06 março 2012

Epílogo


Eu não sou eterno.
Nem sempre terei forças nas pernas
Nem amor no coração

Cada vez mais, cada vez menos
Perdoo, esqueço, concordo

Minhas garrafas de água secam
Meus cântaros, vasos e botijas
Pó, poeira e areia derramada ao vento

Eu sentirei falta de mim mesmo
Do pai, da mãe que sou
Do colo, e da mão bruta que açoita
Sentirei falta da minha língua ferina
E das minhas lágrimas de louco e feio

Sentirei falta do espelho
De quando me vi jovem e assustado em um retrovisor
Do dia em que vi que plantinhas cresciam no jarro abandonado em meu quintal

Sua mão ajeitando meu cabelo na chuva e me dizendo bonito não é eterna
Minha dor não é eterna

Meu discurso vai sendo concluído aos poucos
Mas não é eterno. Um dia acaba.

Cada vez mais continuo, carrego, sigo planos feitos por outrem
Cada vez menos sofro, esse sofrimento que se sabe

Meus brinquedos, meus amigos e meu bolo de aniversário
Sentirei falta de tudo que não é infinito
O que está pra ser eterno, anuncia-se em doses dolorosas
Cada vez menos concordo comigo e com minha lógica
Cada vez mais perdoo e odeio

Sentirei falta do raio de sol que me acorda
Das maldições e das bênçãos
De te ver passando na rua, de não te ver nunca mais

Você não é eterno.