28 setembro 2006

Quase Rotina


Olho pro lado.
Empurro o prato, não tenho fome.
Bebo três copos de água seguidos.
Escuto uma buzina e me irrito.
Lembro que amo.
Quase choro.

Folheio um livro.
Pego uma caneta, ela não tem mais tinta.
Me olho no espelho, sorrio.
Lembro que amo.
Quase grito.

Canto com voz grave.
Depois tento uma nota aguda.
Minha voz treme e falha.
Lembro que amo.
Quase paro.

Alguém me pergunta as horas.
Digo sorrindo que não sei.
O vento derruba um papel da mesa.
Lembro que amo.
Quase durmo.

Empurro as horas.
Olho o papel no chão.
Escuto uma voz aguda.
O vento derruba o copo vazio.
Não tenho espelho.
Não tenho tinta.
Meu sorriso treme e falha.

Lembro que amo.
Quase esqueço.

4 comentários:

Ka disse...

Ai q lindo!! Adorei...alias adoro td q vc escreve :D
Até os textos mais tristes, e como ja te disse, me identifico bastante!! Tá show seu blog!!
Bjos e excelente final de semana!

Marjorie Chaves disse...

Carlos, que belo poema, um dos mais bonitos que você já escreveu! E é nesse "quase" que baseio minha vida... Tudo acontece por um quase.

Bem, dei uma sumida, estava reescrevendo minha história, reciclando meus sentimentos e jogando fora tudo o que não estava bom pra mim.

Boa semana.
Beijos.

Josy Lima disse...

Nossa! Me impressiona o modo como tu brinca com as palavras e como consegue extrair delas sentimentos e pensamentos lindissimos.
Show de bola!

Sou tua fã!

Cacau Freitas disse...

Lindo, meu preferido até agora!