25 novembro 2007

Essa Tal Serenidade


De frios na barriga e calafrios vou diferenciando um dia do outro.
Sou tantas sensações que me perco às vezes e me anestesio.
Entra em colapso, sabe?

Colapso, uma palavra que explica tanta coisa.
Caos, outra que esclarece muito também.
Porque quando não entendo NADA , eu grito "é um caos!"
Ou quando não ME entendo nada, eu grito "estou tendo um colapso!"

E me sinto melhor.

Percebi que quando fico feliz eu olho horas pros meus dedos, pensando
E quando sofro, mordo minhas bochechas viciadamente.
Elas estão em carne viva agora.

Tenho umas sutilezas que por enquanto só eu sei.
Alguém um dia se aproximará com interesse suficiente e perceberá também.
Pelo menos eu espero que sim.
Existem tantas pessoas distraídas e despercebidas no mundo.

Uma vez num dos poucos velórios que fui, alguém disse que o morto, ou a morta, estava com uma expressão "serena".
Eu devo estar com essa mesma expressão, só que vivo.
E não sei explicar como é isso.
Só que estou "sereno" mesmo em meio a um naufrágio já citado e a todas as dores que ele provoca.
Será que morri?
Enfim, amanhã posso me decompôr, mas hoje estou sereno.
Talvez seja uma maquilagem (com certeza né?!)

Resumindo:estou sereno no caos, no colapso, no naufrágio.
Sereno como um cadáver bem maquilado.

22 novembro 2007

Se A Vida Fosse Música

Seria de vários tons

Se a vida fosse música começaria num andamento lento e compassado, pra depois atingir um ritmo quase inalcançável de se interpretar.

Se a vida fosse música seria interessante: ela teria refrão, estrofe e final.

Se a vida fosse música ela seria uma valsa, um frevo, um rock ou um samba?

Se a vida fosse música ela seria cheia de silêncios, de pausas intermináveis.

Se a minha vida fosse uma música ela seria um solo de contralto.

Em tom maior, aliás, seria em Dó maior, sem sustenidos.

Se a vida fosse música.. ah, eu a cantaria toda, e teria belas harmonias e nada de dissonâncias!

Nenhuma voz ou instrumento desafinaria.

De tantas semelhanças chego a pensar que a vida é sim, uma música.

Embora a minha pareça um jazz...

19 novembro 2007

Auto-Crítica Em Meio Ao Naufrágio.


Estou aqui diante desta tela branca que aos poucos vai se escurecendo pelas letras e palavras pra escrever algo sobre esses dias que tenho passado e que não poderiam passar em branco.
E por que não poderiam?
E eu penso: porque são dos piores que já vivi.
Porém não quero, por Deus, escrever mais uma lamentação e dor e amargura.
E aqui fica o desafio, porque nunca senti tanta dor e revolta e mágoa e frustração e decepção e tristeza e amargura.
Tenho ouvido muitas palavras de superação, de ânimo, de incentivo e umas broncas também.
Mas como diz a música e uma amiga repete sempre: "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."
Queria ser mais delícia ,mas sou mais dor.
Mas vou parando por aqui, porque minha intenção é apenas falar, e não falar de dor.
Quero falar para, depois, num futuro próximo, eu ler o que consegui escrever em meio a um grande sofrimento.
E na verdade porque tenho falado das pontas visíveis desse iceberg durante todos esses posts, desde que o blog existe.
Agora o iceberg está inteiro à mostra, bati de frente nele e o navio está afundando.
E agora que ele está inteiro não vou falar dele nem do naufrágio.
Vou falar de mim, e tão somente de mim.

O texto pra valer começa aqui:
Achei que 2007 ia ser bom pra mim,por ser um ano ímpar (desenvolvi uma observação supersticiosa que meus ultimos anos relativamente bons foram anos ÍMPARES)
Teoria/superstição derrubada por terra agora.
Mas claro, o ano é um número, um espaço inventado, uma contagem criada para situar os fatos que se desenrolam na nossa vida.
Portanto, estou numa FASE difícil.
Fase esta que estou conhecendo meu mais obscuro lado.
Me disseram que sofro por orgulho ferido e acho que é verdade
Descobri que mais que amor, tenho mágoa.

Eu que perdôo com facilidade, teve uma que não deixei passar.
Lembro de um trecho de um livro de Clarice Lispector que diz "EU TE AMO!_disse ela com ódio ao homem cujo único crime que cometera fora o de não amá-la".

Eu digo "eu te amo" com fúria a algumas pessoas e as vezes à própria vida, mas com mais fúria do que amor.
Com mais mágoa que qualquer outra coisa.
Porque não os perdôo por não me amarem.
Não entendo como se pode NÃO me amar!
E descubro que também sou prepotente e audacioso, não é minha auto-estima que é boa não.

E pra mim no momento, a mágoa e o rancor são montanhas intransponíveis e minha fé menos do que um grão de mostrada porque estou rouco de gritar e elas não se movem.
Portanto leia-se "rancoroso" onde se dizia "amoroso".

Sou um pote de mágoa onde a gota d'água já caiu e provocou uma tempestade.
Alagou minha vida.
Percebi também que minha facilidade de perdoar se dá somente quando quem me ofendeu se arrepende e pede desculpas ou perdão.
Quanto às outras, desejo-lhes a pior morte.

Sim queridos, esse sou eu.
Preciso crescer, ou me tornar como criança para ver o Reino dos Céus.

12 novembro 2007

Iminente


Há um fio de cabelo fora do lugar

Uma alça do vestido está caída no ombro.

Um copo está na ponta da mesa.

Um carro atravessa em velocidade o sinal vermelho.

O portão do cão raivoso está entreaberto.

A chama da vela está próxima da cortina.

Uma criança aproxima-se curiosa do fogão onde uma panela arde.

Outra acha a arma do pai e senta-se para brincar com ela.

Pingos insistem em cair muito perto da tomada.

O suicida sobe na cadeira e prepara o laço.

O dedo está muito perto do prego batido pelo martelo.

O jovem surfista está muito perto dos arrecifes.

A faxineira na ponta dos pés se apóia para limpar a janela de vidro do 20º andar.

O ciclista despreocupado não vê o buraco à sua frente.

A linha com cerol se estende invisível em frente ao motoqueiro sem capacete.

O iogurte foi servido vencido.

O pneu está careca.

O chão está liso e vem vindo um idoso.

O andaime balança demais ao vento.

Eu docemente acredito no amor e espero um abraço.

02 novembro 2007

Psiu!!!!

"Mulher, eu num sei viver nesse mundo não!!!"

Olhei pra trás pra ver quem eram as duas amigas que conversavam em voz (muito) alta dentro do ônibus numa manhã de qualquer dia desses.
Tudo porque a que proferiu essa frase perdeu pela milésima vez o ponto de descer.

_Aff, Evilene(nome fictício) tu passa aqui toda vida e ainda não prestou atenção em que parada desce!!!!
_Pois num é menina, eu sou assim... Ai mulher, eu num sei viver nesse mundo não!

E desceram as duas, rindo, como se soubessem muito bem viver onde quer que fosse.

Essas duas figuras tornaram a viagem muito diferente.

Primeiro porque falavam MUITO alto e incomodavam todos os silenciosos passageiros, alguns se arriscaram a um "pssiiiiiiiiu!" que elas não ouviram, ou fingiram não ouvir.

Segundo porque a conversa delas era algo muito real mas de tão real foi ficando meio estereotipado para nós que fugimos de saber da violência real do mundo.

Falavam do irmão de uma delas que "não anda mais com o Fuinha(nf) porque ele tá jurado de morte e já tentaram matar ele três vezes e se o Vilebaldo(nf) estiver junto..."

_Tu sabe né mulher, ele papoca também!
_Ah é, eles num querem nem saber, atiram em todo mundo que tiver junto!

E dessa conversa iam para outras acerca de alguma "amiga" que pediu um walkman emprestado e não devolveu.

_A Rosilânia (nf) é assim, já perdeu um cd que eu emprestei a ela e nunca comprou outro... nem sei porque emprestei meu walkman!

Enfim, eram mazelas e problemas um atrás do outro, mas narrados com tanta energia e excitação que quase duvidei que aquilo tudo fosse com elas mesmo.

Mas desceram do ônibus e fecharam com chave de ouro suas aparições nas nossas vidas com a frase :
"Mulher eu não sei viver nesse mundo não!"

Acho que aí foi quando o nome diferente dela (os nomes que eu criei são equivalentes aos reais, que de tão complicados não lembro mais) e tudo mais que dela era incompatível com o restante das pessoas, todas muito emproadas e sisudas como se fossem diferentes das alegres companheiras de viagem, tudo isso mudou.

Muita gente naquele ônibus também não sabia viver nesse mundo.
Eu mesmo não sei, como a Evilene.

Talvez porque não saber viver também é sabedoria.
"Perder-se também é caminho" já disse Clarice Lispector.
Enquanto outro diz que "é PRECISO saber viver"
Enfim, escolham suas canções.

Mais tarde, contando a uma amiga esse episódio, ela concordou que também não sabia viver nesse mundo.
Inventamos mil ardis pra perdoarmos nossos próprios erros, maquilamos nossos fracassos para pôr a culpa em outros, damos mais importância a coisas fúteis para não termos que resolver nossos problemas.
Isso é saber viver?

Acho que não, pois achei que eu soubesse viver, mas quando lembro dos dias negros que tenho passado, e como são frequentes, eu penso que talvez eu não saiba mesmo.
Ou isso de repente é a vida.

Enfim, sabendo ou não, existe o aprender.
Como porém o método é totalmente empírico, não acredito em teorias de "faça isso, não faça aquilo"
Acredito que se aprende a viver, vivendo.
E aprender a viver nada tem a ver com felicidade, na minha opinião.

Tem a ver com descer nas paradas certas
Tem a ver com não andar com quem é jurado de morte nem emprestar walkman a quem perde coisas.
Tem a ver com se proteger, com estar no lugar certo na hora certa ou no lugar errado na hora certa.
Tem a ver com não entender esse texto.

Evilene, você que não sabe viver é que é feliz.