18 dezembro 2021

Às Vésperas.



Acordou naquela manhã de um pulo
Sem perceber já estava passando manteiga no pão e olhando para todos os relógios da casa
Como se em um deles houvesse a resposta  que ele queria.

Mas resposta para qual pergunta? 
Ele na verdade queria a pergunta e a resposta, mas lembrou de sua mãe lhe dizendo "não seja tão ambicioso, criatura."

Não terminou nada que começou a fazer: se afastava das louças e cafeteiras olhando tudo pela metade, inacabado.
Assim tudo parecia mais familiar.
Rodopiou pela sala em busca das janelas: não fazia calor, não fazia frio

De repente estancou ciente da razão de toda aquela agitação:

"Estou para acontecer"

A qualquer minuto, eu vou entrar por uma dessas portas.
A qualquer minuto meu vulto me espiará pelas janelas.
A qualquer minuto vou ouvir minha gargalhada, sempre com um soluço de desconsolo no final.

Sentou e esperou:

A qualquer minuto ele irromperia naquela sala gritando, cantando, em silêncio, dançando, rindo e chorando, pedindo para ser contido.
Ele pensou
"Mas não vou me conter: vou me trair"

Sentado esperando. Sentado esperando. De pé esperando. Deitado esperando.

"Estou fazendo esperança" pensou angustiado.

De repente escutou um clarim, olhou para o sol brilhando lá fora.
"Eu devo estar chegando agora."

Quanto tempo ele esteve às vésperas de si mesmo, não sabemos.

Quando ele aconteceu, os relógios pararam, inúteis.
Mas sabemos que no último minuto ele se contemplou chegando e disse:

"Finalmente sou eu."




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