Eu não sou eterno.
Nem sempre terei forças nas pernas
Nem amor no coração
Cada vez mais, cada vez menos
Perdoo, esqueço, concordo
Minhas garrafas de água secam
Meus cântaros, vasos e botijas
Pó, poeira e areia derramada ao vento
Eu sentirei falta de mim mesmo
Do pai, da mãe que sou
Do colo, e da mão bruta que açoita
Sentirei falta da minha língua ferina
E das minhas lágrimas de louco e feio
Sentirei falta do espelho
De quando me vi jovem e assustado em um retrovisor
Do dia em que vi que plantinhas cresciam no jarro abandonado em meu quintal
Sua mão ajeitando meu cabelo na chuva e me dizendo bonito não é eterna
Minha dor não é eterna
Meu discurso vai sendo concluído aos poucos
Mas não é eterno. Um dia acaba.
Cada vez mais continuo, carrego, sigo planos feitos por outrem
Cada vez menos sofro, esse sofrimento que se sabe
Meus brinquedos, meus amigos e meu bolo de aniversário
Sentirei falta de tudo que não é infinito
O que está pra ser eterno, anuncia-se em doses dolorosas
Cada vez menos concordo comigo e com minha lógica
O que está pra ser eterno, anuncia-se em doses dolorosas
Cada vez menos concordo comigo e com minha lógica
Cada vez mais perdoo e odeio
Sentirei falta do raio de sol que me acorda
Das maldições e das bênçãos
De te ver passando na rua, de não te ver nunca mais
Você não é eterno.