09 dezembro 2012

Ninguém Está Feliz.



Aquela mulher, andando na multidão, empurrando um carrinho de bebê: escrava do amor de ser mãe.
Aquela mesa de bar, dois, quatro, dez, quinze amigos: dor, amor, loucura, paixão, lágrimas e gritos.

Dentro das casas, janelas iluminadas. Nas camas, corpos definhando, alucinados devorando travesseiros e o enchimento do colchão, zumbis, achando que aquilo é sonho e esperança.
A quilômetros dali, em outra casa, da mesma cena, cospe-se o algodão e as penas. Só matéria inútil.

Dirigem o carro, como ovelhas indo ao matadouro. Os olhos não piscam, os canais lacrimais secos, o amor endurecendo cada músculo, entupindo cada artéria, envelhecendo e matando neurônios.
Não era isso que esperavam do amor.

Quanto da água que escoa nos ralos dos banhos é água e não lágrimas?
A criança corre pra chorar longe dos pais e os pais infelizes, fracassados e sem amor para dar a eles mesmos ou aos filhos, aproveitam toda aquela água e derramam-se em choro.

Aquela mãe do carrinho de bebê, amou tanto, o menino cresceu, amou tanto, o menino diz "tchau mãe" e é certeza que ela ainda pensa no carrinho e gostaria que ele coubesse lá dentro de novo.
E ela chora e morre porque agora é só uma mulher sem carrinho de bebê.

A cada vez que os velhos vão a enterros, não veem a grama do cemitério da mesma maneira.

Aquela criança que era linda se tornou um adolescente feio e um adulto infeliz.
Como numa olimpíada mil pessoas se jogam de janelas. Mortas antes de pular.

Fazendo sexo, com e sem amor, caem de lado com um suor viscoso e frio, a miserável e animalesca alma após o prazer, um pedaço de carne que existe, anda, fala, come, pensa, e não é amado.

Os loucos gritam com as mãos nos ouvidos. As vozes em suas cabeças não são apenas dentro: orbitam desde seus nascimentos esperando a oportunidade de serem ouvidas.

Todos ternos, doces, calçando as meias dos filhos, dando sopa aos bisavós, limpando lágrimas do rosto querido, oferecendo ombros para chorar, gargalhando alto de cerveja, sensualizando com um cigarro entre os dedos e acreditando que serão amados, depois de cinquenta anos ainda é possível ver os traços de criança no rosto de todo mundo.

O amor não é suficiente: todos levantam da cama e, apaixonados, desiludidos ou abnegados, pisam o chão com  pés que apenas caminham e sonham com o dia que o asfalto vire verdejante grama.

Um comentário:

Arthur Silva disse...

Rs...........