02 julho 2007

Dias.


É domingo e eu sou magro, feio e solitário, desligo a tv na tomada e o dia parece ser todo alaranjado de melancolia.

Segunda-feira é dia de juntar cacos, dou sinal para ônibus pararem, procuro um assento como quem procura a salvação e à noite suspiro e adio tudo que pode ser adiado.

Terça-feira eu sorrio mais do que o normal e sem explicações, penso que a vida é bela e sou só eficiência, tiro fotos porque saio bem nelas e durmo sem chorar.

Quarta-feira sou um mistério, falto aula, da cama olho o chão e tudo que há debaixo das coisas, é quando acho que tudo precisa de faxina e ligo pra quem tenho saudade, nesse dia não canto.

Na quinta-feira eu falo verdades, crio contendas, e surge um sorriso meio diabólico no meu rosto, amaldiçôo inimigos e não acredito no amor nem na felicidade. Canto muito, bebo pouca água e de noite na cama choro mais que o normal.

Sexta-feira tenho esperanças, dou conselhos, abraços, visto roupas novas, sou militante, sou mártir e bato no peito e digo "eu amo!", às sextas feiras quero ver o mar e sinto por não ter um grupo de amigos que jogue futebol.

Sábado sou tenso, uma corda afinada em Mi. Me acho muito bonito e tenho pena que ninguém me viu assim. Sábado sou um afogado tentando subir à tona, sou uma rede amparando um suicida, sou um trapézio de circo quebrado. Sou qualquer personagem do cinema, sou Chaplin.

É domingo de novo e dessa vez sou gordo, feio e pareço estar num sonho ou pesadelo. Ouço cirandas e vejo cata-ventos onde não há nada senão um céu azul brilhando em desafio.

Sou sempre uma coisa diferente da outra, desde que nasci nunca me repeti. O que me fez cansar e ter dores nas costas.
Por jamais ter me repetido, espero que um dia desses, seja numa quarta-feira ou sábado, eu seja finalmente feliz.

7 comentários:

Anônimo disse...

Quando n�o nos repetimos, � sinal de que a vida j� n�o nos pega de surpresa. Ela prega pe�as , mas estamos acostumados. Somos v�rios em um, entrando em cena preparados para todo o enredo que a vida tem escrito para a nossa hist�ria!Mesmo com dores " nas costas", o Carpe Diem ainda � a melhor sa�da!

PS: Amei a parte" uma corda afinada em mi", lembra dores fortes no peito...n�o sei, mas imaginei isso! Parab�ns, desejo fazer o pref�cio do seu futuro livro!

Sra Ivana disse...

Carlos...já disseram e eu digo de novo: vc escreve bem pacas.
Vc concorda comigo se eu disser que não é só talento seu? Que é talento e algo mais?Que a melancolia parece fazer ótimos escritores? Melhores do que se eles fossem alegres?E isso é bom ou é ruim?
***
Obrigada pela visita ao meu blog;-), muito gratificante.

Marjorie Chaves disse...

Somos sujeitos nômades... Cada dia somos um.

Beijos.

Anônimo disse...

humm

Sr. Leandro disse...

Sinceramente, prefiro mudar o mundo ao meu redor que a mim mesmo.
Manter o critério e a sobriedade para escolher o que virá a ser, o que se tornará o mundo.
Cada dia será um dia diferente, e um único homem aproveitará cada um.

Anônimo disse...

O comentário foi meu, leandro viana.

Carlos do Valle disse...

Leandro, mudar o mundo ainda que o meu pequeno que me cerca não é mais uma questão conveniente pra mim.
Descobri que sou mais flexível, e sofro menos assim.
Mas um dia quem sabe, eu talvez volte a "amar e mudar as coisas".