03 outubro 2006

Pra Não Se Deixar Morrer

Ouvi uma voz cheia de emoções.
Era Maria Callas, soprano americana filha de gregos que nasceu em 1923 e tornou-se diva dos palcos mundiais.
Deixou de ser gordinha e agradou com a silhueta de sílfide, casou com um homem muito mais velho.
Mas não o amava nem sentia prazer com ele.
Somente aos 36 anos foi que ela descobriu o amor e a plenitude do sexo, ao se apaixonar pelo magnata grego Aristóteles Onassis.
Deram-se os escândalos de separações e divórcios, e o tempo passou rápido.
Pelo mesmo homem com o qual aprendeu a amar, aprendeu também o que é a humilhação e o sofrimento.
Quando sua voz estava comprometida, ouviu o amado se referir à sua voz como um "reles apito na garganta".
E ela que declarou uma vez aos jornais "só quero ter um marido, filhos e cachorros."
Ela era temperamental, uma vez abandonou uma ópera na metade porque o público não a tinha aplaudido satisfatoriamente no fim do primeiro ato(nesse público estava o presidente da Itália na época).
Um belo dia, seu amado magnata resolveu que ia casar com a viúva do presidente dos EUA, Jacqueline Kennedy.
A "diva" era descartada.
Saiu com a irônica frase: "Creio que a senhora Kennedy fez muito bem em arrumar um avô para seus filhos".
A partir daí, nada mais fez sentido pra ela.
A voz nunca foi recuperada , a carreira foi-se tornando algo muito distante e sem importância.
Foi pra França e lá morreu, sozinha, aos 53 anos, de um ataque cardíaco..
Aliás, dizem que ela "se deixou morrer"
Definhou.

O resumo da história de Callas termina aí.
Minha colocação começa dizendo que ao amarmos, temos que saber que estamos nos arriscando.
A termos momentos de felicidade ou de tormento profundo.
Pode-se atingir as mais altas notas, lotar estádios.
O amor pode ser nosso maior ornamento, nossa maior beleza.
Como também pode roubar nossa voz, nosso gosto pela vida e provocar nossa morte.
Por isso muitos abandonam o palco na metade da ópera.

Ser desprezado por quem se ama loucamente...
O amor é fatal quando é incondicional.
Se ama porque se ama, e não porque se espera receber algo em troca.
É uma dor lancinante, um parto que nunca termina.
Mas infelizmente tem que se viver "apesar de." .

Existem momentos de alívio... uma bela música, uma conversa com amigos, uma água de côco na praia, ou o seu prato preferido.
Por a vida nos compensar com essas coisas que nem todos têm, a gente entende que se deve continuar.
E por nós mesmos, é olhar no espelho e dizer :"Vivo porque mereço."

O público também não me aplaude como eu gostaria, mas eu me aplaudo bem.
Eu já não espero que me amem mais do que eu mesmo me amo.
E digo isso pra quem eu amo:
NÃO ESPEREM QUE ALGUÉM AME VOCÊS MAIS DO QUE VOCÊS MESMOS!
Digo porque conheço pessoas maravilhosas que não são aplaudidas satisfatoriamente.
Lembro a vocês que ás vezes o público é medíocre e não sabe o que é bom.
Aliás, quase sempre.

Afinal, sobre o que é todo esse texto?
Sobre a soprano que se deixou morrer.
Sobre amor e desamor.
Sobre eu e você.
Que vivemos e amamos.

Mas que se Deus quiser, não morreremos por isso.

3 comentários:

Anônimo disse...

"NÃO ESPEREM QUE ALGUÉM AME VOCÊS MAIS DO QUE VOCÊS MESMOS"


Acho que nem preciso comentar mais nada ne ?
abraços
=]

Josy Lima disse...

o Jack mencionou um trecho...eu menciono esse outro q me identifiquei bastante:

"Se ama porque se ama, e não porque se espera receber algo em troca."

Perfeito!

Ka disse...

Tbm menciono o trecho da Josy!
The best! ;)