24 abril 2011

Aos Meus Pequenos



Mãos pequenas
Maos de chocolate, mãos de neve
São comoventes os dedos curtos,como sinais
De eternas crianças

Cada passo é um aperto no peito
Ruas escuras, o mundo sabe deles agora
"Deus proteja", "Deus guarde"
Mil recomendações.

Olhinhos tristes, todos tem.
Coincidencia.

Na sua calma e melancolia
Na sua sinceridade e vaidade
No seu atrevimento e doçura
Estão escritos os futuros

Teus, meu.

Não quero ler, porque Deus dá o frio conforme o cobertor não é?
Não quero ler, nem saber, nem supor, muito menos prever.

Quero silenciosamente, longe de suas vistas, inventar preces e preces
A toda natureza da vida, a Deus, e aos homens
Pra todo segundo de vida ser feliz.

Tanta felicidade que nem seja justa.
Infeliz amor até a alma
Cisma o cosmos de ser justo nessa hora
Mais preces, mais preces.

Amo tanto que reverbera no infinito.

22 abril 2011

Estufa

Verbos, conjunções astrais
o céu anda vermelho, amorzinho, é sinal de chuva
Ou não?

Se for me avisa, que corro a tirar minhas roupas do varal
Se for chuva me diz!
Você sabe o pavor que tenho dos trovões e relâmpagos
Som de um, luz de outro

Quero o silêncio escuro, pra lembrar quando eu estava no útero.

Se você for se derramar sobre mim, me avisa antes
Tenho muitos guarda-chuvas em casa, de todas as cores
Eu usarei o azul, porque é a cor que me persegue

Se você, amorzinho, não chover e virar seca, com cactos cenográficos
Me avisa também, porque eu viro retirante, fugindo em busca de água

Me avisa de tudo, porque você sabe que não sou satisfeito com nada
Pra tudo tenho que me preparar.

Substâncias, substantivos
Eu sempre durmo com copo d'água do lado.
Haja o que houver, amorzinho, você sabe
Eu não morro de sede.

13 abril 2011

Andante


Passos apressados
Depois esses pés desabam numa grande e larga cama
lençóis e travesseiros se sacodem com seu corpo

(ele não sabe as horas ainda)

No rádio, "she's leaving home" baixinho
Ele olha pela janela, chove

Ele irá sonhar com carrosséis, sempre sonha
Contar carneirinhos, que pulam e sorriem pra ele

Depois tudo é rotina, o dia, a noite
E a tarde, aquelas horas que ele se descobre vivo, muito vivo
E sozinho.

Violinos anunciam que ele também irá sair de casa, bye-bye.
Ele flutua, não mais passos apressados
Não tem asas, sua maior frustração

Seus dedos riscam o ar, desenhando uma conta matemática
Sua mente longe dali, não calcula mais nada
Nem distâncias, nem medo, não mede nem é medido

Só sorri com toda lucidez que reúne em seu dia cheio de sol e chuva
Não é suficiente, mas ele só precisa de uma pequena e boa lembrança

Ouve os violinos de novo, mas tão longe
salta de sua nuvem e a cidade o engole.

04 abril 2011

Interruptor.


Funciono num circuito:
Sinto, aí escuto uma música, bebo água, paro, me encolho um pouco, e escrevo.

É químico, mecânico, elétrico, esse ato de escrever-dormir-viver amanhã.

Hoje você foi só alguém no meio do jardim
A multidão engolindo teu rosto pálido e brilhante

O que quero mesmo é a liberdade de antes
Pássaro que vive sem dono, sem deus.

Não chorar no ombro de ninguém, mas por isso mesmo, não chorar.
Dormir a vida inteira e acordar pra morrer, feliz.

Se é pra ser azul, que seja um tom tão escuro quanto o começo da noite.
Conforto.
Saber da noite, saber da morte.
Ignorar quem seja o amor, ou seus predicados.
E sem saber da vida, viver.

Te peço, amigo, que apagues a luz dos meus olhos, os ladrões pensarão que a casa está vazia e virão.