26 agosto 2010

Trincado

Andávamos de mãos dadas na rua
Suspirávamos a mesma poluição
Molhávamos os pés na mesma água fria que corria de uma fonte
Que só nós sabíamos

Diante da grande onda que nos atingiu, os verbos se tornaram em tempo passado
Não fazemos mais nada como antes
Só vejo agora tua estranheza: outro rosto e outra voz.
Não tens mais mão nem pés e nem suspiras mais.
Teu compasso de robô é assustador agora.

Nos perdemos um do outro num enorme clarão de festa
Eu ainda sorria quando notei tua ausência
Fiquei parado esperando, aprendi assim a não me perder de minha mãe quando pequeno.
Mas os rios correram, os ventos voltaram, os carros quase me atropelam.

Tinha um novo caminho para te fazer surpresa.
Deixei cair com o susto
Virou trapo e sarjeta, perdeu o valor e o ouro.
Se choro? sempre por dentro
Calos e mais calos de abandonos anteriores
Fui deixado em todas as instâncias

Te vi dobrando uma esquina por um segundo, o sol era forte
Tal qual o clarão que nos cingiu em mil partes
Tu sorrias, como se nunca antes tivesse chorado
Olhou em minha direção, não me reconheceu

Eu engoli minha sina, meu desfecho particular e irônico
Suspirei agora singular.
Refiz e refaço os mesmos caminhos, agora sozinho e pisando firme

Lembra da fonte que bebíamos?
Secamos.

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