo erro ou acerto, porque a vida se resume apenas nisso.

Reação ao acerto: pela lógica, é a nossa obrigação acertar, mas na prática sabemos que tem o valor de um milagre, então porte-se como diante de um milagre: “eu acertei” e saia com um sorriso nos lábios e nos olhos, e se você souber como, no corpo também.
É lícito sorrir na vitória; você jamais terá tanta beleza.
Saia também cantando: tenha bom gosto e escolha uma música que você ame, que tenha cordas e elementos que lhe levem à uma fantasia, lembra que foi um milagre?!
Se quiser chorar, sim, até que sim, mas mantenha o sorriso, porque ele é uma raridade, tem valor maior que o ouro e o diamante, o sorriso da vitória.


Ou você pode fazer o contrário do que indico, pois você pode acertar e eu estar aqui errando....
Nada tem a ver com otimismo, pessimismo ou realismo, qualquer pessoa que seja mais isto ou aquilo, é da mesma índole humana e portanto, chorará ou sorrirá. Por mais otimista que seja, sofrerá. Por mais pessimista, sorrirá de alegria. Por mais realista, em um momento não saberá o que é fantasia ou realidade.


Vamos levando a vida assim, acertando e errando, tentando ou desistindo.
Não pare pra pensar demais, nem ande sem freios, oportunidades de erro e acerto nos cercam todos os dias.
E porque estamos fadados ao erro, não há porque desespero perene nele.
Vamos levando a vida assim, a chorar e rosnar com os erros e sorrir vitoriosos com o milagre do acerto.
Vamos levando assim, sendo levados pelas escolhas, ora delícias ora cruéis que somos obrigados a fazer.
Acertar, errar, sorrir, chorar, amar, odiar, assustar-se, tentar e desistir; a vida se resume nisso.
Mas continua sendo um risco.


Fatal.