Tenho duas coisas a dizer sobre abandono:
Pressinto sua chegada.
Não perdoo quem me abandona.
Pisar em estações, aeroportos.
Não perdoo ter de acenar
E voltar pra o vazio.
Transformo em mágoa para suportar
Enveneno o amor e as boas lembranças
Como um parto onde salvam a mãe e não a criança.
Prefiro o vazio dentro de mim do que nos bancos de praça.
Quantas vezes, em uma vida, somos deixados pra trás?
Que a vida segue, que as pessoas são rios
É fato
Que as pessoas tem asas, e inclusive eu também sou rio e tenho asas.
Mas há um elemento anti-natural em tal naturalidade.
Não, ser abandonado não é humano, é grotesco.
É uma lança fina perfurando a garganta, é gelo sob os pés.
Quem é deixado só seca, só murcha, só definha e morre.
Quando eu ouvir "estou indo" meus ouvidos se fecharão
Vidros dentro de mim se quebrarão, cairei num abismo branco
As lágrimas por dentro, afogando os pulmões, e a secura por fora:
Nos lábios, no rosto, nas mãos.
Todos são cruéis no abandono, todos egoístas, quem vai e quem fica.
Mas apenas um é assassinado e vira casca.
Não há perdão. Não em mim. Não pode haver.
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