15 agosto 2011

Chuva Ácida



As ruas que ficam úmidas depois da chuva
Aquela chuva fina, que cai com jeito, respeitando o concreto

Sou assim
Resisto a chuvas torrenciais mas não sei lidar com a garoa

Tenho meu modo de fechar os olhos e não ver algumas luzes que ofuscam
E sei a hora de abrir , quando for escuro
Alguns bichos enxergam nas trevas - eu sou um cego em paz.

Alguns dias na vida a gente se levanta robótico da cama e vai cumprir a ordem da vida maquinal
Pois também a gente se deita sem sono, o corpo não se acomoda, apenas as engrenagens estão desgastadas, precisam parar.

E as chuvas só pioram a situação.

Eu (essa palavra minúscula que comanda os nossos amores e ódios, decepções e esperanças) vou dormir mesmo sem sono, sem escuro, sem esperança e sem barulho de chuva.

05 agosto 2011

Vivendo Amando




Viver amando é uma escada para baixo
A gente desce, um degrau de cada vez, e olha pra cima pensando se volta ou continua.

De nada porém, adianta nossa vontade
É um movimento irresistível: uma folha seca no chão não tem a opção de não voar quando sopra um vento forte.

Viver amando é hoje termos mãos hábeis que costuram um difícil retalho.
Sair juntando tudo que combina e o que não combina e abrir mão do gosto e tecer um pano que não será como queríamos.

Viver amando é amanhã o pano ficar incompleto, rasgar, os retalhos acabarem bem na hora que a gente está gostando do desenho.

Viver amando é empurrar nosso amor num balanço de parque
Vai e vem, vai e vem.


O vai é num empurrão nosso, o vem é uma cuidadosa acolhida.
Viver amando é não machucar o nosso amor quando ele volta.

Viver amando é ver nosso amor ir ali
E otimistas, esperarmos sua volta, embora ninguém a tenha garantido.

É numa noite antes de dormir, sorrir com lágrimas brilhando lá por dentro dos olhos, sendo formadas ainda nos canais.
E noutra elas destilarem como rios, molhando rosto, queixo, fazendo os lábios tremerem e a respiração acabar.
Uma lágrima que chega ao queixo é como o final da humanidade.

Viver amando é não viver constante: é a vida subdividida em segundos, um metrônomo impiedoso.
Viver amando é um sacerdócio não-religioso: é carne contra carne, os espíritos adormecidos, ingênuos do terror do suor e do sangue.

Viver é por si só uma tarefa árdua.
Amar é uma distração que toma todo o nosso tempo.

Olhando os pés, as mãos, os olhos do nosso amor
Não vemos quando nós mesmos esmaecemos, o corpo sublimando, ficamos inaudíveis, sem forma, translúcidos
Finalmente nosso vapor se misturando às nuvens


E seguimos, nosso espírito dormente.