09 fevereiro 2012

O Grito

Se meu aprendizado se dá sempre na instância do sofrimento.
Se os dedos apontam contra mim e os olhares, as pupilas enegrecem, trevas que me condenam

Ainda encontro a mínima força retirada sabe-se lá de qual inferno dentro de mim
Para escrever a ninguém, para cantar a todos e para respirar comigo mesmo, meu sopro de vida pesado e insuficiente.

Minhas capacidades remotas e retrógradas de não perdoar, não esquecer - "Deus, me faz nunca esquecer e nunca perdoar, senão morrerei."
Minhas vontades nulas, não levadas em conta em nenhuma existência, nem por mim, nem por Ele, nem por ninguém, nem por nenhuma estrela cadente.

Todas elas, minhas (in)capacidades e vontades gritam, explodem, enfurecem-se, passam de anjos a demônios com a força de toda a pressão que sustenta o céu nos céus, mas que são apenas um estalo.

Mas eu dou voltas em torno de mim mesmo e tenho quatro mil estações porque tenho o direito, já que minha aprendizagem se dá na instância da dor.

E nesse milésimo de segundo que explodo, e não amo a absolutamente ninguém nesse vasto mundo - a verdadeira solidão - quero escutar o que eu posso dizer a mim mesmo, antes que isso passe e eu volte a ser o estúpido e limitado ser que ama, se derrete, se desmancha de uma doçura que apenas quem está distraído vendo estrelas percebe, e é quando a solidão não é a verdadeira, mas a falsa, e sou o mais vulnerável da cadeira alimentar.

Depois de gritar, eu volto à forma elementar de pingo dágua, de grão de areia, de folha seca ao vento, de coração de mãe e todas essas coisas facilmente maltratadas.

Nessa forma cheia de amor eu passo a maior parte do tempo, e eu, lá de dentro de mim, sonho com o momento do grito voltar, e me tornar aquele que não perdoa, que não esquece, que não ama, e que é - ( raios de luz sobre mim vozes angelicais aleluia aleluia finalmente minha hora sim eu finalmente passei a existir ) - verdadeiramente solitário.

Porque dela, não há mais para onde ir.