Nada aconteceu aqui antes.
Nunca o beijo, nunca o gosto.
Nenhum ladrão me esperava atrás da porta e nenhum mistério havia nas gavetas.
Nenhuma testemunha, nenhuma onda batendo nos rochedos.
Nada no pote de café, nenhuma xícara inteira.
Coisa alguma se formava nos canos de esgoto, o ar estava parado e sem vento.
Bandeirolas murchas, flores mortas, bichos plácidos com sede.
Tanta fome e nenhuma mesa posta.
Nenhuma antena no telhado, nenhum telhado.
Estendo roupas no varal como quem cumpre um santo ofício.
Vejo as camisas tão alvas tremulando ao vento, todas minhas e tão estúpidas em sua brancura de prontidão.
Prontas para coisa alguma.
Então um dia eu estava em pé olhando para o nada e definhando por dentro.
Olhei para minha sombra no chão e ela era enorme.
21 setembro 2018
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