31 dezembro 2007

Peço-te...


Aos amigos digo: Fiquem por perto.

Ao futuro: Tenha dó de mim.

Aos impulsos : Quero ter disposição para segui-los

Para a razão : Deixe-me por um minuto, sim?

Para um amor antigo : Não te perdôo pelas lágrimas

Aos que nascem: Boa sorte!

Aos que partem: Vou sentir saudade.

Para os bons: Que a vida lhes faça justiça.

Para os maus: Que a vida lhes faça justiça.

Para a minha cama digo: Me acolhe bem.

Aos meus botões: "Non Je Ne Regret Rien!"

Aos meus pensamentos: Voem!!!

Para meus olhos: Olhem além.

Para os meus pés: Levem-me a águas tranquilas.

Para o meu coração: De novo não, por favor!

Para minha voz: "Canta mais!"

Para outra boca: Beija-me!

Para outra mão: Toca-me!

Para outro coração: Ama-me!


A mim mesmo: Boa sorte!Faz-me justiça! Tem dó de mim! Leva-me a águas tranquilas! Canta mais! Não sentes saudades! Deixa-me por um momento! Me acolhe! Ama-me! Perdoa-me pelas lágrimas! Não te arrependes de nada! Olha além! Olha além! Olha além!!!

25 novembro 2007

Essa Tal Serenidade


De frios na barriga e calafrios vou diferenciando um dia do outro.
Sou tantas sensações que me perco às vezes e me anestesio.
Entra em colapso, sabe?

Colapso, uma palavra que explica tanta coisa.
Caos, outra que esclarece muito também.
Porque quando não entendo NADA , eu grito "é um caos!"
Ou quando não ME entendo nada, eu grito "estou tendo um colapso!"

E me sinto melhor.

Percebi que quando fico feliz eu olho horas pros meus dedos, pensando
E quando sofro, mordo minhas bochechas viciadamente.
Elas estão em carne viva agora.

Tenho umas sutilezas que por enquanto só eu sei.
Alguém um dia se aproximará com interesse suficiente e perceberá também.
Pelo menos eu espero que sim.
Existem tantas pessoas distraídas e despercebidas no mundo.

Uma vez num dos poucos velórios que fui, alguém disse que o morto, ou a morta, estava com uma expressão "serena".
Eu devo estar com essa mesma expressão, só que vivo.
E não sei explicar como é isso.
Só que estou "sereno" mesmo em meio a um naufrágio já citado e a todas as dores que ele provoca.
Será que morri?
Enfim, amanhã posso me decompôr, mas hoje estou sereno.
Talvez seja uma maquilagem (com certeza né?!)

Resumindo:estou sereno no caos, no colapso, no naufrágio.
Sereno como um cadáver bem maquilado.

22 novembro 2007

Se A Vida Fosse Música

Seria de vários tons

Se a vida fosse música começaria num andamento lento e compassado, pra depois atingir um ritmo quase inalcançável de se interpretar.

Se a vida fosse música seria interessante: ela teria refrão, estrofe e final.

Se a vida fosse música ela seria uma valsa, um frevo, um rock ou um samba?

Se a vida fosse música ela seria cheia de silêncios, de pausas intermináveis.

Se a minha vida fosse uma música ela seria um solo de contralto.

Em tom maior, aliás, seria em Dó maior, sem sustenidos.

Se a vida fosse música.. ah, eu a cantaria toda, e teria belas harmonias e nada de dissonâncias!

Nenhuma voz ou instrumento desafinaria.

De tantas semelhanças chego a pensar que a vida é sim, uma música.

Embora a minha pareça um jazz...

19 novembro 2007

Auto-Crítica Em Meio Ao Naufrágio.


Estou aqui diante desta tela branca que aos poucos vai se escurecendo pelas letras e palavras pra escrever algo sobre esses dias que tenho passado e que não poderiam passar em branco.
E por que não poderiam?
E eu penso: porque são dos piores que já vivi.
Porém não quero, por Deus, escrever mais uma lamentação e dor e amargura.
E aqui fica o desafio, porque nunca senti tanta dor e revolta e mágoa e frustração e decepção e tristeza e amargura.
Tenho ouvido muitas palavras de superação, de ânimo, de incentivo e umas broncas também.
Mas como diz a música e uma amiga repete sempre: "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."
Queria ser mais delícia ,mas sou mais dor.
Mas vou parando por aqui, porque minha intenção é apenas falar, e não falar de dor.
Quero falar para, depois, num futuro próximo, eu ler o que consegui escrever em meio a um grande sofrimento.
E na verdade porque tenho falado das pontas visíveis desse iceberg durante todos esses posts, desde que o blog existe.
Agora o iceberg está inteiro à mostra, bati de frente nele e o navio está afundando.
E agora que ele está inteiro não vou falar dele nem do naufrágio.
Vou falar de mim, e tão somente de mim.

O texto pra valer começa aqui:
Achei que 2007 ia ser bom pra mim,por ser um ano ímpar (desenvolvi uma observação supersticiosa que meus ultimos anos relativamente bons foram anos ÍMPARES)
Teoria/superstição derrubada por terra agora.
Mas claro, o ano é um número, um espaço inventado, uma contagem criada para situar os fatos que se desenrolam na nossa vida.
Portanto, estou numa FASE difícil.
Fase esta que estou conhecendo meu mais obscuro lado.
Me disseram que sofro por orgulho ferido e acho que é verdade
Descobri que mais que amor, tenho mágoa.

Eu que perdôo com facilidade, teve uma que não deixei passar.
Lembro de um trecho de um livro de Clarice Lispector que diz "EU TE AMO!_disse ela com ódio ao homem cujo único crime que cometera fora o de não amá-la".

Eu digo "eu te amo" com fúria a algumas pessoas e as vezes à própria vida, mas com mais fúria do que amor.
Com mais mágoa que qualquer outra coisa.
Porque não os perdôo por não me amarem.
Não entendo como se pode NÃO me amar!
E descubro que também sou prepotente e audacioso, não é minha auto-estima que é boa não.

E pra mim no momento, a mágoa e o rancor são montanhas intransponíveis e minha fé menos do que um grão de mostrada porque estou rouco de gritar e elas não se movem.
Portanto leia-se "rancoroso" onde se dizia "amoroso".

Sou um pote de mágoa onde a gota d'água já caiu e provocou uma tempestade.
Alagou minha vida.
Percebi também que minha facilidade de perdoar se dá somente quando quem me ofendeu se arrepende e pede desculpas ou perdão.
Quanto às outras, desejo-lhes a pior morte.

Sim queridos, esse sou eu.
Preciso crescer, ou me tornar como criança para ver o Reino dos Céus.

12 novembro 2007

Iminente


Há um fio de cabelo fora do lugar

Uma alça do vestido está caída no ombro.

Um copo está na ponta da mesa.

Um carro atravessa em velocidade o sinal vermelho.

O portão do cão raivoso está entreaberto.

A chama da vela está próxima da cortina.

Uma criança aproxima-se curiosa do fogão onde uma panela arde.

Outra acha a arma do pai e senta-se para brincar com ela.

Pingos insistem em cair muito perto da tomada.

O suicida sobe na cadeira e prepara o laço.

O dedo está muito perto do prego batido pelo martelo.

O jovem surfista está muito perto dos arrecifes.

A faxineira na ponta dos pés se apóia para limpar a janela de vidro do 20º andar.

O ciclista despreocupado não vê o buraco à sua frente.

A linha com cerol se estende invisível em frente ao motoqueiro sem capacete.

O iogurte foi servido vencido.

O pneu está careca.

O chão está liso e vem vindo um idoso.

O andaime balança demais ao vento.

Eu docemente acredito no amor e espero um abraço.

02 novembro 2007

Psiu!!!!

"Mulher, eu num sei viver nesse mundo não!!!"

Olhei pra trás pra ver quem eram as duas amigas que conversavam em voz (muito) alta dentro do ônibus numa manhã de qualquer dia desses.
Tudo porque a que proferiu essa frase perdeu pela milésima vez o ponto de descer.

_Aff, Evilene(nome fictício) tu passa aqui toda vida e ainda não prestou atenção em que parada desce!!!!
_Pois num é menina, eu sou assim... Ai mulher, eu num sei viver nesse mundo não!

E desceram as duas, rindo, como se soubessem muito bem viver onde quer que fosse.

Essas duas figuras tornaram a viagem muito diferente.

Primeiro porque falavam MUITO alto e incomodavam todos os silenciosos passageiros, alguns se arriscaram a um "pssiiiiiiiiu!" que elas não ouviram, ou fingiram não ouvir.

Segundo porque a conversa delas era algo muito real mas de tão real foi ficando meio estereotipado para nós que fugimos de saber da violência real do mundo.

Falavam do irmão de uma delas que "não anda mais com o Fuinha(nf) porque ele tá jurado de morte e já tentaram matar ele três vezes e se o Vilebaldo(nf) estiver junto..."

_Tu sabe né mulher, ele papoca também!
_Ah é, eles num querem nem saber, atiram em todo mundo que tiver junto!

E dessa conversa iam para outras acerca de alguma "amiga" que pediu um walkman emprestado e não devolveu.

_A Rosilânia (nf) é assim, já perdeu um cd que eu emprestei a ela e nunca comprou outro... nem sei porque emprestei meu walkman!

Enfim, eram mazelas e problemas um atrás do outro, mas narrados com tanta energia e excitação que quase duvidei que aquilo tudo fosse com elas mesmo.

Mas desceram do ônibus e fecharam com chave de ouro suas aparições nas nossas vidas com a frase :
"Mulher eu não sei viver nesse mundo não!"

Acho que aí foi quando o nome diferente dela (os nomes que eu criei são equivalentes aos reais, que de tão complicados não lembro mais) e tudo mais que dela era incompatível com o restante das pessoas, todas muito emproadas e sisudas como se fossem diferentes das alegres companheiras de viagem, tudo isso mudou.

Muita gente naquele ônibus também não sabia viver nesse mundo.
Eu mesmo não sei, como a Evilene.

Talvez porque não saber viver também é sabedoria.
"Perder-se também é caminho" já disse Clarice Lispector.
Enquanto outro diz que "é PRECISO saber viver"
Enfim, escolham suas canções.

Mais tarde, contando a uma amiga esse episódio, ela concordou que também não sabia viver nesse mundo.
Inventamos mil ardis pra perdoarmos nossos próprios erros, maquilamos nossos fracassos para pôr a culpa em outros, damos mais importância a coisas fúteis para não termos que resolver nossos problemas.
Isso é saber viver?

Acho que não, pois achei que eu soubesse viver, mas quando lembro dos dias negros que tenho passado, e como são frequentes, eu penso que talvez eu não saiba mesmo.
Ou isso de repente é a vida.

Enfim, sabendo ou não, existe o aprender.
Como porém o método é totalmente empírico, não acredito em teorias de "faça isso, não faça aquilo"
Acredito que se aprende a viver, vivendo.
E aprender a viver nada tem a ver com felicidade, na minha opinião.

Tem a ver com descer nas paradas certas
Tem a ver com não andar com quem é jurado de morte nem emprestar walkman a quem perde coisas.
Tem a ver com se proteger, com estar no lugar certo na hora certa ou no lugar errado na hora certa.
Tem a ver com não entender esse texto.

Evilene, você que não sabe viver é que é feliz.

22 outubro 2007

Ocaso.




Uma praia tranquila, fim de tarde.
Três amigos sentados na areia, descalços.
Ana, Pedro e Lúcia.
Ana achou que o pôr do sol era a coisa mais linda que ela conhecia.
Lúcia preferia o nascer do sol, que dificilmente via.
Pedro gostava da lua, não se importava muito com os movimentos do sol.

Ana- É que ficam umas cores tão bonitas, e diferentes.
Lúcia - No nascer do sol, as cores são frias, azuis, e minha cor preferida é o azul.
Ana - No ocaso ficam vermelhas, laranja, e ali olha..uma nuvem lilás! Eu adoro lilás.
Pedro - Eu gosto da lua.. cheia, nova, minguante, crescente... Eu queria morar lá.

Riram

Ana- Lá é solitário
Lúcia- Aqui também
Ana-Quem você levaria pra morar com você na Lua, Pedro?
Pedro- Hum... vocês duas..minha mãe, meu pai, meu cachorro, minha irmã, meu irmão...a Luana apaixonada por mim...levaria também a Bia, o André, o tio Vitor..
Ana- Ah, muita gente, lá vai ficar como aqui.
Pedro- É.. é melhor eu ficar aqui. Lá eu moraria na lua mas não a veria.
Lúcia-Tem certas coisas que só nos encantam de longe.
Ana - Tem certas coisas que só nos encantam quando não as temos.

Silêncio

Ana-É melhor ter as coisas ou viver encantada?
Lúcia- Não sei.
Pedro-Humm... difícil dizer.
Ana e Lúcia - É.

Ana começou a mexer na areia,juntando montinhos úmidos, contruindo algo

Pedro-Vai fazer um castelo?
Ana-Não sei, vou moldar a areia e decidir enquanto isso.

Lúcia começou a escrever seu nome na areia, bem desenhado.

Pedro pegou conchinhas e pedrinhas e ficou atirando longe.

Mas as pedrinhas acabaram.

Lúcia derrubou o castelinho que Ana fazia e Ana apagou com o pé o nome de Lúcia na areia.

Riram.

Pedro- Alguém já destruiu seus planos algum dia, Ana?
Ana- Já... Não por maldade, mas por indiferença. Planos que envolvem outra pessoa são destruídos mais cedo ou mais tarde.
Pedro- Você já foi esquecida , Lúcia?
Lúcia- Já. Logo por quem eu sempre desejei que lembrasse de mim pra sempre.
Ana- E você Pedro? Algo em você já acabou?
Pedro- Não. Ainda há um pouco de cada coisa.

Se olharam os três e sorriram.

Pedro- Vocês são felizes?
Ana- Não sei.
Lúcia-Não.
Ana e Lúcia- E você?
Pedro-Acho que sou.
Lúcia-Por quê só eu tenho certeza?

Sorriram.

Ana-O sol se pôs.
Pedro-Não foi tão bonito.
Lúcia-Está escuro.
Ana-E frio.

Noite.

15 outubro 2007

O Sonhador


O que ele mais sabia fazer na vida era sonhar.
Sonhava de dia, iluminado pelo sol e sentindo calor.
Sonhava de noite, no escuro e olhando o céu sem estrelas.
Sonhava no inverno, no verão, em todas as estações.
Até nos anos bissextos sonhava.

E um sonho só, ele sonhava.
Todos os outros desejos não importavam, eram vontades apenas
Mas sonho era um só.
O mesmo, sempre.

Exatamente o único que não se realizava.

E lutava, corria atrás, como diziam nos filmes.
Cuidava dos jardins, regava o sentimento.
Buscava a excelência.
Se fazia merecedor.
E nada ainda.

O Sonhador se angustiou.
O tempo estava passando, as noites, os invernos.
E nada.

O Sonhador sentiu que sonhar era bom quando o sonho se realizava
Dentro de um certo tempo.
Mas quando se passavam anos, décadas... virava pesadelo.

E como esquecer o sonho?
Como desistir?
Ele não sabia, pois sonhar foi tudo que fez a vida toda

O Sonhador quis morrer, levar consigo o sonho.
Mas pra onde? O perseguiria.

Ele nunca deixava de receber golpes, o Sonhador
Todo dia, todo agosto, todo Natal.
Todo pôr-do-sol o Sonhador sofria.

Vendo seu sonho se realizar em outros, a todo momento.
Seu sonho era possível apenas a estranhos, nunca a ele.
E ele sabia que os outros não sonhavam.
Eram vontade, desejos, realizados.

O Sonhador achou a vida cruel, o sonho cruel.
Se sentiu cruel por sonhar.
Mas estava lá ainda, o sonho, implacável
E imutável, pois vinha do coração.

O Sonhador sonhou até o último dia de sua vida.
Passaram-se mais anos, mais décadas, tantos verões.
O Sonhador se curvou e perdeu o brilho dos olhos.
Ficou velho, doente, fraco, amargo, mau e feio.
Definhou.
E morreu o Sonhador, com desejos e vontades realizados.

Mas O Sonho, jamais.

31 agosto 2007

"Alguém Com Os Pés Na Água..."


Depois de muuito tempo sem postar nada, senti a necessidade de vir dizer umas coisas:


1- É para mim, ítem de primeira necessidade, tampões de ouvido, pois certos chamados da vida não devemos ouvir nem atender.

Porque lembro que ia passando e uma voz me chamou: "ei, vem cá!"

Atendi seu chamado e desde então vêm dores, amores, paz, guerra, noites e manhãs. Hoje eu penso que devia ter usado tampões de ouvido.


2- Ainda não sei se o tempo cura alguma coisa, ou se ele apenas modifica, pela sua implacável ação. Cabelos vão caindo e ficando brancos, rugas aparecem onde não existiam, e o sono parece ser menos dispensável, mas aquele amor ou aquela mágoa parecem apenas mudar de forma,mas não somem/curam-se.

Talvez seja essa a diferença entre envelhecer e amadurecer, talvez o amadurecimento cure, o tempo só envelheça.


3- Não ando querendo falar de amor nem de amar, finjo que não me importo, ou faço de conta que não sei o que é isso. "Amor? o quê? como assim??"

Mas sei bem, pobre de mim.

E não querendo falar, falo. Porque é a parte que me cabe nesse latifúndio.


4- E quando penso na solidão ou no desamor, eu imediatamente lembro da prova que não estudei e já é amanhã ou dos meus cds que ainda não arrumei na estante, e ponho as mãos na cabeça e me desespero "meu Deus!!! não estudei pra prova, e agora???????" e continuo o faz-de-conta, de que são esses os problemas que me afligem, quando na verdade, são os únicos que eu tiro de letra.


5- Fui a uma serra muito bonita mas a única coisa que fiz foi tirar fotos e molhar meus pés na água fria e agradável. Como teria sido se eu tivesse me molhado todo e não só os pés? Me vejo sentindo frio e perdendo as lentes de contato. Deve ter um jeito da gente aproveitar a natureza sem ter aborrecimentos.


6- Quem me conhece sabe que eu canto em grupos e corais, e outro dia ouvi uma gravação e minha voz grave e urgente cantava "quem tem amor ausente já viveu a minha dor", e senti TANTO carinho por mim mesmo, aquela voz nunca foi tão minha. Identifiquei cada nota de carinho, calor e tristeza impregnada na minha própria voz grave e urgente.

É, eu sou grave e urgente.


7- Ando sorrindo muito quando estou com meus amigos, mas lógico, sinto falta do sorriso de antes. Hoje é mais uma coisa meio bizarra de sarcasmo e lá no finzinho, uma esperança tímida como a pessoa que foi ao aniversário sem ter sido convidada.


Enfim, de nada mais me adiantam os tampões de ouvido, até porque ainda espero a Vida dizer de novo "vem cá!" porque dessa vez eu direi "nãão, venha cá você!".


02 julho 2007

Dias.


É domingo e eu sou magro, feio e solitário, desligo a tv na tomada e o dia parece ser todo alaranjado de melancolia.

Segunda-feira é dia de juntar cacos, dou sinal para ônibus pararem, procuro um assento como quem procura a salvação e à noite suspiro e adio tudo que pode ser adiado.

Terça-feira eu sorrio mais do que o normal e sem explicações, penso que a vida é bela e sou só eficiência, tiro fotos porque saio bem nelas e durmo sem chorar.

Quarta-feira sou um mistério, falto aula, da cama olho o chão e tudo que há debaixo das coisas, é quando acho que tudo precisa de faxina e ligo pra quem tenho saudade, nesse dia não canto.

Na quinta-feira eu falo verdades, crio contendas, e surge um sorriso meio diabólico no meu rosto, amaldiçôo inimigos e não acredito no amor nem na felicidade. Canto muito, bebo pouca água e de noite na cama choro mais que o normal.

Sexta-feira tenho esperanças, dou conselhos, abraços, visto roupas novas, sou militante, sou mártir e bato no peito e digo "eu amo!", às sextas feiras quero ver o mar e sinto por não ter um grupo de amigos que jogue futebol.

Sábado sou tenso, uma corda afinada em Mi. Me acho muito bonito e tenho pena que ninguém me viu assim. Sábado sou um afogado tentando subir à tona, sou uma rede amparando um suicida, sou um trapézio de circo quebrado. Sou qualquer personagem do cinema, sou Chaplin.

É domingo de novo e dessa vez sou gordo, feio e pareço estar num sonho ou pesadelo. Ouço cirandas e vejo cata-ventos onde não há nada senão um céu azul brilhando em desafio.

Sou sempre uma coisa diferente da outra, desde que nasci nunca me repeti. O que me fez cansar e ter dores nas costas.
Por jamais ter me repetido, espero que um dia desses, seja numa quarta-feira ou sábado, eu seja finalmente feliz.

07 junho 2007

...


Vinícius de Moraes dizia que era preciso um pouquinho de tristeza, senão não se faz um samba.


Quando ela é demais, porém igualmente não se faz o samba.

Não se faz nada, nem uma valsa, nem uma poesia, nem um café.


Eu não escrevo, não como, não durmo.

Mal penso.


E minhas palavras vão terminando precocemente

Não tenho o que falar, só o que sentir.


Me sinto como se...

15 maio 2007

Sobre Sonhar


Ter estrelas na boca
Ter sonhos nos olhos
Ter flores no cabelo
Ser.

Na vida se é?
Na vida se faz?
Na vida se vive?

Quem quer ter sonhos?
E flores?
E estrelas?

Mas temos apenas boca
Olhos
E cabelos

E sonhos?
Temos às vezes
Por isso vivemos
Ou por eles
Definhamos.

De triste e louco
Todo mundo tem um tanto.
Suficiente pra fazer sonhar
E chorar

E amar
A maior loucura que é
O maior sonho
Sonho.

O maior sonho do ser humano
É ser amado?
Se for
Pobre homem
Sonha

Meu maior sonho não sei qual é
Ter um sonho talvez
Não desses de amor
Mas um que se realize

Quero ter estrelas na boca.

18 abril 2007

Uma Canção Pra Ninguém Ouvir.

Existem cenas e cenas.
Umas a gente vê e esquece em seguida, outras nos fazem pensar um pouco.
Algumas nos incomodam.

Como quando eu e amigos caminhavamos num domingo à noite num centro cultural formado entre tantas coisas, por "barzinhos" com música ao vivo.
Quando passávamos por um, minha amiga diz : "meu Deus, que triste!"
Quando olhei na direção que ela apontou, vi um homem.


Ele tinha um violão e tocava muito bem.
Tinha um microfone à sua frente e cantava muito bem também.
À sua frente, dezenas de mesas e cadeiras.
Vazias.
Mesmo assim ele cantava e tocava e exercia seu papel.

Minha amiga teve pena do cantor, contratado pelo bar pra animar seus clientes com música enquanto bebiam ou comiam.
Mas não havia clientes, só garçons pra lá e pra cá, esperando alguém ocupar uma das mesas desertas.

E o cantor, por que apenas ele chamou nossa atenção?
Por acaso os garçons também não estavam sem exercer a sua função de garçon por não ter cliente algum?
O problema é que o outro, cantava!
E nenhum garçon estava servindo o "nada".

Mas o cantor, cantava
Entre uma música e outra, pensei eu, no lugar de aplausos, o silêncio.
Nem sequer críticas ou correções.
Se ele errasse a letra, ninguém perceberia ou se importaria.
Se ele ornamentasse um trecho, mostrasse o que pode fazer com a voz, ninguém admiraria.

Pensei "ele está fazendo por obrigação,por dinheiro, está sendo pago pra cantar , e canta, mesmo sem público."
Se enquanto ele cantava ele estava sendo feliz, não sei.
Mas despertou pena e constrangimento na minha amiga e quem sabe em quem mais.

Quem é capaz de viver por obrigação?
Sem ter platéia, sem ter ninguém percebendo?
Ouvi em algum lugar que o sentido de se ter alguém na vida (casados,por exemplo) é pra se ter uma testemunha da sua existência.
Alguém que você saiba que está lhe acompanhando, lhe dando atenção.
Pra sua vida não passar despercebida.

Minha amiga e eu percebemos o cantor.
Mas não sentamos e viramos platéia.
Continuamos andando.

Penso em quem vive sem testemunhas.
Em quem não tem quem veja seu novo corte de cabelo, em quem não tem com quem compartilhar quando se faz um bom negócio.
Quando se tira 10 com louvor em uma prova.
Em quem não tem a quem mostrar sua roupa nova.
Em quem não tem.

Penso em quem vive pelo pagamento apenas.
Porque tem que viver pra viver.

Depois pensei "coitado dele nada, no final,de qualquer maneira, saiu com o bolso cheio de dinheiro."
Mas qual o mérito de "qualquer maneira"?
Bom, mas talvez seja esse o segredo: não dar a mínima se alguém vai parar pra lhe ver ou escutar.
Fiquei pensando se ele recebeu feliz o pagamento ou se ele se sentiu humilhado.

Mas que foi uma cena triste, foi.

O cantor não podia dizer "só canto quando alguém parar pra me ouvir!"
Nós não podemos dizer "só vivo quando alguém realmente se importar que eu viva ou morra!"
Não, esse direito não há.
Apenas se vive, se canta.
Sem testemunhas nem platéia.

08 março 2007

Suportando Gente Insuportável

Existem inúmeros livros e artigos sobre como lidar com pessoas que você não gosta.
Nunca li nenhum, até porque acho irritante alguém querer ensinar coisas passo a passo, com "dicas"e provérbios com aquele tom determinista e politicamente correto.

Mas um dia desses alguém desabafava comigo que não suportava mais alguns colegas de faculdade, que eram pessoas fúteis, artificiais e hostis, que nunca deixavam ele falar nem o consideravam digno de atenção.
Eu então aconselhei "xingue-os em pensamento, crie apelidos pejorativos e guarde-os para si, depois você ainda vai rir da cara deles por mal saberem como você os despreza."
Meu amigo riu, disse que era uma boa idéia e não sei se ele usou e/ou funcionou.

O fato é que ao lidar com pessoas que você não gosta, você admite duas realidades:
1- você constata que existem pessoas que você não gosta!
2- você constata que não tem escolha a não ser conviver com elas.

Eu, que sempre me vangloriei por ser tolerante e gostar das pessoas em geral, fui vendo com o tempo que não é bem assim. À medida que você envelhece, tem frustrações, é traído, é enganado ou passado pra trás, você começa a perceber que não gosta de algumas pessoas.
E não tem a menor vontade de gostar delas.
Nem obrigação.
Não há mais a tia da escola dizendo "não pooode ficar de mal, todos têm que ser amiguiiiiiinhos", e obrigando você a apertar a mão e abraçar alguém que você há poucos instantes, na sua crueldade inocente de criança, queria que tivesse explodido no ar.

Se não vivêssemos em civilização, nem seguissémos códigos de conduta, poderíamos simplesmente nunca mais pisarmos de volta num lugar onde houvesse alguém que não gostamos, mas as regras sociais não nos permite.

E a lei de Murphy pode colaborar pra que, no seu trabalho por exemplo, a única pessoa que você acha chata ou maldosa seja exatamente a designada a dividir a sala ou a mesa com você.
Ou na faculdade, sobra essa malograda pessoa para você fazer aquele trabalho em dupla.

Na minha opinião, cada pessoa deve agir da maneira que quiser nessas situações. Eu observo que existem inúmeras reações a conviver com quem não se gosta.

Existem os que dizem "não tenho o direito de não gostar de alguém, são todos filhos de Deus como eu, blá blá blá, então vou me trabalhar pra aceitar e gostar dessa pessoa, afinal, ela deve ter coisas maravilhosas pra trocar comigo, que eu possa aprender, tenho certeza que por trás dessa casca repugnante existe uma pessoa afável e cheia de amizade pra dar."

Esse discurso é extremamente comum nos livros de auto-ajuda e religiosos e praticado por seguidores dessa ou daquela tendência.
Conheci alguns que professaram esse discurso, mas geralmente um dia eles explodem e querem agarrar a pessoa pela gola da camisa e dar uns tabefes bem fortes até sair sangue do ser que no fundo seria uma pessoa "afável".

Existem também os que dizem "eu não vou ganhar nada não gostando da pessoa, sei lá se mais adiante vou precisar dela , a vida dá voltas, se um dia eu precisar dela, vou me dar mal se expôr minha antipatia."
Parece um discurso extremamente materialista e egoísta, se está "aturando" alguém visando mais tarde uma recompensa. Quem age assim geralmente desenvolve alguma doença gastro-intestinal ou mesmo nervosa, pois muitas vezes a pessoa nunca precisa da outra e suportou tanta chatice à toa.
O mundo gira tanto que a vida afasta essa pessoa depois e você não teve oportunidade de demonstrar o quanto ela lhe desagradava.

Eu não sei que tipo eu me encaixo na hora de conviver com quem não gosto, mas acho que uma maneira muito honesta é : se houver razão pra você não gostar da pessoa (se ela tiver aprontado alguma e você perdeu a confiança que de repente você já nem tinha nela), não se anule.
Se não consegue perdoar, deixe claro que você não gosta dela, não com grosseria nem ironia nem nada que vá agredir a pessoa, mas um olhar frio, um tom de voz gelado e uma atitude de "que fique bem claro que não gosto de você" pode ser mais saudável pois você não será falso nem permitirá que a pessoa lhe chateie tentando se aproximar demais.
Você a estará respeitando e se respeitando mantendo distância pelo menos psicológica dela, se física não for realmente possível.

Se ela não lhe fez nada, acho que vale a pena dar um crédito, antipatia gratuita pode impedir que você amplie seus horizontes e conheça uma pessoa que lhe surpreenda. Mas claro, essa antipatia também pode servir de alerta, principalmente quando você tem um sexto sentido que meio que lhe mostra quem vai sacanear você no futuro, portanto, ter cuidado também não custa nada.
Você não precisa emprestar seu carro nem é obrigado a fazer um jantar e contar seus segredos a uma pessoa que você não simpatiza.

Ou... você pode agir da maneira que seu coração mandar, afinal quantas vezes a gente está tãããão preocupado em não machucar alguém, mas aí esse alguém vem e passa como um trator em cima de você sem o menor pudor.

Enfim, esse assunto rende muitas outras discussões, possibilidades e pontos de vista.
Mas o mais importante é ser honesto consigo mesmo: se você consegue virar o jogo e gostar de alguém que á primeira vista lhe dá náuseas, ótimo, parabéns, continue assim.
Mas se não, nada de hipocrisia e falsa benevolência, respeite seus limites e humanidades.
Ou pratique boxe e desenhe a cara do seu desafeto no saco antes de dar socos.

08 fevereiro 2007

Its A Long Way

Foi Assim: eu nasci e desde então tem sido tudo muito engraçado e espantoso.
O engraçado é o procurar incessante.
Por tudo, e mal encontrar nada.

Encarar toda uma vida parece humanamente impossível.
A partir de que ponto alguém substitui a gente na caminhada?
Nunca né? então tá.

Aí está a estrada e em algum lugar que eu não lembro eu deixei minha garrafinha de água.
O sol é escaldante e eu ando na estrada sem água.
Vejamos até onde se pode ir assim.

Dos amores que tive e que amei desesperadamente, porque essa é minha maneira de amar, não levei de nenhum sequer um lenço.
Sabe, é que uma bela manhã você está passando manteiga no pão e começa a chorar.
Como se você fosse um fracassado qualquer.

E no rádio a voz entoa a canção: co-mo-se-fo-rabrincadeiraderooooda
E eu grito "memória!!"
E dou muita risada porque apesar de espantosa, a vida é engraçada.
E lágrimas a gente limpa com guardanapo, lenço ou mesmo com a mão.

Numa dessas gargalhadas eu lembro que não esqueci a garrafa com água
Na verdade eu não tinha, morava num deserto.
Só acho, se é que minha opinião vale alguma coisa, que quem não tem água não devia ser posto na estrada.
Mas é, e ainda gritam: "VAI! ANDA!"
Tem grilhões nos pés, chicotadas, e poeira fina no rosto, mas isso nem se percebe, porque a sede faz tudo mais parecer bobagem.

E sabe, uma bela noite você tem um minuto de pânico por achar que a vida não faz sentido.
Mas faz, e seja qual for, não importa.
O que importa é que há a estrada à frente.
Verifique se você terá água suficiente pra levar.

26 janeiro 2007

Duelo


Ela olha o objeto do seu amor deitado ao seu lado.
Ele dorme inocente.
Ela observa o contorno de sua orelha, o brilho do cabelo e percebe a respiração calma.
Inspira, expira..

Ela também, e sorri com docilidade.
Se olha no espelho no canto do quarto
Vê rugas de longe, na penumbra
Ela pode ver que seu olhar é cheio de dores
O sorriso some imediatamente

As rugas, as marcas, a dor no olhar
É culpa dele, que dorme sem culpa
A última palavra que ele lhe disse antes de adormecer foi um "boa noite" resmungado.
Grosseiro.
"Ele me odeia" ela pensa
Mas sabe que nem isso

Ele a despreza, ela sabe.
E ela o ama.
Ela acha.
Na verdade ela não sabe mais de nada.

Ela fecha os olhos, cai uma lágrima
Espremida dos olhos, como suco de limão
E de igual sabor, azedo.
Ela de olhos fechados se pergunta porque está ali
Velando, parada, deitada, amando alguém que a despreza.

Ela se olha com raiva no espelho
"Porque você faz isso a si mesma??"
Pergunta revoltada ao reflexo
A mulher no espelho não responde, chora.
Ela tem pena, muita pena de si mesma

Olha pra ele, que já começa a roncar
Ela o odeia, deseja que ele se engasgue e morra dormindo.
Ela se odeia, pobre mulher
Odeia um dia ter amado.
Odeia não ter sido amada.
Ela não sabe mais a diferença de amor e ódio.
Pois plantou um e colheu outro.

Ela enxuga as lágrimas, está exausta.
Se deita, mas distante dele
Tentando sentir mágoa, um orgulho repentino
Um abismo na cama entre os dois.
Mas não dura muito
Num ato reflexo, o braço dele a procura, e ela percebe.

Humilhada, ela se aproxima
Não sabe dizer não.

Não consegue dizer não.

Num minuto o sol nasce.
Entre tantas coisas, ela perdeu mais uma noite de sono.
E assim a vida passa.


12 janeiro 2007

Antes Que Venham Os Maus Dias


Vai menininho
Vai brincar com teu carrinho novo
Mais tarde virão roubar tua alegria

Vai deitar na tua rede colorida
Descansa, repousa, balança ao vento
Depois tua árvore cairá e não terás mais abrigo.

Vai correndo com tuas moedas
Comprar o tão desejado doce
Porque depois..
Oh menino, como serão amargos os sabores

Aproveita menino, que te sentes protegido pelo teu pai
Um dia tu mesmo terás que te proteger, porque não haverá um pai capaz de tal coisa
E saberás o que é o abandono

Abraça, menino, abraça
Depois te será negado o carinho.

Mas menino, não perdes a esperança
Pode ser que tenhas sorte
E sejas feliz, quem sabe.

E tua vida seja doce e alegre e em paz.
Mas não vives para esperar por isso.

Porque a vida tem um senso de humor terrível
Adora destruir crianças como você
Pede um pão e ela te dá uma serpente.

Vai menino, esquece o que eu te disse
Apenas brinca, pois é tempo de brincar.
E boa sorte pra ti.

03 janeiro 2007

Turbilhão

E o mundo gira e as nuvens passam e eu tenho que andar na sombra porque o sol faz mal pra garganta e tenho que ter voz pra cantar porque quem canta os males espanta e preciso espantar meus males porque ano novo vida nova embora ano passado não tenha sido assim porque sofri muito e me frustrei muito e a culpa de quem é eu não sei nem quero saber porque o ano passou e águas passadas não movem moinhos pelo menos não os meus já que eu quero é ser feliz e saber se é possível alcançar a tal estrela inalcançável enquanto o mundo gira e eu ando na sombra porque o sol derrete meu sorvete de morango que não é meu sabor predileto mas é só o que tinha e também é bom menos pra garganta mas que se dane porque não me privo mais de nenhum prazer na vida pois para privar existe a própria vida e não durmo na hora certa nem chego na hora certa e no pesadelo corro e não saio do lugar e quando acordo sinto alívio mas estou atrasado estou sempre atrasado digo a mim mesmo corre corre vive vive ama ama porque o tempo é curto e a vida é longa mas sem garantia alguma apenas a do prazer do sorvete de morango e de quando eu não me atrasar mais e espantar os males e cantar e cantar e cantar e sorrir pra você quando na verdade sorrio pra mim mesmo porque só eu sei o quanto eu preciso deste sorriso e o que eu preciso eu me dou porque sou generoso para comigo mesmo não sei me negar nada quando vejo meus olhos sedentos aprendi que quem tem sede deve ser saciado e eu tenho sede e fome e algo mais minha satisfação é inalcançável é a própria estrela inalcançável meu amor é a própria razão de viver e meu pensamento é o próprio mundo que gira gira gira gira gira giraaaaaaaaa...