02 novembro 2007

Psiu!!!!

"Mulher, eu num sei viver nesse mundo não!!!"

Olhei pra trás pra ver quem eram as duas amigas que conversavam em voz (muito) alta dentro do ônibus numa manhã de qualquer dia desses.
Tudo porque a que proferiu essa frase perdeu pela milésima vez o ponto de descer.

_Aff, Evilene(nome fictício) tu passa aqui toda vida e ainda não prestou atenção em que parada desce!!!!
_Pois num é menina, eu sou assim... Ai mulher, eu num sei viver nesse mundo não!

E desceram as duas, rindo, como se soubessem muito bem viver onde quer que fosse.

Essas duas figuras tornaram a viagem muito diferente.

Primeiro porque falavam MUITO alto e incomodavam todos os silenciosos passageiros, alguns se arriscaram a um "pssiiiiiiiiu!" que elas não ouviram, ou fingiram não ouvir.

Segundo porque a conversa delas era algo muito real mas de tão real foi ficando meio estereotipado para nós que fugimos de saber da violência real do mundo.

Falavam do irmão de uma delas que "não anda mais com o Fuinha(nf) porque ele tá jurado de morte e já tentaram matar ele três vezes e se o Vilebaldo(nf) estiver junto..."

_Tu sabe né mulher, ele papoca também!
_Ah é, eles num querem nem saber, atiram em todo mundo que tiver junto!

E dessa conversa iam para outras acerca de alguma "amiga" que pediu um walkman emprestado e não devolveu.

_A Rosilânia (nf) é assim, já perdeu um cd que eu emprestei a ela e nunca comprou outro... nem sei porque emprestei meu walkman!

Enfim, eram mazelas e problemas um atrás do outro, mas narrados com tanta energia e excitação que quase duvidei que aquilo tudo fosse com elas mesmo.

Mas desceram do ônibus e fecharam com chave de ouro suas aparições nas nossas vidas com a frase :
"Mulher eu não sei viver nesse mundo não!"

Acho que aí foi quando o nome diferente dela (os nomes que eu criei são equivalentes aos reais, que de tão complicados não lembro mais) e tudo mais que dela era incompatível com o restante das pessoas, todas muito emproadas e sisudas como se fossem diferentes das alegres companheiras de viagem, tudo isso mudou.

Muita gente naquele ônibus também não sabia viver nesse mundo.
Eu mesmo não sei, como a Evilene.

Talvez porque não saber viver também é sabedoria.
"Perder-se também é caminho" já disse Clarice Lispector.
Enquanto outro diz que "é PRECISO saber viver"
Enfim, escolham suas canções.

Mais tarde, contando a uma amiga esse episódio, ela concordou que também não sabia viver nesse mundo.
Inventamos mil ardis pra perdoarmos nossos próprios erros, maquilamos nossos fracassos para pôr a culpa em outros, damos mais importância a coisas fúteis para não termos que resolver nossos problemas.
Isso é saber viver?

Acho que não, pois achei que eu soubesse viver, mas quando lembro dos dias negros que tenho passado, e como são frequentes, eu penso que talvez eu não saiba mesmo.
Ou isso de repente é a vida.

Enfim, sabendo ou não, existe o aprender.
Como porém o método é totalmente empírico, não acredito em teorias de "faça isso, não faça aquilo"
Acredito que se aprende a viver, vivendo.
E aprender a viver nada tem a ver com felicidade, na minha opinião.

Tem a ver com descer nas paradas certas
Tem a ver com não andar com quem é jurado de morte nem emprestar walkman a quem perde coisas.
Tem a ver com se proteger, com estar no lugar certo na hora certa ou no lugar errado na hora certa.
Tem a ver com não entender esse texto.

Evilene, você que não sabe viver é que é feliz.

5 comentários:

Anônimo disse...

querido Carlos, eu gostei mas não entendi.
abraço!!
ah e vou assitr a peça domingo ou amanhã, bó?
nelson rodriges

Arthur Silva disse...

Se viver fosse uma escolha, certamente muitos seres vivos não o seriam, quanto mais nesse planeta. Viver nesse mundo tem sido meramente uma questão de sobrevivência do ego.

A Bela disse...

...aprender a viver não tem nada a ver com felicidade...tem a ver com sobrevivência? É isso? Será mesmo? Pra mim não! Evilene não sabe viver nesse mundo porque não está interessada somente em "sobreviver"... (que é o que a maioria faz)...porque "parece insatisfeita"... porque deseja sim "se feliz". Foi por isso que ESCOLHEU "não andar com quem é jurado de morte nem emprestar walkman a quem perde coisas..." Seu texto me faz concluir, por tanto, que saber viver tem haver com ESCOLHAS CERTAS, que só fazemos quando temos em mente a conquista do nosso bem estar. Chame como quizer...EU CHAMO SIM FELICIDADE!!!

Sra Ivana disse...

Eu entendi o texto, e o aplaudo.
Muito e muito...
Vc disse tudo e não há uma vírgula a acrescentar.
Replay do que comentei antes...
Abraço.

Anônimo disse...

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