31 outubro 2006

Haja Luz!


Acende a luz da minha alma, está escuro!

Um blecaute, foi o que aconteceu.
É quando a pessoa que se ama é cruel com você.
Se apaga uma porção de coisas, mas a luz do amor é a mais resistente.

Antes ela queimasse para sempre.
Um dia me disseram: "se me maltrata, perco o amor, sou mais eu, não preciso disso, encontro alguém melhor, blá blá blá."
Nunca me convenceu... sempre li "auto-afirmação inútil" na testa e nos olhos dessas pessoas.
Tão cheias de si ao defenderem esse discurso, saíam se arrastando de tão infelizes depois.

Sou sincero e realista: amo e pronto.
E repito: é incondicional, não se ama só quem retribui.
Se ama porque se ama e só.
Quem tem sorte é amado de volta
Quem não tem sofre e torce pra o amor se acabar.

Outros me disseram : "sei como é difícil, não é só apertar um botão e dizer :pronto!! não amo mais!"
Nunca me conformei.
Porque é assim que devia ser.

Acende a luz dos meus olhos, está tudo apagado.
Mas a cidade não oferece sua eletricidade.
Malditos os que podem mas não devolvem à luz ao cego.

Adoça minha língua porque está tudo amargo.
Meu desejo, meu amor... é que um dia sofras como eu.
Finalmente saberias.
O que é a escuridão que promoveste.
Tu, que tens tua casa sempre tão iluminada, protegida pelos geradores do egoísmo.

Farei uma fogueira ou acenderei uma frágil vela pra dissipar minha escuridão.
Não serei iluminado suficientemente.
Mas poderei enxergar vultos e esperanças movendo-se ao meu redor.

15 outubro 2006

Ao Voar...


Tentei saber o mínimo possível a respeito da queda do avião da Gol, mesmo sendo classificada como a maior da história da aviação brasileira.
Procurei não ouvir as notícias nem ver o rosto de nenhuma vítima; quis me poupar de qualquer angústia a mais.

Mas um detalhe me caiu de pára-quedas e eu li e depois que eu li já não havia volta.
Eu, que me poupei de saber de várias coisas da tragédia soube exatamente de um fato:
Algumas vítimas foram encontradas fazendo "figa" com os dedos.

Esse detalhe arrasador me encostou na parede com tal violência que fiquei estarrecido.
Mudo meu pensamento sempre que começo a imaginar o momento final.
A "figa" não se desfez.

Será que já morremos e não sabemos que nossas figas não funcionaram?
Será que estamos fazendo figa enquanto nosso avião está caindo?
Se não cremos mais nos nossos desejos de melhoras, em que vamos crer?

Saber que mesmo se fazendo figa pra viver, se morre, é aterrador.
Quanta dor há no mundo, pra quem vai e pra quem fica.
Que figa nenhuma dá jeito.

Sem ver o rosto de nenhuma das vítimas do vôo, eu me aproximei de todas elas, entendi quem eram e como viviam.
Faziam figa.

Nós, no nosso ocupado dia a dia de pessoas dos anos 2000, nem fazemos figa pra continuarmos vivos.
Talvez porque não temos ao nosso alcance a idéia concreta da morte, ou porque as figas estão dimensionadas de outras formas.

Quem ama a vida agradeça por ela.
E faça figa se achar que funciona, pra que a vida da vida nunca nos deixe.
E não sejamos mortos que apenas fazem figa por reflexo ou por lembrança do desejo de um dia passado.

04 outubro 2006

O "Clique" Mágico.

Em todos os sites que vou, vejo o pequeno link escondido em algum canto : "Ajuda".
E geralmente com um ponto de interrogação por perto, como se automaticamente, ao surgir a duvida, a "Ajuda" fosse providencialmente esclarecê-la.
Ultimamente tive uns problemas num site e fui clicar na tal "Ajuda", que me mandou digitar uma palavra-chave.
Digitei várias e a "Ajuda" não pôde me ajudar.
"Não existem registros contendo a palavra digitada."

Mas ela já me esclareceu também várias vezes.
Adoro quando ela é passo-a-passo.
Odeio quando ela diz coisas óbvias como "você verificou se a tomada está ligada?".

Acho que devíamos ter esses links de "ajuda" sempre ao nosso redor, pra toda espéice de problemas.
Nem que sejam pra nos proporcionar o prazer de dizer "Pois eu procurei taaaaanto na ajuda e não encontrei!"
Justificativas, elas nos fazem bem.

Quase sempre depois da "ajuda" eu clico em "sair."
Essa sim resolve todos os problemas, mas a gente também acaba junto com eles.
Menos mal.
Queria que meus problemas viessem com a opção "sair" e quando eu clicasse nela, eles desaparecessem como os sites que eu fecho com um clique do mouse.
Vão me dizer que eles têm essa opção sim, assim como a "ajuda".
Mas eles parecem mais como quando meu computador trava e não responde aos meus comandos.
Clico insistentemente o mouse sobre o X de "fechar" e nada.
Continua lá, desenrolado à minha frente, me desafiando...

Mas sempre temos um às na manga.
Pequeno botão de "reiniciar".

Aguarde enquanto sua vida é reiniciada.

03 outubro 2006

Pra Não Se Deixar Morrer

Ouvi uma voz cheia de emoções.
Era Maria Callas, soprano americana filha de gregos que nasceu em 1923 e tornou-se diva dos palcos mundiais.
Deixou de ser gordinha e agradou com a silhueta de sílfide, casou com um homem muito mais velho.
Mas não o amava nem sentia prazer com ele.
Somente aos 36 anos foi que ela descobriu o amor e a plenitude do sexo, ao se apaixonar pelo magnata grego Aristóteles Onassis.
Deram-se os escândalos de separações e divórcios, e o tempo passou rápido.
Pelo mesmo homem com o qual aprendeu a amar, aprendeu também o que é a humilhação e o sofrimento.
Quando sua voz estava comprometida, ouviu o amado se referir à sua voz como um "reles apito na garganta".
E ela que declarou uma vez aos jornais "só quero ter um marido, filhos e cachorros."
Ela era temperamental, uma vez abandonou uma ópera na metade porque o público não a tinha aplaudido satisfatoriamente no fim do primeiro ato(nesse público estava o presidente da Itália na época).
Um belo dia, seu amado magnata resolveu que ia casar com a viúva do presidente dos EUA, Jacqueline Kennedy.
A "diva" era descartada.
Saiu com a irônica frase: "Creio que a senhora Kennedy fez muito bem em arrumar um avô para seus filhos".
A partir daí, nada mais fez sentido pra ela.
A voz nunca foi recuperada , a carreira foi-se tornando algo muito distante e sem importância.
Foi pra França e lá morreu, sozinha, aos 53 anos, de um ataque cardíaco..
Aliás, dizem que ela "se deixou morrer"
Definhou.

O resumo da história de Callas termina aí.
Minha colocação começa dizendo que ao amarmos, temos que saber que estamos nos arriscando.
A termos momentos de felicidade ou de tormento profundo.
Pode-se atingir as mais altas notas, lotar estádios.
O amor pode ser nosso maior ornamento, nossa maior beleza.
Como também pode roubar nossa voz, nosso gosto pela vida e provocar nossa morte.
Por isso muitos abandonam o palco na metade da ópera.

Ser desprezado por quem se ama loucamente...
O amor é fatal quando é incondicional.
Se ama porque se ama, e não porque se espera receber algo em troca.
É uma dor lancinante, um parto que nunca termina.
Mas infelizmente tem que se viver "apesar de." .

Existem momentos de alívio... uma bela música, uma conversa com amigos, uma água de côco na praia, ou o seu prato preferido.
Por a vida nos compensar com essas coisas que nem todos têm, a gente entende que se deve continuar.
E por nós mesmos, é olhar no espelho e dizer :"Vivo porque mereço."

O público também não me aplaude como eu gostaria, mas eu me aplaudo bem.
Eu já não espero que me amem mais do que eu mesmo me amo.
E digo isso pra quem eu amo:
NÃO ESPEREM QUE ALGUÉM AME VOCÊS MAIS DO QUE VOCÊS MESMOS!
Digo porque conheço pessoas maravilhosas que não são aplaudidas satisfatoriamente.
Lembro a vocês que ás vezes o público é medíocre e não sabe o que é bom.
Aliás, quase sempre.

Afinal, sobre o que é todo esse texto?
Sobre a soprano que se deixou morrer.
Sobre amor e desamor.
Sobre eu e você.
Que vivemos e amamos.

Mas que se Deus quiser, não morreremos por isso.