02 janeiro 2010

Coragem



Vamos lá.
Agora somos só você e eu.

A música que escuto é calma e solene, orquestra.
Projeto o pé para frente, vou caminhar.
O pescoço muito comprido se estica ainda mais.
O nariz, ainda que pequeno, está erguido
Os olhos estão duros, frios.
A boca é um botão delicado que esconde grandes dentes.

A música continua, um côro de mil vozes surge grandioso
Cresce como sons de milagres, anjos com trombetas e cordas divinas
O andamento agora rápido da música não influencia a batida do coração.
Está tudo no lugar.

Amores merecidos foram reforçados, mágoas esquecidas e outras nem tanto, viraram saber.
Essas mágoas e amores são responsáveis pela cabeça tão firmemente erguida.
Ando porém, leve, mas certeiro.

A música parece findar, mas sei que nunca acaba, recomeçará a qualquer instante.

Com o coração aberto de louco sonhador e os olhos vivos de escravo liberto, vou imaginando rostos nas sombras e nas luzes: ninguém me pegará desprevenido.

E se eu porém, for pego desprevenido, agradecerei cada instante: prazer e gôzo.

Um agudo de soprano me alerta: olhe para frente.
Ouço os graves e neles deito minha alma, finalmente entro no ritmo e vou indo.

Qualquer desafino, descompasso e silêncio, favor sair do meu caminho.