16 setembro 2012

Tristitia.



Sou triste, triste
A dor adquirida, tão minha
Filho indesejado.

O arrependimento de ter parido essa dor aí pelo mundo
Não respeita cercas.

Os cubículos que moramos
Se agigantam como galáxias
Só para nos dar uma amostra da solidão conhecida apenas pelos mistérios.

Sou triste como a mulher de Ló
Estátua eternamente olhando para trás.


Esperando a esperança num canto qualquer da casa:
No caminho entre a sala e o quarto.
O pranto explode como o vômito que não seguramos:
Não respeita cercas.

Quando criança, ouvíamos apitos, estalos, sons místicos
Distração pura para os descalços no caminho
Viramos adultos quando finalmente olhamos para os nossos pés e percebemos que eles sangram?


Sou triste do azul mais puro do céu, aquele do fim da tarde.
Uma tristeza que se derrama todo dia
Que se arrasta, deixando um rastro luminoso e sonoramente penoso.

Minha tristeza não respeita nenhuma cerca que todo dia prego.
Como a mãe que esconde a aberração que pariu.


Não valeu a pena o minuto radiante que amei alguém
Sofro até hoje as consequencias dessa radiação
Quando meu cabelo cai ou fico cego, lembro que foi
Porque, um dia, por um segundo, eu amei loucamente

E a tristeza, que não é apenas uma palavra, traduzível em vários idiomas
É liberta de toda e qualquer alegria.

Se emancipou.
Se fez condição.
E algoz.

Um comentário:

Evelyne Freitas disse...

Nao tem. Mas se Tivesse onde, a gente fazia cota, guardava moeda e até pediria esmola, mAs tava um jeito de comprar um pouco de felicidade.