01 junho 2010

Eu, Hoje.


Me derramo como um rio pra dentro de mim mesmo.
Meu carinho é sabor de hortelã
E eu gozo com essa refrescância.

Outrora falei de serenidade
Mas era cheia de mágoas
Agora é que nem chuva de rosas

No dia que me espantei com o azul do céu
Não esperava uma cor tão forte e natural
Sempre penso em tinta.

Evito olhar para a parte de mim que chora
meu rio é caudaloso, e agora inventei de ter peixes
São translúcidos e pequenos, brilham e não tem memória
Nada de monstros marinhos

A parte de mim que chora é a mesma que acorda de manhã atônita:
A vida começou faz tempo!
Só vou usar urucum pra pintar qualquer coisa que eu queira que pareça sangue.
Aprendi com o céu a sorrir, ainda que de um cinza solitário.

Por falar em solidão, navego em meu próprio rio.
Vai dar no mar, cheio de sal e vida.
Olho os remos e penso: - Por favor, me levem de volta!
Mas não escutam, nem meus braços, nem a correnteza.

Na verdade, eu quero ir.

4 comentários:

Arthur Silva disse...

Comentaria mil coisas, mas para que me perder em análises chatas sobre o que já sei, quando posso simplesmente dizê-lo e, assim, entusiasmá-lo: esse foi o melhor e mais bem inspirado de todos os seus textos. Metáforas perfeitas, organização de ideias nota mil! Parabéns!

P.S.: adorei essa parte:

"Outrora falei de serenidade
Mas era cheia de mágoas"

Somos todos a mentira da nossa própria falsidade.

Mario disse...

Assino seu comentário, Arthur.
Acabei de ler todo o bloco de poemas tb. e vi muita coisa boa, muita dor, mas uma esperança sempre pulsante, uma insatisfação em busca de novas construções, que neste poema se realizam em parte.
Certamente, um poema feliz, quiça o mais mesmo. No sentido que a força de viver pulsa forte em busca de realizações.
Há o momento da dúvida,da impossibilidade, que gera a dor, mas sempre com esperança do melhor, destacaria para ilustrar:

"Por falar em solidão, navego em meu próprio rio.
Vai dar no mar, cheio de sal e vida.
Olho os remos e penso: - Por favor, me levem de volta!
Mas não escutam, nem meus braços, nem a correnteza.
Na verdade, eu quero ir."

Anônimo disse...

"No dia que me espantei com o azul do céu
Não esperava uma cor tão forte e natural
Sempre penso em tinta.
(...)meu rio é caudaloso, e agora inventei de ter peixes
(...)Nada de monstros marinhos
(...)A vida começou faz tempo!
(...)Na verdade, eu quero ir."

Tem texto que vc lê que é como um punhado areia nas mãos.
Tem alguns que são como areia molhada, permanecem nas mãos. Sem fenômeno, sem graça! Outros, como esse, são como areia seca, que flui, vaza por entre os dedos, dando aquela sensação contínua gostosa enquanto acontece... Tão bom! Não gosto de texto "areia molhada". "Areia molhada" é lama. Gosto de texto assim :) Sequinho de nada e cheio de tudo!

andre animador disse...

Nossa...eterno seguidor