16 julho 2013

Momento A Sós, Acontece Uma Vez Na Vida Ou Todo Dia.

Acendeu a luz. Queimada.
Trocou a lâmpada, tudo iluminado.
A cozinha, abre a geladeira, microondas.
Cheiro de comida, barulho de prato. Um só.
Come rápido, olhando pela janela.
Tem agenda, é madrugada, é manhã, é dia.
Roupa, sapato, lava as mãos, papéis numa pasta.
Canetas, anota telefones, manda mensagem no celular, separa dinheiro para pagar contas.
Lembra de buscar filho na creche, cachorro no pet, lembra de passar na oficina.
Apaga as luzes, já clareou de vez. pensa em economia.


E de repente, como um caos, como a explosão de uma estrela: pára e senta na cadeira mais próxima.
Desabam os papéis, a pasta , a bolsa e os planos para hoje.
De repente, não sabe de mais nada.
Não quer continuar.
Não deseja.
Não ama.
Não é triste nem alegre.
Veio o hiato, e ele sempre esperou por esse momento.
Quando tudo parece longe e sem sentido.
Tanto que a epifania se anunciou:
Uma vez no supermercado ele olhou ao redor .
Uma vez no bar ele olhou ao redor.
Uma vez no meio de uma gargalhada, ele olhou ao redor.

E agora, é tudo redor.
É o que está escondido ao redor dele que ele teme e quer se entregar: é uma verdade gelatinosa e pulsante aí.
É o interior de uma ostra em algum mar com alta concentração de sal.
É ali que está.
E ele é matéria tão distante de si mesmo: isso é a morte.

Levanta da cadeira, os braços são asas cortadas pelo dono.
Olha ao redor: não é sua casa, não há cozinha nem quarto.
Olha ao redor: ele é viajante, ele agora abandona coisas, pessoas e a si mesmo.
Olha ao redor: (ele faz todo dia coisas em que não acredita: e elas o fazem feliz: ele faz todo dia coisas em que acredita: elas o esvaziam, mas ele não tem opção: acreditou.)

Não sente a dor. Não escuta os passos. Não percebe a brisa. Não ouve a música.
Então se for assim, está tudo bem.
Não há paz, absolutamente, então ele respira aliviado.

Olha ao redor.

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