30 agosto 2008

Uma Única Manhã

Vento frio, sol lá fora.
E penso: "como pode?"
Mas sei que é algo comum de acontecer, eu é que apenas hoje parei pra perceber, ou minha pele está ao avesso e sinto mais as coisas porque a parte sensível está exposta.
Portanto soube o que é comum às manhãs.

Imediatamente me cubro novamente, porque é grande o risco de infecção.
No ar flutuam seres invisíveis que a biologia põe nomes estranhos e eu simplifico: perigosos.
Seres perigosos a mim, que ando com a imunidade baixa desde que chorei de susto por saber que a vida é, simplesmente.

E por a vida simplesmente ser, é preciso estar com todos os poros desobstruídos e o sangue quente, fino e vermelho para quando o corte, termos dignidade ao sangrar.
Hoje já sangrei, cortado pelo vento frio.

Por a vida ser, e ventar frio e o ar estar infestado de seres perigosos pra mim, é que contraditoriamente, passo a descansar e relaxar: é coisa demais para lutar contra, e como diz a música: "I ain't gonna study war no more" e batalha inútil é batalha vencida.

Pronto, o vento deixou de ser frio, pois se aproxima o meio-dia.
Logo o céu estará daquele tom azul-falso-alegre tão comum na vida da gente.

Mas uma nuvem cinza teimosa continua no céu, pois assim como eu, ela sabe que não precisa mais guerrear nem chover, pois já venceu; já houve o vento frio, ele já me cortou e eu sangrei, e do sangue brotaram palavras aladas que eu amarro ao pé da minha cadeira, pois sou apegado a certos seres alados, invisíveis e perigosos a mim.

02 agosto 2008

Em Sã Loucura


Ah, e eu vim te buscar pela mão,vem, segura minha mão, anda, segura!

Para acabar com essa sensação de mãos vazias, essa sensação de não ter você ao lado, essa sensação de não ter...
E sabes que venho te buscar com lágrimas nos olhos porque sei que tu não queres vir comigo!
Ah que cruel, tu não queres vir comigo!

Pois saibas que comigo tu não te transformarias, comigo não nasceria um fio de cabelo branco sequer em ti, comigo tu não engordarias um quilo, comigo tu serias sempre igual, porque eu te conservaria assim.

Porque eu te quero assim, na minha loucura, e na minha loucura, tudo é permitido.

Se tu viesses comigo, tu não me farias chorar mais nem uma lágrima, tu me farias cantar todas as manhãs e dançar todas as tardes, se tu viesses e estivesses comigo eu não envelheceria um dia mais sequer.

Porque enlouqueci com minhas faculdades mentais em ordem. Eu enlouqueci em plena consciência. Em desespero.

Porque o desespero nada mais é que a loucura consciente da desesperança, do seu não-estar aqui, de eu definhar sem que tu venhas.

E como insano, sou capaz de sorrir, e até viver! Com a mão estendida, sempre murmurando, triste e louco: "Vem, vem..."

Mas sei que tu não vens, mas não sei porquê, e sei que tu não virias jamais, porque sou louco mas não sou estúpido, porque devaneio e alieno, mas a consciência lá está, impávida, dura como rocha, fria e carrasca me dizendo:
"Tu não és louco e sabes que estás só, recolhe tua mão e deixa de fingir o amor que tu não tens."

E então não te espero nem te chamo mais, pelo menos por hoje, por agora e por esta hora amanhã.