03 outubro 2011

O Mais Forte

Sonhei que eu caminhava por entre ruas brancas, onde tudo era desta cor.
Uma coisa branca, uma luz, um vazio branco enorme
Tomando conta de tudo.
Nada parecido com a paz sonhada buscada e semeada.

Eu andava e nada via na paisagem a não ser o vazio branco.
Nada de vultos familiares, nada de casas, árvores, nada que significasse aconchego e proteção.

Não sentia cansaço, nem fome, nem sede, nem vontade de falar, cantar nem gritar.
Não sentia vontade de correr nem de descansar.
Não sentia amor nem ódio.
Nem alegria nem tristeza.

O inferno é que tudo era branco e vazio.

O que eu sentia era uma sensação nunca experimentada antes, que eu chamei de "Não-Paz"
Tudo maiúsculo porque era uma nova não-paz, diferente das outras que a gente se desespera, etc.

Eu caminhava distâncias imensas e ao mesmo tempo tudo era igual.
Não sentia vontade de continuar caminhando.
mas porque então, eu caminhava?

Eu não sentia saber de nada. nem gosto, nem desgosto.
Era como se o branco fosse preto, escuridão, treva.. mas não era isso.
Isso é familiar, confortável até.

O branco era impiedoso, eu não enxergava porque não havia o que ver.
"Morri" eu pensei no sonho.

Meus amigos, venham se despedir de mim. Mesmo que eu acorde, terei morrido depois de todo esse branco.

Mas não: aquilo não era o céu nem o inferno, e tampouco era o Nada.

Aquilo era, ao contrário, Tudo. Tudo que existe, aquilo era o mundo, as pessoas, os amigos, os familiares, aquilo era a árvore, o carro e a poluição, aquilo era a criança mais doce e era o adulto mais cruel, aquilo era eu e todo o amor, ódio, mágoa, tristeza, esperança e tudo que eu sentia.

A Não-Paz era porque eu não sonhava, eu vivia mesmo aquilo.
Diante de uma tela branca, o vazio branco.
E eu, sem paz, sem vida, em frente.

Jogando nos dedos os últimos resquícios de força e vigor.
Os dedos se salvaram.
A boca verte um líquido preto e amargo.
Os olhos são vidros.
O sangue secou, fugiu como vapor.
O coração encolheu e sumiu.
A alma fez as malas e viajou como uma covarde.
O corpo é um resto facilmente dobrável.
O espírito chora rios e mares salgados e sem peixes.

Um comentário:

Evelyne Freitas disse...

Sei nem o que dizer.