24 agosto 2013
Altar ao Desconhecido
Se houvesse alguém aqui
Seria testemunha de um não-crime.
Se você estivesse aqui, veria como as coisas são na penumbra do abajur
Se você ouvisse minha voz quando acordo rouco
Se você e apenas você estivesse aqui, descobriria meu lado doce e afável
Me assistiria, perceberia que eu mudei de um ano pra cá
Se você chegasse de surpresa, veria minha alegria
Me daria explicações, sobre o cheiro na camisa, o baton no colarinho e outras ilusões.
Se você abrisse a porta, escutaria meu grito de pânico
Veria minha silhueta no pôr do sol
Atravessaria janelas, balançaria o gelo no copo
Seria sufocado de amor, de ciúme, de paz
Seria provocado, me odiaria, ia querer me abandonar
Me esquecer.
Se você me perdoasse, se arrependeria
Se você me magoasse, se você me quisesse despido
Se você me rejeitasse, se você acendesse meu cigarro
Se você afastasse o prato de comida que lhe fiz
Se você bebesse meu vinho, afagasse meu cabelo
Se você experimentasse meu sal, meu açúcar
Se você me desse as costas, se você pudesse
Você teria a pior das mortes, você saberia de tudo um pouco
Você nascia de novo, você amava e odiava
Você cantava, você cegava, você dançava na corda bamba
Você teria calafrios, você se sentiria o dono do mundo
Você definhava, você se arrastava na sarjeta, você dava a volta por cima.
Mas você simplesmente não.
E eu, um círculo.
Eu sou uma sombra projetada na parede, em várias dimensões, vivendo e morrendo as minhas vidas e minhas mortes e as tuas também.
Não vieste, e eu vivo pela tua ausência para sempre.
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