27 julho 2018

Desejável Despedida.



A trilha sonora da minha loucura
Muito velho, esbranquiçado
Cotovelos e joelhos gastos
Dedos tortos e mãos em garras

Tanta graça, porém
Rodopiando no tecido esvoaçante
Como eu anseio pela minha loucura!
Ao som de Chopin
A loucura trazendo a coragem que nunca houve

De sorrir e chorar, de dançar pela última vez
De torcer um pé ou derrubar um abajur

As torneiras todas abertas, as luzes piscando
E no clímax da melodia, chove.

Os rostos que amei, tão bonitos
Passam por mim em carrossel, bem clichê
Homens tão belos quanto tristes
Mas sorriem pra mim
Uma última vez

Não puderam me amar
E agora já estou louco e dançando
Já não os reconheço bem, mas já me apaixono de novo
E então eu estanco.

Como estanquei há anos diante da implacável certeza:
"nunca serei amado".
E meu último lampejo de razão foi entender que foi justamente para amar e ser amado que eu fui feito.
Mas tive que partir em pedaços e comer em cada café da manhã
toda a minha beleza, minha juventude e todo o carinho que eu tinha pra dar.
Como doía no meu estômago depois...

Nunca estive tão próximo da minha desejável loucura.

A noite chegou e me chama
Então já estou deitado, o tapete parece uma relva, tão macia
Em breve ramos e brotos me abraçarão
E o esquecimento será real para todos nós.

Mas apesar de toda a música e dos sorrisos
Apesar da paz aparente
Apesar da mão piedosa da loucura fechando os olhos do vulto estendido em algum chão
Não houve poesia em momento algum.

Uma vez sonhei que ouvia passarinhos cantando
Alguém passou por mim com ar cruel e proclamou sua missão:
De estilingue em mãos, ia "acabar com aquilo".
Eu apenas disse "mas é tão bonito".