28 julho 2013

Crisálida


Tenho duas coisas a dizer sobre abandono:

Pressinto sua chegada.

Não perdoo quem me abandona.

Pisar em estações, aeroportos.
Não perdoo ter de acenar

E voltar pra o vazio.

Transformo em mágoa para suportar

Enveneno o amor e as boas lembranças
Como um parto onde salvam a mãe e não a criança.

Prefiro o vazio dentro de mim do que nos bancos de praça.

Quantas vezes, em uma vida, somos deixados pra trás?

Que a vida segue, que as pessoas são rios

É fato
Que as pessoas tem asas, e inclusive eu também sou rio e tenho asas. 
Mas há um elemento anti-natural em tal naturalidade.

Não, ser abandonado não é humano, é grotesco.
É uma lança fina perfurando a garganta, é gelo sob os pés.

Quem é deixado só seca, só murcha, só definha e morre.

Quando eu ouvir "estou indo" meus ouvidos se fecharão

Vidros dentro de mim se quebrarão, cairei num abismo branco
As lágrimas por dentro, afogando os pulmões, e a secura por fora:

Nos lábios, no rosto, nas mãos.

Todos são cruéis no abandono, todos egoístas, quem vai e quem fica.
Mas apenas um é assassinado e vira casca.

Não há perdão. Não em mim. Não pode haver.


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