08 junho 2010

Moto Contínuo

Desde a primeira vez que a engrenagem da vida começou a ranger
O barulho inicialmente era quase insuportável.
Nenhum óleo resolvia.

Hoje os barulhos do trânsito e da cidade são maiores.
Abafam ruídos e as sombras dos prédios ocultam o gesto de carinho.
A entrega de uma flor

Onde caminharemos, sozinhos, se os espaços estão preenchidos?
Porque sempre chegamos depois?

A imagem da formiga que vai decidida voltar ao formigueiro com sua folhinha nas costas, mas a entrada está tapada.
Quem nunca viu a movimentação firme e rápida? Vai e volta, tenta e volta. E agora??
Ela procura outros caminhos. Parece automática.
Mas sabe-se lá as angústias que deve sentir.

Mas falei da formiga pra perguntar:
Que faço com esta folha que eu carregava?
Pesada e verde de esperança?
Não vamos mais devorá-la numa noite quente ou de chuva.
Nada de manhãs confortáveis.
Nada de remédio para a solidão.

Porque andamos sozinhos?

Meu cemitério de folhas e paixões.

De madrugada, quando tudo mais silencia.
Escuto amargo o ranger da engrenagem.
Penso que finalmente vai quebrar.

Mas só os amores morrem.

Um comentário:

Arthur Silva disse...

gostei bastante das analogias e metáforas. seu talento para isso é inegável e irrecusável :-)