Ela usa um vestido de trapos, cor de sujeira.
As pontas da saia são acinzentadas e afiadas
Tem mãos gigantescas com garras curvas e destrutivas
Uma força descomunal nos braços frágeis e ossudos
A despeito dos dentes podres, ela não exala cheiro.
Deitada ela mede quilômetros e geralmente é assim que ela se move:
Ela se arrasta.
E ainda assim, paira.
Sua voz é um fio seco e constante, semelhante ao grito quando se cai em um abismo sem fim.
Ela sorri o tempo inteiro, sua gargalhada é uma tosse cheia de gemidos.
É cega e guiada por radares muito mais sensíveis
Ela vê principalmente o que não existe.
Há um inseto com seu nome, mas ela nada se assemelha a ele:
Não é verde, nem voa
Não é delicada nem pousa em ombros
Não faz sentido na natureza, só serve aos humanos
Ela escraviza.
Não mora em quartos escuros nem em paisagens sombrias
Ela ataca quando a gente sorri
Quando a gente suspira
Quando a gente acredita
Quando a gente segue em frente
A placa dantesca, injustiçada, só estava tentando nos avisar:
Deixai toda ela, se quiseres entrar
E sobreviver a este lugar.
Pois o inferno sem a presença dela
É só um inferno com uma porta de saída.
28 maio 2018
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