31 julho 2006

E A Vida Levou...


Caminhando no calçadão da av.Beira Mar, tudo tranquilo, quando de repente uma movimentação ao meu redor e vejo fiscais chegando e apreendendo as mercadorias que os vendedores expunham na calçada... cearenses e os famosos coreanos.
Tudo muito rápido, coisas sendo recolhidas, sacolas e gritos.
Ah, e choro, que esse nunca falta em lugar nenhum.

Mas lembro de uma senhora , daqui mesmo, agarrada com uma pequena bolsa, chorando e falando coisas que eu (ainda bem) não ouvi.
Só sei que a imagem dela era de uma pessoa devastada.

O que fazer se de repente suas mercadorias são apreendidas?
Nem quero saber.
Porque geralmente não temos ação.

A nossa vida é uma constante "batida policial".
No meio dos nossos planos vem um furacão e devasta tudo.
Vem uma tempestade surgida não sei de onde e nos "baratina".
Um pé chuta em cheio nosso castelo de areia.

O pior que não estávamos fazendo nada de mais.
Só vivendo.

Mas amanhã estarão lá de novo os vendedores.
E nós também sempre nos reconstruímos.
Mas não com paz e tranquilidade.
Isso é a primeira coisa que a vida se encarrega de apreender.

17 julho 2006

"O Bom Passado"

Uma das coisas mais interessantes que eu ouvi nos últimos tempos foi sobre a nossa teimosia em ter um "bom passado".
Eu ouvi sobre isso em relação à capacidade de perdoar.

Mas não sei falar disso porque perdôo fácil quando amo.
Aliás, não me conheço quanto ao perdão.
Funciono aleatoriamente: perdôo um e outro não.
Nunca parei pra pensar em como funciona meu sistema "doador de perdão".

Portanto, saber do "bom passado" na verdade pra mim abriu outros horizontes.

Nós temos uma intenção inconsciente ou mesmo consciente de querer que nosso passado seja bom, bonito e agradável.
Como um cartão-postal.

Sim, nós queremos que nosso passado seja um lindo cartão-postal.
Afinal, porque eu ocultei dos meus álbuns as fotos que estou com a boca aberta e torta ou com cara de bobo?

Porque no que representa nosso passado, deve constar o belo, sorrisos, cores vivas, pessoas que amamos.
Mas..
E quando alguém mancha nosso passado, nos magoando, mentindo, nos fazendo sofrer?!
Se hoje alguém nos fere, está marcando nosso passado, pois amanhã mesmo o dia terá ido.

Mas não perdoamos quem estraga nossa paisagem que era tão bonita!
Puxa vida, agora tenho cicatrizes, agora nosso álbum terá fotos tristes.
Ou sejam, mancharam nosso cartão-postal.

Mas quem disse que o passado deve ser um cartão-postal?
Quem disse que precisamos contar uma história cheia de coisas perfeitas?
Porque até nos contos de fadas, existem bruxas, madrastas e dragões que atormentam os príncipes e as donzelas.
Nós mesmos podemos ter estragado o cartão-postal de alguém, e por isso não merecemos perdão?

Até hoje meus maiores problemas vêm da minha dificuldade de desvencilhar do passado.
Em me conformar e aceitar as manchas.
Todo dia me esforço em limpá-las, em deletá-las, mas do meu PASSADO!

Porque perdemos tempo se há o presente para nos preocuparmos?
Uma vez um amigo defendia alguém de erros que tal pessoa cometera no passado.
Eu duro e impiedoso, disse apenas : "Não se deve esquecer o que ele fez no passado, pois não foi outra pessoa, e sim a mesma de hoje. Se foi uma cobra peçonhenta antes, hoje o seu veneno não virou suco de laranja."

Infelizmente eu tinha razão quanto à essa pessoa.
Mas fiquei triste por eu ter sido tão implacável. Hoje, sou mais flexível.

Se vamos perdoar ou não, é escolha nossa, mas entendamos se não é apenas uma vaidade tola que nos faz ter rancor por pessoas que apenas sujaram nosso passado.
Mas ninguém jamais disse que a vida de qualquer pessoa seria só flores.

E se falta motivos pra perdoar, sejamos então egoístas: guardar ódio, mágoa ou rancor causa câncer, gastrite e úlceras. Pelo menos é o que dizem, e deve ser verdade.
No mínimo essas emoções ruins endurecem a face, criam rugas e vincos no canto da boca e olhos.

Ficaremos feios de qualquer maneira na foto.

14 julho 2006

Ainda...


"E meu coração embora finja fazer mil viagens, fica batendo parado naquela estação..."

A letra da música quase me mata de susto. Porque é verdade.


Como demoramos pra superar as coisas!
Na verdade somos um projeto do que gostaríamos de ser.

"Esquecer o ruim e lembrar o bom."

Não funciona assim... pelo menos não sempre.
Pelo menos não comigo.

Ainda posso ver meu pé firmado no lugar onde fui deixado.
"Quando você se perder da sua mãe, fique parado no mesmo lugar que ela voltará e você será achado."
Talvez eu tenha ouvido isso e aplicado em tudo.
Porque não deixo o lugar onde morri!
Ao meu lado, podem haver campos verdejantes e cheios de novas possibilidades.
Eu então vou a esse campo.
Passeio por ele, deslumbrado.. vivendo tudo de novo.

Não. Mentira.
É tudo fingimento, eu na verdade ainda estou lá onde foi meu sacrifício.
Pisei em cola.
Talvez eu seja fascinado pelo meu sangue no chão.

Eu me vejo voando por outras paisagens, cheirando novos perfumes, provando outros sabores.
Porém é tudo minha imaginação.
Porque a realidade é: estou fincado no mesmo lugar.
Mas não pra sempre, creio eu, pois já me movi um bocado.

Mas entendi que por mais que eu dê voltas em novos caminhos, sempre termino na estação de antes.
Esperando, esperando...

É preciso um esforço sobre-humano pra sair de onde você me deixou... eu confundo você com a minha mãe e acho que um dia você voltará para me buscar.

Um dia pisarei de verdade nos campos verdejantes vizinhos, mas confesso que sentirei saudade do meu banquinho de onde eu via os trens passando e você ausente de todos.

10 julho 2006

A Caixa


Segundo a mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher, que , ao receber de Zeus uma caixa que não deveria ser aberta, fez o contrário: abriu-a e dessa caixa saíram todos os males do mundo.
No fundo da caixa estava uma virtude: a esperança.
Mas Pandora fechou a caixa antes que essa pudesse sair.
Portanto, segundo a lenda, a esperança está trancada, inútil dentro de uma caixa.

Nós, pra sobrevivermos, temos que pendurar a esperança no pescoço.
Porque em um determinado momento de nossas vidas, nós abrimos uma caixa.
A nossa "caixa de pandora."
Os males pulam à nossa frente, às vezes de um por um, outras vezes vêm todos de uma vez.
O que nos aflige já saiu de dentro de nós e agora torna-se real, está voando ao nosso redor.
Entrou na nossa órbita.
Nós tentamos resolver nossos problemas. Mas alguns são indissolúveis.

Em que momento abrimos essa caixa?
Quando nos conhecemos.

Quando deixamos de sermos estranhos a nós mesmos e passamos a achar familiar aquele nosso rosto no espelho.
Quando sabemos o que dói, o que fere e machuca.
Quando sabemos o que nos faz felizes.

A dica é não fechar a esperança na caixa.

Sem ela não damos um passo.
Sem ela nunca mais acreditaríamos num sorriso ou em qualquer palavra.
Se ela é burra, é um julgamento à parte.
Estúpida, irracional.. mas necessária.
Esperança é crer no que não depende de nós.

O que nos sustenta é o que nós esperamos.
Percebem?


03 julho 2006

Me Falta Açúcar


Há algo entre o doce e o amargo em mim.
Está indeciso, porque ambos têm fôrça.

É doce a canção quando eu a escuto depois de chorar.
É doce o meu olhar pra coisas belas e tristes que me pertencem.
Ainda é doce meu sorriso quando algo de bom me acontece.

É amargo o gosto em minha boca, após ouvir o "não" nosso de todo dia.
É amarga a minha voz ao desligar o telefone e dizer pra mim mesmo: "mas a vida segue..."
É meio-amargo meu chocolate predileto.

Mas esse é o equilíbrio.
É difícil gostar de um café sem açúcar (eu às vezes gosto)
Como também é complicado suportar derramar muito açúcar numa pequena xícara desse mesmo café.

O amargo demais nos causa repulsa, o doce demais nos causa repúdio.

Mas nem sempre temos a opção de largar a xícara na mesa.
A vida nos faz engolir o café sentindo todo o gosto, nada pode faltar.
Claro, isso quando ele está muito doce ou sem açúcar algum.

Quando o café está delicioso, perfeito, quente e cheiroso, a xícara quebra-se na nossa frente e o líquido corre pelo chão até o ralo mais próximo.

Hoje meu lado amargo escreve esse texto. Ele aliás, é o mais inspirado dos dois, pois a vida o alimenta mais.
Mas há a doçura em mim de escolher essa foto bonita.

Preciso de mais doce.
Mas o que eu tenho ainda está me salvando.