12 agosto 2010

Contrações



Como me dói toda a cidade
Com seus prédios e os vidros das janelas
E as luzes
E as pessoas que a gente perde
As pessoas que a gente nunca teve
Todos os buracos vazios e as tampas dos esgotos
Como é solitário voltar pra casa todo dia
Da labuta diária de perdas e danos
De notícias ruins e de gritos ásperos
De gestos de mãos frias e que apontam para outro lado
Quero tanto abraços quanto ficar sozinho
Após a cidade deve haver um grande campo
Para onde se vai quando se quer desaparecer
O amor de anos a fio, acabou
Outros tantos nem começaram
Alguns amigos sumiram
As flores dão espinhos hostis, o pássaro voou
Nenhum animal quer ser domesticado
Não farei mais festas
Não cantarei certas canções
Darei sorrisos repetidos, lembranças de uma infância, talvez
Nada atual
Todo santo dia, nessa cidade, há um pouco de morte
A minha, claro
Um dia mais, outro menos
Mas sempre há o mesmo choro
Que viaja por cada calçada onde ando.
Me segue até em casa, deságua em travesseiros e chuveiros
E renasce cada vez mais forte, com a manhã que cruel
também é promessa de liberdade.
E quem sabe, paz.

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