12 janeiro 2009

Um Ausente.


Onde você fica?
No passado ou no presente?
Foi o brilho dos teus olhos que causaram as tormentas dos mares que naveguei.
Naveguei não, fui levado, na frágil balsa da esperança, tocando de vez em quando a água com a ponta dos meus dedos semi-mortos.

Dessa vez meus olhos que brilham, porém.
Em terra firme, fico quieto.
Temo as corujas, que trazem mau agouro, mas há o fascínio .
Adoro corujas.

Onde você fica? No presente?
Não há lugar para você nessa terra firme em que estou pisando, e se tu estivesses aqui eu afundaria num terremoto ou na areia movediça

Tu me fazes perder o chão.

E me dói saber que "tu" já nem és mais uma pessoa, que poderia retroceder na sua crueldade infantil de ter vontades.
Tu és hoje uma sensação, um déjà vu, hoje és para mim a memória de uma fome, de uma sede, de um precisar.

Não sei onde tu estás.
Não sei se quero saber.
Não sei se desejo que voltes ou que desapareças para sempre.
E como tu não és mais pessoa, outros "tu" virão.
Ou já vieram e "tu" já tens outro rosto.

Se eu já não amo a ti, eu amo a necessidade que eu tenho de ti.
Eu amo meu egoísmo de querer um afago, eu amo a mágoa e amo o perdão.
Onde eu estou?

Em algum lugar seguro de terremotos ou minha alma jaz no fundo do mar?
Só tenho agora a memória do brilho dos teus olhos.
E os olhos, meus, brilhando por ti, por mim e por tudo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhoso, surpreendente! De grande maturidade explícita na forma que você conduziu as palavras e no sentimento exposto.

Acredito que foi o melhor que já li. A leitura vai fisgando a alma da gente e isso é fruto da sua grande capacidade de fazer uma literatura viva, com dose sutil de uma verdade cruel, porém necessária.

Parabéns!

Déia

Anônimo disse...

Eu adorooooo a maneira como você escreve!:-)
E sim...os ausentes...os que nem são nem deixaram de ser....só atormentam nosso juízo.
Mas que possamos ir embora..........