06 junho 2010

Paixão Até Ontem.

Minha nova paixão
Tem cor âmbar
Mal vislumbro os contornos
Porque sempre fui de cores fortes e quentes.

Tem pontos e vírgulas
E uma cadência no falar
Com um sopro rouco no fim das frases
Mal escuto as consoantes
Que sempre foram meus obstáculos

Tem nas mãos um suor constante
De gente viva, de emoção, de querer ter
Mal percebo as marcas que deixa em tudo que toca
Porque marcas ainda me assustam

Tem uma casa na floresta
Encantada. Unicórnios vão beber no seu lago particular.
Mal acordo do sonho e já ouço tropéis e clarins.
Sempre volto a dormir até que o próprio sol me acorde.

Tem todas as cicatrizes e sinais que gosto
Tatuagens invisíveis que denunciam belezas e promessas de afago.
Mal descubro as imperfeições na pele, nem nos lábios
Porque não sei diferenciar o perfeito do não perfeito

Tem o cheiro do oceano e do sertão
Dos navios naufragados e do cansaço de léguas ao sol
Mal catalogo as fragâncias porque são todas
E meus rascunhos são feitos em qualquer papel, que acabo perdendo na bagunça que sou.

Tem as horas todas, cada ponteiro do relógio a seu favor
Todas as rotas de caminhões lotados de cargas, apressados em chegar ao destino final.
Tem as areias do tempo e prazos
Mal escuto o tic tac,
Pois minha única opção é o esperar, doce.

Minha paixão tem outra paixão
Arco e flecha, carrossel de um velho parque abandonado
Range, dá choques, descasca a pintura, mas roda.
Tem um olho que não me vê, tem ouvidos surdos para meu registro vocal.
Tem um plano que não me inclui.
Mal engulo o pão de cada dia e o olhar não dirigido.
A ausência sempre presente.
Que mastigo sentindo cada sabor.

Reúne todos os cheiros, as cores claras, as marcas, os parágrafos, os elfos e fadas
Cada consoante difícil de dizer e cada cálculo impossível.
Cada linha do passado e cada pôr de sol de hoje.
Cada gosto de sal de lágrimas e cada uma das cores da minha velha aquarela
Cada futuro coberto de açúcar ou de incertezas.
Mastigo como uma fruta vermelha, cor quente que sempre tive.
É a cor do sumo que escorre pelo meu queixo.

Quando mastigo
E mal engulo.
E me novo apaixono e enquanto não desisto de todo, olho além
E dessa vez não morro.

Um comentário:

Lia Freitas disse...

Lindíssimo, transparente e muito sinestésico! Adorei!