22 setembro 2010

Aborto


Vim correndo pra cá
Estendi um pano qualquer no chão
Deitei em cima

É só o que preciso
Dormir, ouvir os sonhos, ouvir a vida
Suspender qualquer amor, guardar as poesias e esconder as melodias.

Pisar com um pé só, dormir na corda bamba.
Vou indo morar numa linha imaginária.
Trópico de capricórnio, onde é?

Se eu tivesse outro de mim por dentro
Que me fizesse companhia
E que tivesse na ponta da língua as palavras certas
E pelo menos algumas certezas
Mas não

Nas minhas profundezas há o mesmo material da superfície
Um tal amor íngreme
Que não serve pra nada
Não garante sequer minha sobrevivência

Mas eu nem mais me incomodo com isso
Só escuto . Ouvir a vida.

Minha única tarefa agora é achar uma porta onde eu deixe o meu amor, numa cesta bonita, limpinho e alimentado, para alguém tomar conta, enquanto desapareço pra sempre.

"Faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém" (C. L.)

Um comentário:

Lia Freitas disse...

Me emocionei. Belíssimo!