15 janeiro 2009

Ímpeto.

Sofro sem viver.

É como aquela criança que não brinca enquanto vê as outras rolando na grama, inventando mil travessuras, caindo e se machucando.
Choram, vêem o sangue no joelho ralado, mas brincaram.
Eu sou a criança que tem os joelhos em carne viva sem ter brincado.

Sou o banhista que nunca foi até o fundo e quando vai, é queimado por uma água-viva.
Volto em pânico. Fui castigado.

Sou quem dormiu de dia e acordou de noite: e agora? dormir mais ou ganhar as ruas?
Sou quem ganhou as ruas e foi assassinado numa esquina escura.

Mas antes de tudo sou aquele único sobrevivente do terremoto
Minha mão aparece sob os escombros.
Transformando meu espanto de viver em força de existir
E sorrindo, o ato mais heróico.


12 janeiro 2009

Um Ausente.


Onde você fica?
No passado ou no presente?
Foi o brilho dos teus olhos que causaram as tormentas dos mares que naveguei.
Naveguei não, fui levado, na frágil balsa da esperança, tocando de vez em quando a água com a ponta dos meus dedos semi-mortos.

Dessa vez meus olhos que brilham, porém.
Em terra firme, fico quieto.
Temo as corujas, que trazem mau agouro, mas há o fascínio .
Adoro corujas.

Onde você fica? No presente?
Não há lugar para você nessa terra firme em que estou pisando, e se tu estivesses aqui eu afundaria num terremoto ou na areia movediça

Tu me fazes perder o chão.

E me dói saber que "tu" já nem és mais uma pessoa, que poderia retroceder na sua crueldade infantil de ter vontades.
Tu és hoje uma sensação, um déjà vu, hoje és para mim a memória de uma fome, de uma sede, de um precisar.

Não sei onde tu estás.
Não sei se quero saber.
Não sei se desejo que voltes ou que desapareças para sempre.
E como tu não és mais pessoa, outros "tu" virão.
Ou já vieram e "tu" já tens outro rosto.

Se eu já não amo a ti, eu amo a necessidade que eu tenho de ti.
Eu amo meu egoísmo de querer um afago, eu amo a mágoa e amo o perdão.
Onde eu estou?

Em algum lugar seguro de terremotos ou minha alma jaz no fundo do mar?
Só tenho agora a memória do brilho dos teus olhos.
E os olhos, meus, brilhando por ti, por mim e por tudo.