01 maio 2018

Insumos

Amigo, teus olhos me sobressaltaram
Para eu correr e lembrar de tirar as torradas que estavam assando no forno
Pois mesmo as torradas não podem queimar demais.
E mesmo o sentimento mais despreocupado não pode ser esquecido na janela
Ou os insetos tomarão conta

E, amigo, os insetos também tem o direito deles
De devorar com ânsia o que é doce
E sem proteção alguma.

Amigo vês que te admiro os pés e os braços
Que não são necessariamente aquilo que te move em essência
Mas porque pisam e abraçam
E há um poder nisso que a ninguém suplanta.

Debaixo das telhas do que desabou
Existem colônias de bichos, coloridos, vagaluminosos
Nunca antes vistos nem devorados nem mesmo nos países onde se comem insetos
Uma surpresa reservada para nós dois, amigo
Um cardápio para nosso paladar incomum
Que nem nós saberemos se o gosto é bom ou ruim

Ah amigo e existe a aurora, aquela luz azulada que depois fica branca
E fica amarela, e laranja e vermelha
E volta a ser azul
Porque azul é a cor das coisas que nunca foram vistas
E das flores nunca colhidas
E dos sonhos nunca realizados
E dos campos que nunca viram pés correndo sobre eles nem gritos de alegria

Mas caminharemos passo a passo, apenas
Segurando nossos ventres com constrangimento e prazer
Sobre o caminho que um de nós escolher
Ou sobre os caminhos que ninguém escolheu
E que não são ladeados por flores azuis
Porque não sabemos se gostamos dessa cor

Contanto que haja tua mão, amigo
Apertando forte ou fraca a minha
Ou até distantes
Não saberemos o gosto de nada
Mas pelo menos para um de nós
Será bom.

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