11 julho 2010

Buscando Água


Quero uma surpresa:
Sendo meu próprio Papai Noel, não espero o Natal
Me dou algo muito parecido com uma flor
Branca, de perfume doce, e cresce nos escuros espaços entre a alma e o corpo.

"Porque Papai Noel não existe, é só um velho com aquela roupa"
Minha sobrinha pequena me disse, satisfeita por não estar sendo enganada desde cedo.
Quase acrescento: "pois alguns nem velhos são"

Eu deveria esperar dezembro pra falar disso, mas nada tem a ver com as festas natalinas.
Tem a ver com o nascimento em pleno julho da minha flor branca, de cacto, em meio a espinhos.
A gente tem que armazenar de alguma forma a água, para quando vier a seca.

Quando vier a realidade nua e crua, a ordem de despejo, o litígio e a morte
Quando quem você ama te esquecer num ponto de táxi qualquer
Quando as vassouras levantarem a tua poeira
E quando pingarem iodo em tua ferida
Temos de ter água para beber

Tanta amargura, e ainda assim existem as flores brancas e as surpresas
E os pequenos e particulares natais acontecem, em um solitário dia de domingo.

Um comentário:

Lia Freitas disse...

Interessante que toda a anatomia seca, espinhosa do cacto é em função para não desperdiçar água. Muitas vezes temos de ser secos, espinhosos, pois como vc mesmo disse "Temos de ter água para beber". E é com essa reservas que nascem em nós lindas flores brancas.
Texto lindo!