27 dezembro 2010

Umas Palavras Delicadas

Porque meu aniversário está próximo
E somente no plano astral há movimentação.
Aqui na terra, por dentro de mim
Tudo igual.

Vou lembrar da mão pequena, que eu gostava de segurar
Das dores nas costas
Tomando café sozinho
Frequentar casas estranhas

Almoçar sozinho
Vou lembrar da sobremesa que não deu certo
De umas tardes chuvosas de dezembro, alegre surpresa
A chuva veio pra me dizer "olha, que bonito, o céu cinza, fica feliz!"

Jantar também sozinho, comida muito salgada
A saúde desenfreada, eu vestindo qualquer roupa.

Vou lembrar que desanimei
Que não gosto mais de cantar certas canções
Que não quero mais o amor e nem rostos e nem bocas pra beijar.
Que me animei a querer dinheiro.
Sim, quero o que não se leva da vida, pelo menos agora.

Escrever dói menos que antes, pelo menos isso.
Vou lembrar que esqueci tanta gente
Gente que precisava ser esquecida.

Vou lembrar que esse ano também fui a hospital
Vou lembrar, com rancor, de tudo que não fui poupado.
A meta de naão guardar rancor, fica pra depois.

Vou lembrar de belas imagens, na madrugada
De novo da chuva rara em dezembro.
Meu óculos quebrando no natal, como um signo de que tudo precisa mudar.

Vou lembrar que amei num passado próximo que parece tão distante
E lembrar que esqueci esse amor (claro, platônico), que conquista!

Vou lembrar que minha sinceridade esse ano não me fez tantos estragos.

Não vou lembrar de metade do que escrevi aqui.
Vou lembrar de um esboço apenas. As emoções maiores são as que prevalecem.
Mas isso num futuro-surpresa, quando eu menos esperar.

Porque hoje, o presente e o passado são borrões indistintos, brilhos indefinidos, clarões ilusórios.
Meus olhos míopes como sempre.
Os óculos foram consertados.

16 dezembro 2010

Relances

É dentro de um carro rodando veloz numa tarde nublada, por uma estrada cinza e verde.
Um sonho, suponho.

É nas mãos e dedos delicados da mulher que dança, magra e de cabelos fartos e claros, um ritmo quebrado.

É esse movimento feliz e torto.
É um sorriso de susto.
Essa é a vida.

É o olhar por trás da cortina
O espião que apaixonou-se e esqueceu a missão

É o click do telefone desligando e a conta sendo rasgada ao meio
cair na cama de roupa e tudo.
Chorar...

É o tempo todo perdido, abanando os braços pros ônibus pararem
Todos os pacotes que vi esquecidos nos assentos desses mesmos ônibus

É a fumaça, a saudade do campo
Da amiga no Sul, do brinquedo da infância.

É a contemplação, o tempo todo
Dos homens e mulheres amados, do mar, e do céu.
Essas coisas sublimes e ilegíveis.

É a fuga do cheiro dormente da manhã
E o terrível fim da tarde que pontua os fracassos

Mais que tudo é o inexplicável movimento de pernas que vão e vão
Como se tivessem para onde, como se fossem firmes o bastante e como se fossem ágeis para a dança.

Esses sou eu nesse exato momento, há meses.