18 janeiro 2014

Uma Chuva Que Nunca Chega.




Queria uma poesia tão real
Ao ponto de comê-la, tocá-la, chutá-la para debaixo da cama.

Mas tudo que encanta é tão fugidio.
É fumaça, é miragem.

O que fiz com minha criança?
Desapareci, como as gramas verdejantes de minha infância?

Onde está a poesia do que eu observava pela janela, com olhos tão castanhos?
Olhos de poesia, na chuva, na flor, no chão, no céu.

Em poças de água, refletindo um raro arco íris.

Levantei os olhos dez, vinte, trinta anos depois e nada vi.
Continuo levantando os olhos a cada dia, minuto, segundo.
Esperando ver a poesia, a poesia, a poesia.

Um desespero por poesia.

O garoto desaparece, que nem na música, ou por causa da música.
Da poesia.
Ele some e não aparece um substituto.

Não há: se a poesia acaba, não tem depois.

O que você fez a si mesmo?

Isso tudo é tão triste, tão canção. Não há som de chuva para nós, e sentimos falta disso.

A poesia pra mim agora é a memória de um pé de jambo.
O cheiro daquilo. A fruta eu nunca provei e nunca gostei, como o amor.
Todo dia alguém desaparece na poesia, nas brumas do futuro, nem tanto do passado.

Que poesia você tem consigo?
Você acredita em poesia?
De repente, quero saber disso, de você que me lê.

Tenho curiosidade como o garoto que desapareceu na música e nessa poesia.


Nenhum comentário: