21 fevereiro 2013

No Caminho do Adeus.


Por falar em amor,
A solidão que vem no vento, desenha em nosso corpo de areia fundas marcas que água nenhuma penetra.

Da pele seca e esturricada brota o sal em lágrima e palavras.

Que essa chuva continue fazendo o trabalho que o vento iniciou.

Castigando, doendo, moldando formas duras e escuras que serão vistas apenas à distância, por estar distante de tudo e todos.

Deixe que esses sentimentos envelheçam e se curvem as costas e as mãos pareçam ainda maiores, encarquilhadas, unhas compridas.

Deixe que os olhos se fechem para não ver que não há ninguém por perto.
Nem longe. Não há ninguém. A vida sucumbiu. 
Só os ventos, carregados de areia e eventualmente folhas secas.

E a rara chuva, coroando o fim, a solidão e encobrindo as tais lágrimas.

Deixe que o grito se perca reverberando em rochas imensas e volte como um pombo correio para a garganta inútil de onde saiu.

Leve o amor para passear na floresta e o deixe lá.
Quando ele se virar e lhe procurar, será noite e os lobos famintos até sorrirão, por milagre.


A morte, a viagem, a tal paz, por falar em amor, será apenas um vai e vem. Vaivém.

Não cantarás. Não sonharás. Não beijarás. Não amarás em silêncio. Amargarás.

Deixem que o túmulo se abra sozinho, uma querência última. A última piedade. A última atitude, um último amor, tarde demais.

Amor, amor amor, só se fala nisso ao redor dele. Deixem que os zumbidos cheguem até lá. A sensualidade das sílabas, tudo tão despretencioso.

Nosso vulto, antes com coração batendo, canais lacrimais funcionando, músculos da face que podem sorrir, cérebro fazendo associações, agora uma sombra, um vácuo.

Obra do vento e do amor.

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